China admite falhas para conter coronavírus
Pela primeira vez, Pequim reconheceu "insuficiências" em sua resposta ao surto que já matou 490 pessoas
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Pela primeira vez o governo chinês admitiu "insuficiências" em sua resposta ao surto do novo coronavírus, que já matou 490 pessoas no país desde dezembro. O Comitê Permanente de Bureau Político do Partido Comunista pediu melhorias no sistema de reação a emergências diante de "deficiências e dificuldades na resposta à epidemia".
Na noite de anteontem, diante do rápido avanço da doença, a cúpula do partido se reuniu em encontro presidido pelo presidente chinês, Xi Jinping. As deliberações da reunião foram divulgadas pela agência oficial do governo, a Xinhua.
A China vem sendo pressionada internacionalmente a dar respostas ágeis à epidemia e divulgar ações com transparência. O temor é que se repita o que ocorreu em 2002 e 2003, com a epidemia da Síndrome Respiratória Aguda Grave (Sars), quando cerca de 800 pessoas morreram em todo o mundo. Na época, Pequim negou a existência do vírus, mesmo com a propagação pelo país e no exterior.
O comitê do partido exigiu esforços para reprimir mercados ilegais de animais silvestres, para enfrentar o problema na origem. A suspeita é que o novo coronavírus surgiu em um mercado de frutos do mar, em Wuhan, onde também eram vendidos animais silvestres.
Capital da Província de Hubei, Wuhan, de 11 milhões de habitantes, tornou-se o epicentro do surto. O governo suspendeu o transporte de moradores de Wuhan e fechou aeroportos, mas, antes de renunciar ao cargo, o prefeito admitiu que 5 milhões deixaram Wuhan antes da imposição da quarentena.
Segundo a cúpula do Partido Comunista, o surto é um teste para a capacidade de governança da China. "Devemos resumir a experiência e tirar uma lição", informou relatório da reunião do partido. Xi Jinping destacou a necessidade de "medidas resolutivas" para deter o surto e disse que a estabilidade econômica e social do país está em jogo. Também foram pedidos esforços para fortalecer áreas deficientes da saúde pública. Ontem, o governo adotou novas medidas de confinamento, que afetam milhões de pessoas em regiões próximas a Xangai, coração econômico do país.
Porta-voz adjunta do Ministério de Relações Exteriores, Hua Chunying criticou o governo dos Estados Unidos por ter iniciado restrições contra cidadãos chineses por causa do surto, acusando Washington de "criar e espalhar o pânico". Os EUA "foram os primeiros a retirar funcionários do consulado em Wuhan, a mencionar a retirada parcial de funcionários da embaixada e a impor veto à entrada de visitantes chineses."
Segundo ela, a China precisa urgentemente de máscaras de proteção, óculos e luvas. França, Reino Unido, Japão e Coreia do Sul já enviaram material médico. A China também tenta comprar esses itens da Europa.
Morte
O caso de um jovem com deficiência física que morreu após o pai ir para a quarentena motivou protestos na rede social chinesa Weibo, similar ao Twitter. Com lesão cerebral, Yan Cheng, de 17 anos, não falava, andava ou comia sozinho. Ninguém o alimentou após o pai, com febre, ser isolado no dia 22. O chefe do Partido Comunista de Hong'an, onde Yan vivia, foi demitido.