Descontentamento cresce entre a elite russa por derrotas na Ucrânia

Descontentamento cresce entre a elite russa por derrotas na Ucrânia

Críticas não chegam a Vladimir Putin nem ao seu ministro da Defesa, Serguei Shoig

AFP

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O acúmulo de derrotas na Ucrânia deu origem a explosões de raiva entre a elite russa, que ainda é a favor da intervenção, mas está desesperada pelo silêncio do exército. Alguns até apelam à execução de comandantes militares.

Até as derrotas de setembro, as críticas públicas ao exército eram raras. E como a ofensiva contra a Ucrânia foi apresentada como uma missão patriótica sagrada, difamar as tropas passou a ser punível com duras penas de prisão.

Embora ninguém da elite russa questione os motivos de Moscou ou o ataque ao país vizinho, as derrotas e fracassos na mobilização de centenas de milhares de reservistas levaram figuras públicas, geralmente dóceis ao poder, a atacar a hierarquia militar.

Na quarta-feira, o chefe do comitê de defesa da Duma, a câmara baixa do Parlamento, pediu aos militares que "parem de mentir" em seus relatórios diários, nos quais alegam infligir enormes perdas às forças ucranianas e não mencionam derrotas.

"Os relatórios do ministério da Defesa não mudam. O povo sabe disso. Nosso povo não é tolo. Isso pode levar a uma perda de credibilidade", disse Andrei Kartapolov no programa de Vladimir Soloviov, apresentador estrela e figura ultrapatriótica na esfera da mídia russa.

Fatalismo

Esse comentarista, sancionado pela União Europeia, não ficou muito atrás e estimou esta semana que alguns comandantes militares russos mereciam acabar diante de um pelotão de fuzilamento. "Os culpados devem ser punidos, não temos pena de morte, infelizmente, o que para alguns seria a única solução. Eles não têm o senso de honra", disse Soloviov em seu programa.

Outro exemplo é o repórter de guerra do jornal Komsomolskaya Pravda, Alexander Kots. Em seu canal no Telegram, ele disse que "não haverá boas notícias no futuro próximo".

A virulência das declarações de alguns e o sentimento fatalista de outros surpreende por se dar após Vladimir Putin decretar a anexação de quatro regiões ucranianas.

O evento foi celebrado com um grande show na Praça Vermelha de Moscou, onde o chefe do Kremlin inflamou a multidão agitando bandeiras russas: "A vitória será nossa".

As críticas não chegam ao chefe de Estado nem ao seu ministro da Defesa, Serguei Shoigu.

Mas quando o líder da região da Chechênia, Ramzan Kadyrov, atacou os generais russos, pediu o uso de armas nucleares e insinuou que Putin estava mal informado, o Kremlin teve que reagir.

Oposição se reativa

"Em momentos difíceis, as emoções devem ser deixadas de lado (...) Preferimos fazer avaliações ponderadas e objetivas", respondeu Dmitri Peskov, porta-voz da presidência.

Putin reconheceu publicamente "erros" no processo de mobilização diante da avalanche de casos documentados de pessoas incapazes de lutar que foram chamadas para se juntar à frente.

Enfraquecida por anos de repressão e a prisão de seu referente Alexei Navalny, a oposição, que opera principalmente do exterior, quer tentar se reestruturar na Rússia e espera capitalizar ou alimentar qualquer possível descontentamento popular.

"Milhões de pessoas ainda estão na Rússia, são reféns de Putin e não querem lutar. Essas pessoas percebem aos poucos que precisam agir", estimou um amigo de Navalny, Leonid Volkov, anunciando no YouTube a reativação do uma rede de ativistas no país.

"Esta luta pode assumir diferentes formas, com diferentes níveis de risco. Podemos divulgar informação, prestar assistência jurídica, fazer voluntariado ou sabotar o trabalho das delegacias militares, algumas das quais queimam muito bem", disse.


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