Emboscada deixa três pessoas feridas na Bolívia

Emboscada deixa três pessoas feridas na Bolívia

Grupo se encaminhava para protestar contra presidente boliviano, Evo Morales, em La Paz

AFP

publicidade

Ao menos três pessoas ficaram feridas, uma delas por arma de fogo, em uma emboscada registrada neste domingo em uma zona do altiplano da Bolívia (sudeste) contra ônibus de opositores que pretendem chegar a La Paz para participar dos protestos contra presidente boliviano, Evo Morales.

"Um grupo armado fez uma emboscada contra nossos companheiros, temos três feridos. Ainda não me confirmaram a gravidade de cada um", disse a jornalistas Marcos Pumari, dirigente do comitê cívico que lidera os protestos contra o governo em Potosí (sudoeste), a região de onde vinha o ônibus atacado.

O ataque foi registrado nas proximidades da localidade de Challapata (ao sudoeste), na estrada que leva a La Paz. A delegação transportava mineiros e estudantes. No sábado foi registrada uma emboscada similar em outra localidade rural, com saldo de 30 feridos, nenhum grave, segundo a imprensa. 

No Vaticano, o papa Francisco exortou neste domingo aos bolivianos a esperar em "paz e serenidade" os resultados da auditoria eleitoral. "Exorto a todos os bolivianos, particularmente aos atores políticos e sociais, a que esperem com um espírito construtivo, em um clima de paz e serenidade, os resultados do processo de revisão eleitoral atualmente em curso", disse o pontífice argentino na tradicional oração do Angelus. 

Cuba cerrou fileiras junto a seu aliado Morales e chamou neste domingo a comunidade internacional a condenar a "aventura golpista do imperialismo e da oligarquia" na Bolívia. 

Novas eleições

O presidente boliviano, Evo Morales, convocou neste domingo novas eleições, depois de que uma missão de auditoria da OEA detectou várias "irregularidades" no primeiro turno de 20 de outubro e pediu a realização de novas eleições com um novo órgão eleitoral.

O governante fez o anúncio pouco depois de que a Secretaria-Geral da OEA pediu a anulação do primeiro turno - no qual Morales foi reeleito sob denúncias de fraude por parte da oposição - e a realização de novas eleições. "Decidi renovar a totalidade de membros do tribunal supremo eleitoral", disse Morales em um anúncio pela televisão, indicando que vai "convocar novas eleições nacionais, que por meio do voto permitam ao povo boliviano escolher democraticamente novas autoridades". O presidente, que não esclareceu se será candidato novamente e não estabeleceu data para as novas eleições.

O secretário-geral da OEA, Luis Almagro, fez este pedido em virtude do informe técnico preliminar preparado por uma missão que auditou as eleições bolivianas e encontrou "irregularidades", questionando a "integridade" da apuração. "Nos quatro elementos revisados (tecnologia, cadeia de custódia, integridade das atas e projeções estatísticas) foram encontradas irregularidades, que variam desde muito graves até indicativas. Isto leva a equipe técnica auditora a questionar a integridade dos resultados da eleição", diz o informe. 

Morales, no poder desde 2006, ganhou um quarto mandato até 2025 em primeiro turno ao obter 47,08% dos votos e superar por mais de dez pontos o centrista Carlos Mesa (36,51%), mas a oposição denunciou uma fraude e foi às ruas exigir sua renúncia e novas eleições, com um órgão eleitoral autônomo, e sem que ele seja candidato. 

O líder regional Luis Fernando Camacho, que se tornou após a eleição o rosto mais visível da oposição, pretendia ir na segunda-feira à casa de governo, acompanhado por outros dirigentes opositores, para levar uma carta de renúncia a Morales, que esperava que o mandatário assinasse. 

"Manipulações do sistema informático" 

Os protestos começaram no dia seguinte à eleição na região oriental de Santa Cruz, a mais rica da Bolívia, mas foram se estendendo a outras cidades, incluindo La Paz, com um saldo de três mortos e mais de 250 feridos. As greves causaram perdas no valor de cerca de 12 milhões de dólares por dia, segundo cifras oficiais, e no sábado foram incendiadas as casas de dois governadores regionais, assim como a de Ester Morales, irmã mais velha do presidente, na região de Oruro (sul).

O informe da OEA aponta que "as manipulações do sistema informático são de tal magnitude que devem ser profundamente investigadas por parte do Estado boliviano para chegar ao fundo e apurar as responsabilidades deste caso grave". "Tendo em conta as projeções estatísticas, resulta possível que o candidato Morales tenha ficado em primeiro lugar e o candidato Mesa em segundo. No entanto, resulta improvável estatisticamente que Morales tenha obtido 10% de diferença para evitar um segundo turno", acrescenta. 

A oposição havia se oposto à auditoria da OEA porque pensava que se tratava de um artifício de Morales para ganhar tempo. Além disso, a oposição reprova o fato de o mandatário não ter reconhecido um referendo de 2016 no qual os bolivianos rejeitaram a reeleição indefinida. Uma polêmica sentença em 2017 de um tribunal constitucional lhe permitiu ser candidato novamente. 

Morales havia convocado no sábado os partidos políticos opositores a um diálogo, mas excluiu os poderosos comitês cívicos regionais que o questionam com os protestos de rua. Em meio as protestos, uma turba ocupou no sábado em La Paz as instalações dos meios estatais e obrigou os trabalhadores a abandoná-los. Outros manifestantes tomaram a rádio de um sindicato camponês, do qual Morales é afiliado.


Mais Lidas





Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895