Combates entre Exército e paramilitares deixam cerca de 200 mortos no Sudão

Combates entre Exército e paramilitares deixam cerca de 200 mortos no Sudão

Habitantes a capital do país estão entrincheirados em suas casas, a maioria sem água encanada ou eletricidade.

AFP

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Ao menos 185 pessoas morreram e cerca de 1.800 ficaram feridas nos intensos combates que começaram há três dias entre o Exército e um poderoso grupo paramilitar no Sudão. A informou o chefe da missão da ONU no país, Volker Perthes, na segunda-feira.

Pelo menos dois hospitais da capital foram evacuados "enquanto foguetes e balas crivavam suas paredes", disseram os médicos, que alegam ter ficado sem bolsas de sangue e material para cuidar dos feridos.

Desde o sábado, a cidade está envolta por um cheiro de pólvora. Seus habitantes estão entrincheirados em suas casas, a maioria sem água encanada ou eletricidade.

Nenhuma das partes divulgou baixas. Mais cedo, o sindicato oficial dos médicos havia contabilizado ao menos 97 civis mortos, cerca de metade em Cartum, além de "dezenas" de combatentes. Também registrou 942 feridos.

Na segunda, Estados Unidos e Reino Unido pediram o "fim imediato" da violência no Sudão, como já o tinham feito a Liga Árabe e a União Africana.

No mesmo dia, um comboio diplomático americano foi alvo de tiros, informou o secretário de Estado, Antony Blinken.

"Todos os nossos funcionários estão a salvo e ilesos", disse Blinken, que chamou a ação de "insensata".

O secretário-geral da ONU, António Guterres, também pediu aos dois generais que "parem imediatamente com as hostilidades", que podem ser "devastadoras para o país e toda a região". Um pedido similar foi apresentado pelos chefes da diplomacia do G7, reunidos no Japão.

O conflito no Sudão envolve o comandante do Exército, general Abdel Fatah al Burhan, líder de fato do país, e seu número dois, o general Mohamed Hamdan Daglo, conhecido como "Hemedti", comandante das Forças de Apoio Rápido (FAR).

Em outubro de 2021, eles se juntaram para dar um golpe que tirou os civis do poder.

"A situação é muito instável. É difícil afirmar para onde pende o equilíbrio", afirmou em Cartum o chefe da missão da ONU no país. "Estou em contato constante com os líderes dos dois lados", acrescentou Volker Perthes.

Por causa da situação, a ONU suspendeu as operações no país, disse o porta-voz do secretário-geral, Stéphane Dujarric, ressaltando que a ONU "não vai pedir ao seu pessoal que vá trabalhar quando, claramente, a segurança não está garantida".

À noite, o alto representante da União Europeia para Negócios Estrangeiros e a Política de Segurança, Josep Borrell, informou pelo Twitter que o embaixador do bloco em Cartum, o irlandês Aidan O'Hara, havia sido atacado em casa, mas de acordo com o serviço diplomático da UE, ele estaria bem.

Desde o sábado (14), intensos tiroteios não param e a aviação tem como alvo, no coração de Cartum, o quartel-general das FAR, um grupo de ex-milicianos que participaram da guerra na região de Darfur e posteriormente se tornou o reforço oficial do exército.

"Burhan está bombardeando civis, vamos caçá-lo e levá-lo à Justiça", disse o general Daglo no Twitter.

O Exército, por sua vez, afirmou no Facebook que "o momento da vitória final está muito próximo".

Cortes de eletricidade em hospitais

Nesta segunda-feira, ainda era impossível dizer quem controla o quê.

As FAR alegam ter tomado o aeroporto e entrado no palácio presidencial, o que o exército nega.

Por sua vez, o Exército afirma controlar o quartel-general de seu Estado-Maior, um dos principais complexos do poder em Cartum.

A televisão estatal, depois de dois dias de combates nas suas imediações, transmite agora imagens e declarações do Exército, que afirma ter recuperado terreno em muitos lugares.

Médicos e organizações humanitárias alertaram que em algumas áreas de Cartum a eletricidade e a água estão cortadas e que há interrupções de energia nas salas de cirurgia.

Os pacientes, alguns deles crianças, e suas famílias "não têm comida nem água", declarou uma rede pró-democrática de médicos.

Dois gregos ficaram feridos em Cartum e cerca de 15 pessoas estão escondidas na igreja ortodoxa da cidade, impossibilitadas de sair por causa dos combates, disse o arcebispo metropolitano de Núbia e de todo o Sudão, monsenhor Savvas, que está dentro da igreja.

A ONU, que propôs uma trégua humanitária de algumas horas no domingo, declarou-se "extremamente decepcionada" com o desrespeito dos beligerantes e denunciou nesta segunda-feira a "intensificação dos combates".

Combates em toda a cidade

O Programa Mundial de Alimentos (PMA) suspendeu a ajuda no domingo após a morte de três membros de sua equipe nos combates da província de Darfur (oeste), apesar de mais de um terço dos 45 milhões de sudaneses precisar de ajuda humanitária.

"Esta é a primeira vez na história do Sudão desde sua independência (em 1956) que se observa tal nível de violência no centro de Cartum", declarou à AFP Kholood Khair, fundadora do centro de pesquisas Confluence Advisory.

A capital sudanesa "sempre foi o lugar mais seguro do Sudão", mas agora "há combates por todos os lados, inclusive em áreas densamente povoadas, porque os beligerantes acreditam que um alto número de civis mortos deterá o outro lado", acrescentou.


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