Documentos dos EUA apontam para Pinochet em morte de ex-chanceler

Documentos dos EUA apontam para Pinochet em morte de ex-chanceler

Papéis foram entregues por John Kerry à presidente Michelle Bachelet

AFP

Pinochet, que morreu em 2006, nunca foi julgado por este caso

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Os documentos tornados públicos e que os Estados Unidos entregaram para o Chile proporcionam pela primeira vez provas conclusivas de que o ditador Augusto Pinochet ordenou o assassinato do ex-chanceler chileno Orlando Letelier, em Washington no ano de 1976, afirmou nesta quinta-feira o filho do diplomata.

Em um dos documentos consta "uma comunicação entre o secretário de Estado George Shultz (1982-1989) e a presidência, e informa que há um documento conclusivo da CIA sobre o assassinato de meu pai", afirmou Juan Pablo Letelier, filho do ex-chanceler e atual senador pelo Partido Socialista chileno, em uma entrevista à Tele13 Radio.

Sobre o envolvimento de Pinochet , esta "é a primeira vez que há documentos que evidenciam isso", completou o senador. Os Estados Unidos entregaram nesta semana ao Chile mil documentos publicados sobre o assassinato de Letelier, ocorrido em Washington no dia 21 de setembro de 1976, na explosão de uma bomba plantada em seu carro, no qual também se encontrava sua secretária, Ronni Moffit.

Os dois assassinatos ocorreram no marco do chamado "Plano Condor", concebido e aplicado na década 1970 pelas ditaduras militares do Cone Sul para coordenar o extermínio de opositores. Letelier foi chanceler do governo do derrubado presidente socialista Salvador Allende (1970-1973) e seu crime é considerado como o primeiro ato terrorista ocorrido em solo norte-americano.

Os documentos foram entregues pelo secretário de Estado norte-americano, John Kerry, à presidente Michelle Bachelet, na conferência "Nosso Oceano" que aconteceu na segunda e terça-feira no Chile. Posteriormente, o governo de Bachelet entregou os papéis ao filho do diplomata, que ainda não terminou de analisá-los. "Possivelmente surjam antecedentes de outros (envolvidos) que ainda estão vivos no Chile e que tenham participado não da ordem ou da execução do crime, mas de seu encobrimento", afirmou.

Pinochet, que morreu em 2006, nunca foi julgado por este caso, porém a justiça conseguiu processá-lo por mais de 3,2 mil vítimas, entre mortos e desaparecidos, que deixou seu regime (1973-1990), assim como por corrupção. Manuel Contreras, chefe da temida DINA, a polícia secreta de Pinochet, foi condenado a sete anos de prisão, assim como o general Pedro Espinosa. Contreras, considerado um dos maiores repressores chilenos, morreu em agosto do ano passado, cumprindo pena por violação dos direitos humanos que superavam um total de 500 anos de prisão.

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