Conselho aprova as principais medidas da reforma da Previdência de Macron

Conselho aprova as principais medidas da reforma da Previdência de Macron

Texto aumenta idade de aposentadoria de 62 para 64 anos até 2023

AFP

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O Conselho Constitucional da França aprovou nesta sexta-feira as principais medidas da controversa reforma da Previdência de Macron, como o aumento da idade de aposentadoria de 62 para 64 anos até 2030, e censurou alguns pontos menos polêmicos.

A instituição garante da Constituição também rejeitou um pedido da oposição de esquerda, que solicitava um referendo para limitar a idade da reforma a 62 anos, em meio ao conflito social repleto de protestos massivos.

A decisão provocou uma resposta imediata de repúdio nas ruas após meses de protestos. Os sindicatos franceses convocaram uma "mobilização excepcional" em 1º de maio contra a reforma.

As centrais sindicais, que se recusaram a se reunir com Macron e seu governo antes desta data, pediram, ainda, por meio de nota conjunta, que o presidente "não promulgue a lei, única maneira de acalmar a ira expressa no país".

A decisão do Conselho já havia sido recebida com vaias pelos manifestantes reunidos na praça da Prefeitura de Paris. Pouco antes, eles repetiam em coro: "Constitucional ou não, não queremos esta lei", "Vamos continuar até sua retirada" e "Fora Macron", constatou a AFP.

Medidas

O Conselho Constitucional validou o adiamento da idade da aposentadoria de 62 para 64 anos até 2030, apesar do repúdio constante, desde janeiro, dos sindicatos e da maioria dos franceses, segundo pesquisas de opinião.

Os nove "sábios" da instituição rejeitaram, ainda, um pedido da oposição de esquerda para convocar um referendo para limitar a idade da aposentadoria a 62 anos, uma medida que poderia ter reconduzido o conflito social.

Embora o Conselho tenha anulado trechos da reforma, como a obrigação para que grandes empresas comuniquem quantos funcionários mais velhos têm contratados, a validação dos pontos-chave da lei reconforta o governo.

"Há censura, sim, em certos pontos (...) mas não no dos 64 anos, então não vai adiantar para resolver o conflito social", havia alertado na manhã desta sexta o líder do sindicato moderado CFDT, Laurent Berger.

"A luta continua"

Muitos franceses e especialistas antecipavam uma decisão parcialmente favorável do Conselho Constitucional. A instituição sempre teve tendência a "não bloquear as grandes reformas sociais", explicou Lauréline Fontaine, professora de direito constitucional.

No entanto, o repúdio ao Referendo de Iniciativa Compartilhada (RIP, na sigla em francês) caiu como uma ducha de água fria para aqueles contrários à reforma, embora a oposição de esquerda, que apresentou a proposta, já esperasse por isso.

Na quinta-feira, apresentou um segundo pedido de RIP com uma formulação diferente e, em sua avaliação, com mais chances de prosperar. O Conselho Constitucional vai informar sua decisão sobre esta proposta em 3 de maio, informou em um comunicado.

A tensão permanece nas ruas. Desde 7 de março, quando entre 1,2 milhão e 3,5 milhões de pessoas se manifestaram, segundo as autoridades e a CGT, respectivamente, as marchas são menos numerosas, mas a intensidade ameaça aumentar.

Na manhã desta sexta voltaram a ocorrer bloqueios nos acessos a Rouen (noroeste) e em uma plataforma de alimentos em Estrasburgo (nordeste).

Os sindicatos já tinham avisado que, independentemente da decisão, o conflito social não acabaria.

"A luta continua", disse o líder esquerdista Jean-Luc Mélenchon. "O destino político da reforma da Previdência não está selado", assegurou, por sua vez, a ultradireitista Marine Le Pen, a quem a crise atual beneficia nas pesquisas.

Nova etapa do conflito

Horas antes da divulgação da decisão, Emmanuel Macron propôs aos sindicatos franceses uma reunião na terça-feira, informou a Presidência, como "o início de um ciclo (...) que continuará nas próximas semanas".

O presidente é acusado de ter criado uma "crise democrática" ao decidir, em 16 de março, adotar sua reforma por decreto, diante do temor de perder a votação no Parlamento, onde carece de maioria absoluta desde junho.

Com esta lei, com a qual o governo alega tentar evitar um futuro déficit no caixa da Previdência, o presidente liberal também joga poder aplicar seu programa reformista durante seu segundo mandato até 2027.

"Manter o rumo, esse é meu lema", disse nesta sexta-feira durante visita às obras de restauração da catedral de Notre-Dame, em Paris.

 


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