Conservadores fazem aliança inédita com Verdes, e primeiro-ministro volta ao poder na Áustria

Conservadores fazem aliança inédita com Verdes, e primeiro-ministro volta ao poder na Áustria

Destituído do cargo em 2019, Sebastian Kurz fez “acrobacia política” ao trocar coalização com extrema-direta por união com partido alinhado à esquerda

AFP e Correio do Povo

Partido de Kurz venceu eleições antecipadas de setembro de 2019

publicidade

Meses após a decisão sem precedentes na história da Áustria de aprovar uma moção de censura contra seu chanceler e líder do Partido Popular Austríaco (ÖVP), Sebastian Kurz, e destitui-lo do cargo, o jovem político de 33 anos retorna ao poder em conjunto com os Die Grünen (Verdes) e promete reconciliar “o melhor dos dois mundos” ao “proteger as fronteiras e o clima”. Antes de ser removido de sua posição , nos desdobramentos do escândalo de corrupção que implodiu a coalizão de governo com a extrema-direita, ele havia anunciado eleições antecipadas para setembro do ano passado. Venceu e, então, saiu em busca de aliados. Assim, o país experimentará uma aliança inédita entre o ÖVP, peso pesado da política nacional, e o partido que defende causas ambientais.

As duas siglas anunciaram na quarta-feira à noite que selaram um acordo, após várias semanas de negociações. No caso dos Verdes austríacos, essa entrada no governo é inédita. Para o jovem líder, a nova aliança marca uma virada de 180° desde que escolheu, há dois anos, governar com a direita radical do Partido da Liberdade Austríaca (FPÖ). A experiência terminou após 18 meses, devido a um escândalo de corrupção envolvendo o partido nacionalista. Em uma coletiva de imprensa em Viena, ao lado de Werner Kogler, líder dos ambientalistas, Kurz reconheceu que “as negociações (não) foram fáceis, porque as duas partes têm orientações muito diferentes”.

Mas “conseguimos reunir o melhor dos dois mundos”, disse o líder do ÖVP, que defende uma linha dura em matéria de imigração e diz ser “possível proteger o clima e as fronteiras”. Kogler, de 58 anos, que se tornará vice-chanceler, ressaltou que ficou encantado com o fato de as duas partes terem conseguido “construir pontes para o futuro da Áustria”, comprometendo-se com mais “justiça social” e com medidas importantes para a defesa do meio ambiente. A Áustria se tornará “pioneira na luta contra o aquecimento global”, prometeu.

Com 8,9 milhões de habitantes, o país estará, junto com Suécia, Finlândia, Lituânia e Luxemburgo, entre os Estados-membros da UE que contam com ambientalistas no governo. “Chegamos a um acordo mais amplo do que pensávamos em relação à proteção do clima”, assegurou o chefe dos Verdes, que, mais à esquerda, foram fortes opositores das políticas de imigração, segurança e questões orçamentárias da coalizão de direita/extrema-direita liderada por Kunz até maio. Os dois novos parceiros fazem, portanto, “uma aposta arriscada”, aliando-se a despeito de “abordagens políticas fundamentalmente diferentes”, destacou esta semana o jornal “Tiroler Zeitung”.

“Acrobacia política” 

Para o líder dos conservadores, é “uma verdadeira acrobacia política” e será necessário ter cuidado para não perder o eleitorado conquistado às custas da extrema-direita, observa o cientista político Thomas Hofer. Forçado a acabar com sua coalizão com o FPÖ, Kurz convocou eleições antecipadas, vencidas por seu partido (37,5%). Com os socialdemocratas sem força e a extrema direita perdendo 10 pontos nas urnas, o líder da direita teve de recorrer aos ambientalistas (em quarto lugar, com 13,9% dos votos) para tentar formar uma maioria.

A direita dominará a nova equipe ministerial, dentro da qual os Verdes deverão ter quatro pastas. Entre elas, está um “superministério” do Meio Ambiente, que absorverá Transportes, Energia e Tecnologia. De acordo com a imprensa local, os Verdes também ficarão com Justiça, Assuntos Sociais e Cultura. O partido de Sebastian Kurz manterá o controle dos Ministérios do Interior, Finanças e Relações Exteriores. A posse da nova equipe está prevista para a próxima semana.

 

Mais Lidas





Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895