Espanha inicia procedimento legal para exumar corpo de Francisco Franco

Espanha inicia procedimento legal para exumar corpo de Francisco Franco

Militar está enterrado em um mausoléu de homenagem aos mortos de guerra das batalhas franquistas

AFP

No mesmo complexo foram sepultados quase 27 mil combatentes franquistas e 10 mil opositores republicanos

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O governo socialista da Espanha aprovará nesta sexta-feira um decreto para exumar o ditador Francisco Franco de um mausoléu, uma decisão que provoca divergências políticas no país. Para concretizar a medida, que tem a oposição da família do ditador, o governo do primeiro-ministro Pedro Sánchez optou por um decreto-lei. O decreto deverá ser aprovado no futuro pela Câmara Baixa do Parlamento, onde os socialistas, claramente minoritários, esperam obter a maioria com o apoio da esquerda radical do partido Podemos e dos nacionalistas bascos e catalães. O objetivo é acabar com uma "anomalia democrática, um mausoléu de culto a um ditador", afirmou o porta-voz socialista no Senado, Ander Gil.

O governo se apoia em uma proposta aprovada no Parlamento em maio de 2017, quando o governo era comandado pelo conservador Partido Popular, e que determinava a exumação. Desde 23 de novembro de 1975, três dias depois de sua morte, o corpo do general Franco, vencedor da Guerra Civil (1936-1939), está no 'Valle de los Caídos". O local, um impressionante complexo a 50 km de Madri, tem uma basílica com uma cruz de 150 metros de altura. O militar que governou o país de 1939 a 1975 está enterrado no altar da basílica sob uma laje sempre coberta por flores frescas, assim como o fundador do partido fascista Falange, José Antonio Primo de Rivera.

No mesmo complexo foram sepultados quase 27 mil combatentes franquistas e 10 mil opositores republicanos, motivo pelo qual o ditador apresentou o "Valle" como um local de "reconciliação". Os críticos, no entanto, o consideram um insulto às vítimas da repressão franquista, porque os corpos dos republicanos, retirados de cemitérios e valas comuns, foram levados até o local sem o consentimento de suas famílias. Além disso, o conjunto monumental foi construído por quase 20 mil presos políticos, entre 1940 e 1959.

Pedro Sánchez defendeu a iniciativa poucos dias depois de chegar ao poder, alegando que um lugar como "Valle de los Caídos" seria inimaginável em países como Alemanha ou Itália. A solução lógica seria enviar os restos mortais para o túmulo que a família Franco tem no cemitério El Pardo, na região de Madri. Os socialistas afirmam que desejam transformar o "Valle de los Caídos" em um verdadeiro local de reconciliação e memória, sem apresentar detalhes sobre como pretendem modificar um conjunto monumental de forte caráter católico e idealizado pelo próprio Franco.

Mas em um país onde a memória sobre a guerra e a ditadura continua sendo um tema envenenado, todos os projetos esbarram na oposição da família do ditador, da Fundação Francisco Franco, que reivindica sua memória, e sobretudo com a do PP, que insiste na necessidade de não reabrir "antigas feridas". Os conservadores já informaram que pretendem recorrer ao Tribunal Constitucional contra a exumação, pois consideram abusivo o uso de um decreto-lei para um tema que não é urgente.

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