Entenda as limitações e dificuldades de lançar ajuda aérea em Gaza

Entenda as limitações e dificuldades de lançar ajuda aérea em Gaza

Entrada de ajuda humanitária na Faixa foi reduzida ao mínimo desde o início da guerra em 7 de outubro

AFP

Envios aéreos foram um alívio breve, mas insuficiente, para alguns moradores da Faixa de Gaza

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Perante a situação humanitária desesperadora em Gaza, vários países começaram a lançar ajuda de paraquedas no território palestino, um método difícil e insuficiente para satisfazer as enormes necessidades da população, segundo vários atores envolvidos. Jordânia, Egito e Emirados Árabes Unidos já começaram a enviar ajuda humanitária de paraquedas sobre Gaza e os Estados Unidos anunciaram que "nos próximos dias" participarão destas operações. Mas um responsável americano reconheceu que "não passam de uma gota de água no oceano" de necessidades deste enclave devastado por quase cinco meses de guerra e quase sem acesso a alimentos, água ou medicamentos.

A entrada de ajuda humanitária na Faixa foi reduzida ao mínimo desde o início da guerra em 7 de outubro e as Nações Unidas alertam que a fome é "quase inevitável" neste território estreito e denso de 2,4 milhões de habitantes.

O conflito eclodiu com o ataque de milicianos do Hamas no sul de Israel, que deixou 1.160 mortos, a maioria civis, segundo uma contagem da AFP baseada em números oficiais israelenses.

A ofensiva aérea e terrestre lançada em resposta por Israel já matou mais de 30.200 pessoas, principalmente mulheres e crianças, segundo o Hamas, classificado por Israel, Estados Unidos e União Europeia como um grupo "terrorista".

Perdidos no mar

No norte da Faixa de Gaza, onde começou a ofensiva terrestre israelense, muitos habitantes comem apenhas forragem. E segundo o Ministério da Saúde deste território controlado pelo movimento islamista palestino Hamas, dez crianças já morreram de "desnutrição e desidratação".

Os envios aéreos foram um alívio breve, mas insuficiente, para alguns moradores como Imad Dughmosh, entrevistado pela AFP na cidade de Al Sabra, no centro da Faixa. "No final do dia consegui recuperar sacos de massa e queijo, mas os meus primos não conseguiram nada", disse o homem de 44 anos. "Estou feliz por ter comida para as crianças, mas não é suficiente".

O lançamento de ajuda de paraquedas acarreta riscos de acidentes em uma área superpovoada, mas também de imprecisões nas entregas. Os moradores de Gaza disseram à AFP que muitos paletes com ajuda acabaram caindo no meio do Mediterrâneo. "A maior parte da ajuda caiu hoje no mar. E os paraquedas que chegaram na quinta e sexta-feira caíram todos no mar, exceto um número muito pequeno", disse na sexta-feira Hani Ghabun, que mora na cidade de Gaza com sua esposa cinco filhos. Segundo ele, "seriam necessárias centenas de toneladas de ajuda para combater a fome e alimentar a população".

Difícil e custoso

O porta-voz do Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA), Jens Laerke, alertou que este método de envio gera "inúmeros problemas"."A ajuda que chega desta forma só pode ser um último recurso", declarou. "A entrega terrestre é simplesmente melhor, mais eficaz e menos custosa". E insistiu: "Se nada mudar, a fome será quase inevitável". As Nações Unidas acusam as forças israelenses de bloquearem "sistematicamente" o acesso à Faixa de Gaza, embora as autoridades de Israel o neguem. As organizações humanitárias argumentam que a melhor solução seria Israel abrir pontos de passagem de fronteira e permitir que comboios de caminhões entrassem e distribuíssem ajuda com total segurança.

Mas quase mil caminhões aguardam para entrar em Gaza na fronteira egípcia, segundo o porta-voz do secretário-geral da ONU, António Guterres. "O lançamento de paraquedas é extremamente difícil", disse o porta-voz Stéphane Dujarric. "Mas todas as opções estão sobre a mesa", acrescentou. Além de complicado, o transporte aéreo aumenta os custos das operações.

Embora um avião possa transportar o equivalente à carga de dois caminhões, o custo da transferência é dez vezes maior, disse Jeremy Konyndyk, presidente da ONG Refugees International, à BBC britânica. "Em vez de lançar alimentos do ar, deveríamos exercer forte pressão sobre o governo israelense para permitir a distribuição da ajuda por meio de canais mais tradicionais, que permitem que a ajuda seja prestada em maior escala", defendeu.

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