COP25 alcança acordo mínimo sobre mudança climática

COP25 alcança acordo mínimo sobre mudança climática

Decisão está longe de responder firmemente à urgência climática reivindicado pela ciência e sociedade civil

AFP e Agência Brasil

Sessão plenária de encerramento da Conferência sobre Mudança Climática da ONU ocorre neste domingo

publicidade

A comunidade internacional alcançou um acordo mínimo na COP25, realizada em Madri, longe de responder firmemente à urgência climática, conforme reivindicado pela ciência e pela sociedade civil. A sessão plenária de encerramento da Cúpula do Clima da Organização das Nações Unidas (ONU) ocorreu neste domingo. 

Após duas semanas de negociações, a conferência da ONU concordou em pedir aos países que aumentem suas metas para reduzir as emissões de gases de efeito estufa no próximo ano, o que é essencial para tentar conter o aquecimento a menos de +2°C. Mas não emitiu nenhum sinal forte de que intensificará e acelerará a ação climática. 

O documento foi aprovado pela presidente da COP25, a chilena Carolina Schmidt, após um tenso debate com o Brasil que, inicialmente, não aceitou dois parágrafos incluídos no acordo sobre oceanos e uso da terra.  

Segundo o acordo, o conhecimento científico será "o eixo principal" que deve orientar as decisões climáticas dos países para aumentar a sua ambição, que deve ser constantemente atualizada de acordo com os avanços da ciência. O texto inclui "a imposição" de que a transição para um mundo sem emissões tem de ser justa e promover a criação de emprego.

O acordo também reconhece a ação climática de atores não-governamentais, a quem convida a aumentar e generalizar estratégias compatíveis com o clima. As várias delegações, de 200 países, não conseguiram chegar, na sexta-feira, a acordo sobre como impulsionar as metas do Acordo de Paris. As organizações ambientalistas acusaram a presidência chilena de estar cedendo aos interesses dos países poluidores, como os Estados Unidos e o Brasil.

Noites intensas

Após duas noites de intensas negociações, os cerca de 200 países signatários do Acordo de Paris se reuniram neste domingo para tentar encontrar um acordo e evitar o naufrágio da COP25, pressionada por todos os lados a responder com ambição à emergência climática.

"Parece que a COP25 está desmoronando. A ciência é clara, mas a ciência é ignorada", tuitou durante a noite a jovem ativista climática Greta Thunberg, que inspirou milhões de jovens a exigir medidas radicais e imediatas para limitar o aquecimento global. "Aconteça o que acontecer, não vamos desistir. Estamos apenas começando", acrescentou a adolescente sueca, estrela desta conferência climática da ONU. 

A COP25 deveria, teoricamente, terminar na sexta-feira à noite, mas as grandes divisões sobre assuntos importantes, como ambição e financiamento, não permitiram alcançar um compromisso.

No sábado, uma proposta de texto da presidência chilena foi recusada muitos países, por razões às vezes diametralmente opostas, alguns exigindo mais audácia, outros arrastando os pés. "Não podemos dizer ao mundo que estamos diminuindo nossas ambições na luta contra as mudanças climáticas", insistiu o vice-presidente da Comissão Europeia, Frans Timmermans. 

Esta manhã, uma nova versão parecia mais consensual. "O que a presidência apresentou esta noite sobre a ambição foi bom", disse a representante das Ilhas Marshall, Tina Stege, que preside a coalizão dos países mais ambiciosos na luta contra o aquecimento global. "A linguagem da ambição ainda é fraca, mas está melhor. Provavelmente será aprovada", disse Yamide Dagnet, do World Resources Institute. 

Versão revisada 

No atual ritmo de emissão de gases do efeito estufa, a temperatura pode aumentar até 4 ou 5°C até o final do século. Mesmo que os cerca de 200 signatários do Acordo de Paris respeitem seus compromissos, o aquecimento global seria superior a 3°C. Todos os Estados deverão apresentar até a COP26 de Glasgow uma versão revisada de seus compromissos. 

Nesta fase, cerca de 80 países se comprometeram a apresentar um aumento de suas ambições, mas eles representam apenas cerca de 10% das emissões globais. E quase nenhum dos maiores emissores, China, Índia ou Estados Unidos, parece querer se juntar a este grupo. Somente a União Europeia "endossou" esta semana em Bruxelas o objetivo de neutralidade de carbono até 2050. Mas sem a Polônia, muito dependente do carvão. E os europeus ainda vão levar meses para decidir sobre um aumento de seus compromissos para 2030. 

"A presidência chilena tem uma tarefa: proteger a integridade do Acordo de Paris e não deixá-lo destruído pelo cinismo e pela ganância", denunciou a chefe do Greenpeace, Jennifer Morgan. "Um punhado de países barulhentos sequestrou o processo e fez o resto do planeta refém", disse Jamie Henn, da ONG 350.org. 

Na mira dos defensores climáticos, além dos Estados Unidos que deixará o Acordo de Paris em novembro de 2020, China e Índia, que insistem, antes de evocar seus próprios compromissos revisados, na responsabilidade dos países desenvolvidos a fazer mais e manter sua promessa de ajuda financeira aos países em desenvolvimento.

Mas também a Austrália e o Brasil, ambos acusados de querer introduzir nas discussões disposições sobre o mercado de carbono que, segundo especialistas, minam o próprio objetivo do Acordo de Paris. 


Mais Lidas





Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895