Crimeia celebra "retorno" à Rússia

Crimeia celebra "retorno" à Rússia

UE manifestou preocupação com a "crescente militarização"

AFP

Crimeia celebra seu "retorno" à Rússia

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Desfile de carros pelas ruas de Sebastopol, concertos e fogos de artifício: a Crimea começa nesta segunda-feira a celebrar o primeiro aniversário de seu "retorno" à Rússia, um ano após o controverso referendo que aprovou a sua anexação pela Rússia.

Em 16 de março de 2014, sob o olhar das forças especiais do exército sem insígnias que duas semanas antes havia ocupado o parlamento da Crimeia e vários locais estratégicos na península ucraniana, os habitantes desta região, em sua maioria de língua russa, foram às urnas para aprovar sua anexação à Federação da Rússia. As autoridades da Crimeia afirmam que 97% dos votantes responderam afirmativamente, mas a votação, que teve lugar na ausência de observadores independentes, foi considerada "ilegal" por Kiev e os ocidentais.

A UE reiterou nesta segunda-feira a sua condenação a "anexação ilegal" da península e manifestou preocupação com a sua "crescente militarização". "Um ano após a realização de um 'referendo' ilegal e ilegítima, e após a anexação ilegal da Crimeia e de Sevastopol pela Rússia, a União Europeia continua claramente comprometida com a soberania e integridade territorial da Ucrânia", escreveu a chefe da diplomacia europeia, Federica Mogherini, em um comunicado. Desafiando as sanções econômicas introduzidas pelo Ocidente, Putin assinou dois dias depois o decreto sobre a integração da Crimeia à Rússia, para a ira das autoridades ucranianas e ocidentais.

Violações dos direitos humanos A anexação alimenta as aspirações dos separatistas pró-Rússia do Donbass, região no leste da Ucrânia, onde um conflito armado começou em abril e deixou mais de 6 mil mortos. Um ano depois, as organizações internacionais denunciam as violações dos direitos humanos na Crimeia, enquanto a OSCE se preocupa com a "repressão" continua da mídia independente.

A Crimeia, que depende da Ucrânia para o abastecimento de água e eletricidade, não possui nenhuma ligação terrestre com a Rússia e sofre com dificuldades de abastecimento de alimentos, cuja escolha é limitada. Se alguns, especialmente os jovens e os tártaros da Crimeia, povo nativo que se opôs fortemente à anexação, recusam-se a falar sobre a situação atual à imprensa ocidental por medo de represálias, muitos outros preferem acreditar em um futuro dourado.

"Junto com a grande Rússia vamos construir uma nova Crimeia", comemorou no domingo o presidente do Parlamento da península, Vladimir Konstantinov, em um comunicado. O "primeiro-ministro" da Crimeia, Serguei Aksyonov, declarou que a Crimeia teria sofrido o mesmo destino que o leste da Ucrânia, que vive um conflito armado, sem sua anexação à Rússia.

"A guerra e o sangue com a Ucrânia, paz e estabilidade com a Rússia", resumiu nesta segunda-feira. Sebastopol, a maior e tradicionalmente pró-Moscou cidade da Crimeia, devido à presença da frota russa no Mar Negro, organizou um desfile de automóveis para a ocasião, antes de um concerto na praça central. Muitas festas também estão planejadas em Simferopol, "capital" administrativa da Crimeia.

Comando e ameaça nuclear russa

Um ano depois, as autoridades russas, que em um primeiro momento rebateram as acusações de Kiev e dos ocidentais sobre o seu papel na organização do referendo, assim como fazem em relação ao conflito no leste, se tornaram muito mais eloquentes quanto à Crimeia.

O presidente Vladimir Putin, que já havia reconhecido que o comando que tomou o controle do Parlamento da Crimeia em 27 de fevereiro de 2014 era formado por soldados russos, revelou que a Rússia posicionou baterias de mísseis de defesa costeira em um documentário exibido no domingo pela televisão pública.

"Precisamos reforçar nossa presença militar na Crimeia para que o número de nossos soldados permitisse criar as condições propícias à organização do referendo", acrescentou. "Estávamos prontos para colocar em estado de alerta o dispositivo nuclear ante uma eventual intervenção militar ocidental", assegurou Putin.

A anexação da Crimeia foi aplaudida na Rússia, onde muitos consideravam um "erro" sua ligação administrativa com a Ucrânia, concedida pelo líder soviético Nikita Krutchev em 1954, e isso permitiu a Putin conquistar uma aprovação sem precedentes, com 90% de popularidade segundo pesquisas

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