Curdos da Síria pedem que civis peguem em armas para conter ofensiva turca

Curdos da Síria pedem que civis peguem em armas para conter ofensiva turca

Cerca de uma centena de pessoas foram presas desde segunda-feira em manifestações

AFP

Curdos da Síria pedem que civis peguem em armas para conter ofensiva turca

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Os curdos da Síria convocaram nesta terça-feira a população civil a pegar em armas para defender o enclave de Afrin, no norte do país, no quarto dia de ofensiva da Turquia. Ancara continua a bombardear uma milícia curda na região, enquanto Washington advertiu que os combates poderiam desestabilizar uma área relativamente intocada pelo conflito sírio.

Violentos confrontos eram travados na região de Afrin, fortaleza das Unidades de Proteção do Povo (YPG), uma milícia curda odiada por Ancara, mas apoiada por Washington, de acordo com o Observatório Sírio para os Direitos Humanos (OSDH). As autoridades locais curdas informaram sobre um decreto de mobilização geral e convidaram "todos os filgos de nosso povo para defender Afrin".

Ao lançar no sábado a ofensiva batizada de "Ramo de oliveira", o exército turco abriu uma nova frente no complexo conflito sírio, aumentando as preocupações e críticas dos Estados Unidos e da União Europeia. "A violência em Afrin abala o que era uma zona relativamente estável da Síria", apontou o secretário da Defesa dos Estados Unidos, Jim Mattis, pedindo a Ancara "contenção nas operações militares e na retórica".

Desde o início da operação, quase 60 combatentes das YPG e de grupos rebeldes pró-Ancara morreram, bem como 24 civis, a maioria deles em ataques aéreos turcos, de acordo com a OSDH, que possui uma extensa rede de fontes no campo. Um primeiro soldado turco também foi morto na segunda-feira nos confrontos. Ele foi enterrado nesta terça em Ancara, na presença de líderes turcos, liderados pelo presidente Recep Tayyip Erdogan. "Graças a Deus, sairemos vitoriosos desta operação, junto com o nosso povo e o Exército Sírio Livre", disse Erdogan no funeral.

Os combates se concentravam na fronteira turco-síria, particularmente no norte e sudoeste de Afrin. "Os confrontos são violentos, mas a frente é muito menor do que no dia anterior", indicou Rami Abdel Rahman, diretor da OSDH. A ofensiva militar é acompanhada de uma repressão na Turquia contra internautas suspeitos de "propaganda terrorista". Cerca de uma centena de pessoas foram presas desde segunda-feira, e manifestações contra a operação estão proibidas.

Tiros incessantes

Enquanto a aviação e a artilharia de Ancara retomaram seus bombardeios nesta terça-feira, soldados turcos e seus aliados sírios lançaram um novo ataque na região nordeste de Afrin, entrando na aldeia de Qastal Jando, de acordo com o OSDH. Neste setor, as forças pró-Ancara assumiram o controle da colina de Barsaya, mas foi retomada algumas horas depois pelas YPG.

Pickups cheias de metralhadoras subiam as estradas de terra ao longo da colina, enquanto o som de tiroteio continuava sem interrupção, de acordo com um correspondente da AFP. A Turquia acusa essa milícia curda síria de ser o braço do Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK), que Ancara, bem como Washington e UE, considera "terrorista" e combate desde 1984.

As YPG são o principal componente da coalizão árabe-curda das Forças Democráticas Sírias (FDS), apoiada por Washington na luta contra grupos extremistas, em particular a organização Estado Islâmico (EI). Esta é a segunda ofensiva turca no norte da Síria, depois de uma conduzida em agosto de 2016, lançada para encurralar o EI no sul e frear a expansão dos combatentes curdos.

Aproveitando o conflito sírio, que deixou mais de 340 mil mortos desde 2011, os curdos sírios - há muito marginalizados - estabeleceram em 2012 uma administração autônoma em Afrin, um território isolado de outras áreas controladas pelas YPG mais a leste. Ancara lançou essa ofensiva após a coalizão internacional liderada por Washington anunciar a criação de uma "força de fronteira" composta por combatentes curdos.

No domingo, os Estados Unidos pediram à Turquia "moderação", mas o secretário americano da Defesa, Jim Mattis, disse que Ancara havia alertado Washington antes de lançar os ataques e avaliou que as preocupações de segurança turcas são legítimas. O secretário de Estado, Rex Tillerson, reconheceu na segunda-feira "o direito legítimo da Turquia de se proteger".

Diante dessas reações, as FDS pediram à coalizão internacional liderada por Washington para "assumir suas responsabilidades", afirmando que a ofensiva turca constitui um claro apoio aos extremistas.
O Conselho de Segurança da ONU reuniu-se na segunda-feira para discutir a escalada da violência na Síria, mas sem emitir uma condenação.

A União Europeia declarou, por sua vez, que estava "extremamente preocupada", enquanto o Catar, próximo de Ancara, expressou seu apoio à ofensiva.

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