Concentração de gases bate recorde; EUA e China lançam acordo

Concentração de gases bate recorde; EUA e China lançam acordo

Preocupação ambiental também levou Estados e China a ratificar um acordo climático, às vésperas da cúpula da ONU

AE

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A concentração de gases de efeito estufa na atmosfera, responsável pelas mudanças climáticas, atingiu níveis recordes em 2022, uma tendência crescente que não parece se reverter, alertou nesta quarta-feira a Organização das Nações Unidas (ONU). No ano passado, as concentrações médias globais de dióxido de carbono (CO2), o principal gás de efeito estufa, ultrapassaram pela primeira vez em 50% os índices pré-industriais.

A preocupação ambiental também levou Estados e China a ratificar um acordo climático, às vésperas da cúpula da ONU. No caso do CO2, a concentração só pode ser comparada ao registrado há 3 a 5 milhões de anos, quando a temperatura era de 2 a 3 graus mais alta e o nível do mar estava entre 10 e 20 metros mais elevado. Tudo indica que essa tendência continuou este ano e deve persistir no futuro próximo, de acordo com novos dados divulgados pela Organização Meteorológica Mundial (OMM), braço científico das Nações Unidas.

O boletim anual de gases de efeito estufa tem tom de preocupação. As concentrações de metano e os níveis de óxido de nitrogênio também atingiram níveis recordes em 2022 e registraram o maior aumento anual já observado. "Apesar de décadas de advertências da comunidade científica (...), continuamos na direção errada", afirmou o secretário-geral da OMM, Petteri Taalas.

O objetivo do Acordo de Paris, de 2015, o mais ambicioso até hoje, é limitar o aquecimento global a menos de 2 graus Celsius desde a era pré-industrial, e a 1,5ºC, se possível. Segundo um relatório anterior da ONU, a temperatura média do planeta em 2022 já estava 1,15ºC acima da era pré-industrial. "O nível atual de concentrações de gases de efeito estufa nos leva a um aumento das temperaturas muito acima das metas do Acordo de Paris", alertou Taalas.

Em paralelo a esse aumento de temperaturas, haverá mais fenômenos climáticos extremos, como ondas de calor, inundações, derretimento de glaciares e elevação e acidificação dos oceanos, explicou o meteorologista finlandês que liderou a OMM nos últimos oito anos e que passará o cargo para sua sucessora nas próximas semanas, a argentina Celeste Saulo. "As condições meteorológicas se tornarão mais extremas e testemunharemos um forte aumento nos custos socioeconômicos e ambientais", acrescentou o responsável da OMM.

O dióxido de carbono, responsável por cerca de 64% do efeito de aquecimento do clima, provém principalmente da queima de materiais fósseis e da produção de cimento, segundo a OMM. Levando em consideração a vida útil do CO2, o aquecimento já observado persistirá por várias décadas, mesmo que as emissões líquidas sejam reduzidas rapidamente a zero. "Não há uma varinha mágica para remover o excesso de dióxido de carbono", disse Taalas.

Os Estados Unidos e a China, que respondem por 38% do efeito estufa no mundo, concordaram em enfrentar conjuntamente o aquecimento global, aumentando a energia eólica, solar e outras energias renováveis, com o objetivo de substituir os combustíveis fósseis, conforme um informe oficial do Departamento de Estado americano antes do encontro entre os presidentes Joe Biden e Xi Jinping.

As declarações de cooperação divulgadas separadamente pelos Estados Unidos e pela China não incluem uma promessa da China de eliminar gradualmente seu pesado uso de carvão, o combustível fóssil mais sujo, nem de parar de liberar e construir novas usinas a carvão. Este tem sido um ponto de discórdia para os Estados Unidos em meses de discussões com Pequim sobre as mudanças climáticas.

Mas ambos os países concordaram em "dedicar esforços para triplicar a capacidade de energia renovável no mundo todo até 2030". Esse crescimento deverá atingir níveis elevados o suficiente "para acelerar a substituição da produção de carvão, petróleo e gás", afirma o acordo. Ambos os países preveem "uma redução absoluta significativa das emissões do setor energético" nesta década, afirma o acordo. Esta parece ser a primeira vez que a China concorda em reduzir as emissões em qualquer setor de sua economia.

O acordo chega duas semanas antes de representantes de quase 200 países se reunirem em Dubai como parte das negociações climáticas das Nações Unidas conhecidas como COP 28. Os Estados Unidos e a China têm um papel descomunal a desempenhar enquanto as nações debatem se vão eliminar gradualmente os combustíveis fósseis.

No início deste mês, John Kerry, enviado climático de Biden, reuniu-se com seu homólogo chinês, Xie Zhenhua, em Sunnylands, na Califórnia, para lançar as bases para o acordo. "Os Estados Unidos e a China reconhecem que a crise climática tem afetado cada vez mais países no mundo todo", afirma a Declaração de Sunnylands. "Ambos os países sublinham a importância da COP 28 na resposta à crise climática durante esta década crucial e mais além" e se comprometem "a enfrentar um dos maiores desafios do nosso tempo para as gerações presentes e futuras da humanidade".

Como parte do acordo, a China anuiu em estabelecer metas de redução para todas as emissões de gases do efeito de estufa. Isso é significativo porque o atual objetivo climático chinês considera só o dióxido de carbono, deixando de fora o metano, o óxido nitroso e outros gases que atuam como um cobertor em torno do planeta.


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