Combinação de ibuprofeno e codeína em excesso pode levar à morte

Combinação de ibuprofeno e codeína em excesso pode levar à morte

Comunicado emitido pela Agência Europeia de Medicamentos dispõe sobre possíveis danos graves gastrointestinais e aos rins

AE

Alerta foi feito por agência europeia

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O Comitê de Avaliação de Risco de Farmacovigilância da Agência Europeia de Medicamentos (EMA) alertou para os riscos provocados pelo uso prolongado e em doses superiores à recomendada de medicamentos usados para potencializar alívio de dor que combinam codeína (opioide, um medicamento com efeitos analgésicos e sedativos potentes) e ibuprofeno (anti-inflamatório). Segundo comunicado do órgão emitido na sexta-feira, podem ser graves os danos gastrointestinais e aos rins, podendo levar à morte.

"O comitê revisou vários casos de toxicidade que foram relatados em associação com casos de abuso e dependência, alguns dos quais foram fatais", informaram os especialistas em sua reunião mensal. Quando tomados em doses superiores ao recomendado ou por mais tempo, a codeína com o ibuprofeno podem danificar os rins, impedindo-os de eliminar os ácidos do sangue para a urina (acidose tubular renal). Além disso, o mau funcionamento dos rins pode levar a níveis muito baixos de potássio no sangue (hipocalemia), que por sua vez podem causar sintomas como fraqueza muscular e tonturas.

Desta forma, o comitê recomendou que esses dois novos efeitos adversos sejam adicionados à bula de medicamentos vendidos na União Europeia. "Os pacientes devem ser aconselhados a consultar seu médico, se quiserem usar codeína com ibuprofeno por mais tempo do que o recomendado e/ou em doses superiores às recomendadas."

Detalhamento

O ibuprofeno é um remédio da classe dos anti-inflamatórios não hormonais e é usado comumente para reduzir sintomas decorrentes de inflamação, como dor (principalmente), além de vermelhidão e inchaço. "Por causa dessa ação anti-inflamatória, costuma ser usado para reduzir dor leve a moderada, de modo geral", afirma Pedro Melo Barbosa, neurologista da Saúde Digital do Grupo Fleury. Costuma ser indicado para o tratamento de dores de cabeça, dores musculares, de dente, enxaquecas ou cólicas menstruais e após realização de cirurgias. Já a codeína é um analgésico opioide, que atua mais sobre a percepção da dor no corpo, e não reduz inflamação. Costuma ser usada para tratar dor moderada, quando não decorrente de inflamação aguda - trata-se de pró-fármaco da morfina.

Na Europa existem medicamentos contendo codeína com ibuprofeno que são vendidos sem receita médica. Neste caso, a obrigatoriedade seria uma medida para amenizar o risco. As recomendações, juntamente com as principais mensagens para comunicação sobre os efeitos colaterais, foram enviadas às autoridades nacionais competentes. No Brasil, o ibuprofeno pode ser vendido sem receita; já a codeína precisa de prescrição médica para ser comprada.

Especialista em obesidade, Cid Pitombo alerta que o ibuprofeno é um anti-inflamatório e pode trazer consequências importantes para o sistema renal, hepático e gástrico. "Em portadores de obesidade, por exemplo, todos os órgãos envolvidos nesses aparelhos já trabalham no limite e são afetados o tempo todo por substâncias produzidas pelas células gordurosas. Usar anti-inflamatório de forma prolongada ou excessiva potencializa esses efeitos maléficos", orienta o cirurgião bariátrico.

Para Barbosa, ambos devem ser usados para tratar dor por tempo determinado. "O uso prolongado de anti-inflamatórios como o ibuprofeno pode trazer alguns efeitos colaterais sérios, como insuficiência renal, gastrite, sangramento digestivo, entre outros. Já a codeína, pode causar dependência química; o risco é baixo, mas não é desprezível e aumenta com a dose e com o uso prolongado", acrescenta. "Mecanismos de controle de dispensação e acompanhamento médico periódico são fundamentais para uso adequado, já que são remédios com potencial alto de abuso considerando a prevalência de dor na população geral e a facilidade de obtenção."

Para Ubiracir Lima, integrante do Conselho Federal de Química (CFQ), trata-se de um alerta importante. A cautela inicial, validada por um profissional médico, deverá ser emitida para as dosagens e para uso contínuo. "O monitoramento destes pacientes deverá ser mais frequente para tomadas de decisões específicas, principalmente para observações para sinais de danos renais e gastrointestinais. Mas, sempre, antes da utilização de medicamentos, especialmente em casos de utilizações complementares, que sejam lidas as bulas. E claro, sempre ter indicação e acompanhamento de profissional médico."

Anvisa

Lima acrescenta o exemplo das nitrosaminas, "possível contaminante que apresenta certa toxicidade, e presente em alguns medicamentos da classe das "sartanas" (valsartana e outros) quando de uso prolongado". "Acredito que, mediante este alerta, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) deverá estudar medidas preventivas para a associação do ibuprofeno com a codeína", avalia. Procurada ontem, a agência reguladora ainda não se posicionou.


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