Divulgação de carta de conservadores ao Papa provoca temor de novo 'Vatileaks'

Divulgação de carta de conservadores ao Papa provoca temor de novo 'Vatileaks'

Vazamento também ocorreu em 2012 com documentos confidenciais dirigidos ao papa Bento XVI

AFP

Divulgação de carta de conservadores ao Papa provoca temor de novo Vatileaks

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A divulgação em circunstâncias misteriosas de uma carta privada ao Papa Francisco assinada por 13 cardeais conservadores denunciando o funcionamento do Sínodo sobre a família elevou a tensão nesta terça-feira no Vaticano, com um dos signatários evocando o espectro de um novo "Vatileaks". "Quem vazou está tentando entorpecer o Sínodo dos bispos", lamentou o porta-voz do Vaticano, o padre Federico Lombardi. 

Na carta confidencial datada de 5 de outubro, os 13 cardeais, figuras conhecidas de vários continentes, contestam a organização do Sínodo, explicando temer que os progressistas sejam beneficiados. O texto foi divulgado na segunda-feira pelo vaticanista Sandro Magister, um dos críticos do pontificado de Francisco, excluído da sala de imprensa em junho por ter divulgado o texto da encíclica "Laudato se" antes de sua publicação oficial.

A divulgação causou confusão e desconfiança entre os 400 participantes da assembleia, entre bispos e cardeais de todo o mundo. "Este é um novo Vatileaks. Uma carta particular pertencente ao Papa. Como foi publicada?", reagiu um dos signatários, o cardeal alemão Gerhard Ludwig Müller, guardião da doutrina em Roma, exigindo que os responsáveis pelo vazamento sejam revelados.

O cardeal australiano George Pell, todo-poderoso secretário para a Economia, admitiu ter assinado a carta, afirmando que o texto publicado continha imprecisões e que a lista dos signatários não era precisa. "As assinaturas estão erradas, mas sobretudo o conteúdo está equivocado. A maior parte do conteúdo não corresponde a realidade. Não sei por que divulgaram isso e quem vazou o texto assim", acrescentou.

Quatro cardeais erroneamente citados formalmente negaram ter assinado o texto, em particular o cardeal de Paris, André Vingt-Trois, um dos vice-presidentes do Sínodo, e o cardeal de Budapeste, Peter Erdo, seu relator-geral. Na segunda-feira, o porta-voz da Santa Sé, Federico Lombardi, pediu aos jornalistas que fossem cautelosos com o texto e seus supostos signatários.

A carta se concentra na proibição da comunhão para divorciados novamente casados, que eles consideram algo inegociável, e também questiona indiretamente a neutralidade da comissão que o Papa encarregou de elaborar o documento final do Sínodo. "Quem difundiu a carta provocou um transtorno indesejado pelos signatários", assegurou o porta-voz do Vaticano. "Não há o que contestar. É possível tecer comentários sobre a metodologia do Sínodo, que é nova. Mas, uma vez adotada esta metodologia, é necessário comprometer-se com sua aplicação da melhor maneira possível", acrescentou.

Por sua vez, o cardeal Donald Wuerl, arcebispo de Washington e membro da comissão, no entanto, garantiu ao jornal britânico The Tablet que não viu "a manipulação que eles falam. Participo de sínodos desde 1990 e este é um dos mais abertos".

Em 2012, documentos confidenciais dirigidos ao papa Bento XVI foram vazados à imprensa. Seu mordomo, Paolo Gabriele, foi condenado por transmitir estes documentos. Posteriormente, foi perdoado. 

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