Combates se intensificam no Sudão apesar da trégua que EUA tenta prorrogar

Combates se intensificam no Sudão apesar da trégua que EUA tenta prorrogar

Cessar-fogo de três dias está sendo pouco respeitado na região

AFP

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Os combates entre o exército do Sudão e os paramilitares se intensificaram nesta quinta-feira na capital, Cartum, e na região de Darfur, apesar do cessar-fogo de três dias que termina na sexta-feira e que os Estados Unidos tentam prorrogar.

O chefe da diplomacia americana, Antony Blinken, disse que trabalha "ativamente" para prorrogar o cessar-fogo, que entrou em vigor na terça e foi pouco respeitado. O exército anunciou na quarta-feira à noite que concordou com um diálogo em Juba, capital do Sudão do Sul, com o objetivo de prolongar a trégua com milícias das Forças de Apoio Rápido (FAR).

No entanto, aviões militares cruzaram nesta quinta o céu dos subúrbios ao norte da capital e os combates com metralhadoras e armamento pesado continuaram, informaram testemunhas à AFP. "Ouvi bombardeios intensos do lado de fora da minha casa", disse um morador da capital sudanesa nesta quinta-feira.

O conflito que envolve as tropas do general Abdel Fatah al Burhan - que preside o país - e os paramilitares liderados pelo general Mohamed Hamdan Daglo começou em 15 de abril e, desde então, fracassaram várias tentativas de interrupção dos combates. O general Burhan afirmou que aceita discutir uma prorrogação da trégua. Os paramilitares não comentaram a iniciativa.

De acordo com o Ministério da Saúde do Sudão, ao menos 512 pessoas morreram e 4.193 ficaram feridas em treze dias, mas o balanço real provavelmente é mais elevado. Além da capital, a violência arrasa outras regiões do país, em particular na zona oeste de Darfur.

Na capital desta região, El Geneina, foram registrados saques, assassinatos e incêndios em casas, segundo a ONU. A área foi cenário de uma guerra extremamente violenta na década de 2000. A Organização das Nações Unidas, que interrompeu suas operações após a morte de cinco trabalhadores humanitários, advertiu que não pode mais prestar auxílio em uma área onde "50.000 crianças sofrem de desnutrição grave".

Êxodo maciço

Os combates provocaram uma fuga em massa e agravaram a crise em uma das nações mais pobres do mundo, que tem mais 45 milhões de habitantes.

Mais de 14.000 sudaneses e 2.000 cidadãos de outros países chegaram ao Egito desde o início dos combates, informou o Ministério das Relações Exteriores egípcio nesta quinta-feira.

As pessoas que permanecem no país enfrentam escassez de alimentos, falta d'água e de energia elétrica, além de cortes nas linhas de telefonia e de internet.

De acordo com o sindicato dos médicos, 14 hospitais foram bombardeados e outros 19 foram esvaziados por falta de material e funcionários ou porque os combatentes assumiram o controle de áreas próximas.

Em meio ao cenário de caos, centenas de detentos fugiram de três prisões, incluindo o presídio de segurança máxima de Kober, onde estavam presos ex-funcionários de alto escalão do regime deposto de Omar al Bashir. Entre os foragidos está um integrante do antigo governo que é procurado pelo Tribunal Penal Internacional (TPI), acusado de crimes contra a humanidade.

Al Bashir, 79 anos, também estava na prisão, mas o exército anunciou na quarta-feira que ele foi transferido para um hospital militar antes do início dos combates "devido à sua condição de saúde". A data da transferência não foi divulgada.

Al Bashir foi deposto pelo exército em abril de 2019, após grande pressão popular. Os dois generais que protagonizam o atual conflito acabaram com as expectativas de uma transição para a democracia quando se aliaram, em 2021, para tirar os civis do poder. Porém, Burhan e Daglo entraram eles próprios em conflito por suas divergências sobre a integração dos paramilitares ao exército oficial.


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