Em Paris, conservadores protestam contra ampliação da reprodução assistida a lésbicas e solteiras

Em Paris, conservadores protestam contra ampliação da reprodução assistida a lésbicas e solteiras

Conforme pesquisas, mais de 65% da população apoia medida, atualmente restrita a casais heterossexuais

Correio do Povo e AFP

Medida é defendida pelo presidente Emmanuel Macron

publicidade

Sete anos depois das mobilizações na França contra o casamento homossexual, pessoas contrárias à reprodução medicamente assistida (PMA, na sigla em francês) de lésbicas e solteiras protestam neste domingo, em Paris, para pedir aos deputados e senadores que o texto seja retirada da pauta. Agitando bandeiras verdes e vermelhas com a inscrição "Liberdade, Igualdade, Paternidade", os manifestantes começaram a caminhar por volta das 11h GMT (8h em Brasília), no sul da capital. A multidão foi convocada por um coletivo de cerca de 20 associações, que se opõem à ampliação da reprodução assistida, uma medida emblemática do projeto de lei sobre bioética.

Os organizadores dizem que mobilizaram 600 mil pessoas neste domingo em Paris. De acordo com uma contagem independente feita pela consultoria Occurence para vários meios de comunicação, cerca de 74,5 mil se reuniram nas rudas da Cidade Luz. A polícia estima 42 mil. pessoas. Na primavera de 2013, até 1,4 milhão de manifestantes se mobilizaram de acordo com os organizadores (300 mil conforme a polícia), para protestar contra o casamento para todos. "Sociedade sem pai, sociedade sem referência", pode ser lida em muitos sinais em referência à lei de bioética que permitirá que mulheres solteiras e casais de lésbicas se beneficiem da procriação medicamente assistida.

Atualmente, o PMA –  conjunto de processos químicos e biológicos envolvidos no processo de procriação para permitir que um casal tenha um filho fora do processo natural – está reservado a casais heterossexuais. No entanto, não é acessível a todos, apenas àqueles em que um dos membros é vítima de infertilidade clinicamente comprovada ou tenha uma doença grave que pode ser transmitida à criança. Além disso, há um limite de idade específico de 43 para mulheres e 60 para homens, o que acabaria com indefinições sobre o conceito de "idade fértil " e facilitaria a decisão dos médicos.

Macron defende inclusão de lésbicas e solteiras

Em seu programa eleitoral, Emmanuel Macron se declarou "a favor da abertura da procriação medicamente assistida para mulheres solteiras e casais de mulheres ". O Comitê Consultivo Nacional de Ética (CCNE) votou em junho de 2017 para abrir o PMA para casais de mulheres e mulheres solteiras. Vários países da Europa permitem PMA para casais do mesmo sexo, especialmente Bélgica e Espanha, frequentemente escolhidos por francesas para fazer o procsso. Na França, uma comissão especial do Senado se ocupará, a partir de 15 de outubro, deste projeto de lei. 

"Há quase dois anos, nossas tentativas de diálogo não tiveram êxito (...) Resta apenas a rua para sermos ouvidos", declarou a presidente do movimento católico conservador Manifestação para Todos, Ludovina de la Rochère, que também liderou a mobilização contra o casamento gay há sete anos. "O desenrolar e o ambiente da manifestação são tão importantes quanto sua amplitude", afirmou.  Christian Kersabiec, de 68 anos, que chegou de ônibus da Bretanha (oeste), defendeu que "a família com pai e mãe é um ecossistema que temos que proteger". Para Laetitia, de 20, "um filho é um dom, não é um direito". "Não lutamos contra os homossexuais, não dizemos que sua vida é ruim, mas lutamos, sim, contra a legalização da reprodução assistida", completa. 

Manifestantes se recusaram a serem colocados em rótulos "de direita" ou "homofóbicos. "Fui deixada e estou cansada de me juntar ao fachos e à direita", diz Sonia, psicóloga de Honfleur. "Estou aqui porque acho que precisamos estabelecer limites: criar um filho sem pai não é bom". "Ao seu lado, Pierre concorda: "Sabe, não somos homofóbicos e precisamos de coragem para estar lá, porque temos primos homossexuais. Mas acredita-se que o PMA seja o último bloqueio que ocorrerá antes da adoção da Barriga de aluguel (GPA), que consiste na venda de corpos de mulheres", arguementa.

Apoio popular à lei

Para o diretor-geral adjunto do instituto de pesquisa Ifop, Frédéric Dabi, "é difícil antecipar o que vai acontecer, mas a opinião é muito menos crítica sobre a reprodução assistida do que sobre o casamento homossexual". Segundo a última enquete do instituto, realizada em setembro, uma grande maioria de franceses apoia a ampliação desse procedimento para solteiras (68%) e para lésbicas (65%) - um "nível recorde", aponta Dabi.

O contexto político também mudou. "Em 2013, as pessoas também foram às ruas para dizer 'não' a François Hollande (presidente) e a uma política considerada antifamília", lembra Dabi. Desde então, a distância entre esquerda e direita se "enfraqueceu", completa.

 

Mais Lidas





Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895