Cuba aguarda resultado de votação para renovar a Assembleia Nacional

Cuba aguarda resultado de votação para renovar a Assembleia Nacional

Votação ocorreu no momento em que país enfrenta a pior crise econômica em três décadas

AFP

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Os cubanos votaram no domingo (26) para renovar o Parlamento por cinco anos, em eleições que transcorreram sem incidentes ou surpresas, nas quais se apresentaram 470 candidatos a deputados para ocupar o mesmo número de assentos, uma eleição que conseguiu reverter a tendência abstencionista dos últimos anos com uma campanha inusitada neste país comunista.

As 23.648 seções de votação fecharam às 19h locais (20h de Brasília), uma hora após o horário previsto inicialmente. Alina Balseiro, presidente do Conselho Nacional Eleitoral (CEN), disse que até às 17h (18h de Brasília) haviam votado 70,34% dos eleitores, o que representa um aumento na comparação com o índice de 68,5% de participação nas eleições municipais de novembro, o menor resultado desde a entrada em vigor, em 1976, do atual sistema eleitoral. Os números finais serão divulgados nesta segunda-feira.

Os resultados nos referendos sobre o Código da Família (74,12%), em setembro, e sobre a Constituição (90,15%), em 2019, continuam maiores. Em Cuba, país de 11,1 milhões de habitantes, os partidos de oposição são proibidos e o voto não é obrigatório.

Oito milhões de cubanos estavam registrados para votar nos 470 candidatos - 263 mulheres e 207 homens -, a maioria membros do Partido Comunista de Cuba (PCC), o único partido legal da ilha. "Votei pelo voto unido porque, apesar das necessidades, das dificuldades que este país possa ter, não posso dar meu voto" aos abstencionistas "aos que querem nos esmagar, os ianques", disse Carlos Diego Herrera, um ferreiro de 54 anos, no movimentado bairro de Vedado, em Havana. Os eleitores encontraram duas opções na cédula: o nome de cada candidato de seu distrito ou a opção de votar "por todos", o que implica apoiar os 470.

"Unidade" e "revolução"

"Com o voto unido estamos defendendo a unidade do país, a unidade da revolução, nosso futuro, nossa constituição socialista", disse o presidente Miguel Díaz-Canel, 62 anos, depois de votar em sua cidade natal, Santa Clara, 280 quilômetros a sudeste de Havana. O "voto por todos" é um sufrágio unificado para reafirmar o "socialismo" e a "revolução", dizem as autoridades. Mas também ajudaria os candidatos a alcançarem mais de 50% dos votos válidos no dia, requisito para serem eleitos.

As votações legislativas fazem parte de um processo que culminará este ano com a eleição do presidente da República, na qual Díaz-Canel, o primeiro a assumir o poder no país após os irmãos Fidel e Raúl Castro, poderá ser reeleito. O presidente, também primeiro secretário do PCC, e ex-presidente Raúl Castro também são candidatos a deputados, entre outros dirigentes históricos e membros do atual Birô Político do partido.

A votação ocorre no momento em que Cuba enfrenta a pior crise econômica em três décadas, com inflação galopante, uma onda migratória sem precedentes, causada pelos efeitos da pandemia e do embargo econômico dos Estados Unidos, além de fragilidades estruturais do país. A jovem vendedora de uma pequena loja que não quis revelar seu nome disse no sábado que preferia ficar em casa a votar. "Não vou votar porque não acredito que as eleições de amanhã vão trazer alguma mudança positiva para o nosso país".

Os candidatos, liderados por Díaz-Canel, realizaram uma inusitada e intensa campanha de proselitismo nas últimas semanas para ouvir as demandas da população.

"Matemática eleitoral"

Sem oposição autorizada, os apelos à abstenção concentraram-se nas redes sociais. Manuel Cuesta Morúa, membro do opositor Conselho para a Transição Democrática em Cuba, pediu atenção à "matemática eleitoral do governo". "Às 09h informa que votaram 18,2% do eleitorado. Às 11h, diz que (votaram) 41,66%. Ou seja, em menos de duas horas, a assistência aumentou 23,46%. Impossível!!! As seções estão vazias", escreveu o dissidente em um tuíte.

Mais tarde, ele denunciou ter sido detido juntamente com outra ativista, após os dois terem visitado seções eleitorais de Havana. "María Mercedes Benítez", coordenadora dos Cidadãos Observadores de Processos Eleitorais, e Cuesta Morúa, "fomos detidos" para impedir a participação no escrutínio. "Nossas casas estão situadas", relatou o ativista.

Cuesta havia dito esta semana que pelo menos quatro pessoas, entre elas três em Havana, tinham sido advertidas por agentes de segurança do Estado para se absterem de fazer a observação eleitoral.


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