Devastada pela guerra, Gaza teme novo êxodo de palestinos décadas depois

Devastada pela guerra, Gaza teme novo êxodo de palestinos décadas depois

Palestinos temem um "Nakba", palavra árabe que remonta ao êxodo após a criação de Israel, há 75 anos

AFP

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Omar Ashur tornou-se refugiado durante a "Nakba", palavra árabe para catástrofe que remonta ao êxodo de palestinos após a criação de Israel, há 75 anos, e agora teme que os bombardeios à Gaza o obriguem a voltar ao exílio. General da reserva das forças de segurança da Autoridade Palestina, Ashur vive em Al Zahra, no centro de Gaza, onde mísseis israelenses destruíram uma área de mais de 20 edifícios na quinta-feira (19).

Os moradores receberam um alerta para abandonar da região. Quando retornaram na madrugada seguinte, encontraram um cenário de destruição e vários quarteirões de edifícios reduzidos a escombros, segundo um jornalista da AFP. A área fica 10 quilômetros ao sul da cidade de Gaza, onde os aviões israelenses têm concentrado seus bombardeios desde a ofensiva inédita dos combatentes do grupo islamita palestino Hamas no sul de Israel em 7 de outubro, deixando mais de 1.400 pessoas mortos, a maioria civis, segundo autoridades israelenses.

Israel exigiu que os palestinos que vivem no norte de Gaza sigam para o sul antes do início de uma incursão terrestre, mas Ashur decidiu ficar. Ele teme que a guerra obrigue os residentes de Gaza - dois terços dos quais são refugiados - a fugir novamente.

"O que está acontecendo é perigoso. Temo que as pessoas não tenham um lugar para viver, o que levará a uma nova 'Nakba'", disse em referência ao êxodo de 760 mil palestinos que fugiram ou foram expulsos de suas casas na guerra de 1948 que levou à criação do Estado de Israel.

Ashur tinha apenas oito anos quando ele e sua família fugiram de Majdal – que hoje é a cidade israelense de Ashkelon – para Gaza, cuja população de 2,4 milhões de habitantes é formada em grande parte por descendentes daqueles refugiados. 

"Não abandonaremos nossa terra"

A guerra atual provoca lembranças dolorosas. "O que acontece hoje é muito pior. Naquela época, Israel atirava para matar e obrigava as pessoas a fugirem, mas a situação atual é mais horrível", disse o general reformado de 83 anos.

O ataque executado pelo Hamas em 7 de outubro foi o mais mortal para os israelenses desde a fundação de seu Estado, e a maioria das vítimas foram baleadas, mutiladas ou queimadas no primeiro dia da ofensiva, segundo autoridades de Israel. Desde então, mais de 4.300 pessoas, a maioria civis, morreram na Faixa de Gaza nos bombardeios israelenses, segundo o Ministério da Saúde palestino.

Pelo menos um milhão de habitantes de Gaza foram deslocados devido aos intensos bombardeios, segundo a ONU. Israel também cortou o fornecimento de água, eletricidade, combustível e alimentos a este enclave empobrecido. De acordo com um jornalista da AFP, pelo menos 24 prédios foram destruídos em Al Zahra.

"Nem em meus piores pesadelos pensei que isso fosse possível", conta Rami Abu Wazna. 

Milhares de moradores que fugiram do bairro passaram a noite tentando encontrar abrigo. "Por que nos bombardear? Somos civis! Para onde iremos? Tudo desapareceu", lamentou Abu Wazna. "Ouvimos os nossos avós falarem da 'Nakba' e hoje somos nós que a vivemos. Mas não vamos abandonar a nossa terra", afirmou.


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