EUA combate a recessão após a guerra ao terror

EUA combate a recessão após a guerra ao terror

A resposta ao 11/9 está na raiz da pior crise econômica americana depois de 1929

Correio do Povo

Após guerra ao terror, Estados Unidos combate a recessão

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Dez anos depois dos maiores atentados terroristas da história e três anos após o início da pior crise econômica e financeira nos Estados Unidos e no mundo desde a grande recessão desencadeada pela quebra da Bolsa de Valores de Nova Iorque, em 1929, tornou-se impossível não estabelecer uma profunda relação entre os dois fatos. É o que revela o jornalista Marcel Gugoni, em matéria especial para o portal de notícias R7.

O enorme endividamento do país tem muito a ver com as decisões do ex-presidente George W. Bush (2001-2009) sobre as prioridades de gastos do governo dos Estados Unidos. O Congresso americano estima que as duas frentes de batalha, no Iraque e no Afeganistão, já custaram R$ 2,1 trilhões (1,3 trilhão de dólares) até agora - e o número não para de subir. Em 2001, antes dos ataques do 11/9, o dinheiro destinado à defesa pelos EUA era de R$ 495 bilhões (304 bilhões de dólares). Em 2008, no último ano do governo Bush, esse montante havia mais do que dobrado, passando a mais de R$ 1 trilhão (616 bilhões de dólares). A fatia da dívida americana em relação a todas as riquezas geradas no país passou de 56,5%, dez anos atrás, para 92,2%. O número é tão preocupante que o governo de Barack Obama precisou lutar no Congresso para elevar o teto da dívida a fim de que o país não desse um calote, no começo de agosto. Isso nada mais foi do que a herança de gastos militares excessivos deixada ao atual presidente pelo antecessor.

Marcel Gugoni lembra que o historiador Melvyn P. Leffler, da Universidade da Virginia, afirmou em artigo publicado na edição mais recente da revista americana Foreign Affairs que o endividamento com as guerras minou a economia americana como um todo. "A liderança dos EUA foi erodida pelas dívidas crescentes, resultado da diminuição de taxas e do aumento dos gastos domésticos", analisa Leffler.

Uma das propostas da campanha de Bush para a Presidência, em 2000, era diminuir os impostos dos mais ricos. A medida, que pesou a favor dele na eleição e lhe ajudou a garantir a vaga na Casa Branca, foi cumprida e diminuiu a arrecadação federal ao longo do tempo em que ele foi presidente. Gugoni também cita o livro "Globalização, democracia e terrorismo" (Companhia das Letras, 2007, R$ 40,50), no qual o britânico Eric Hobsbawm afirma que, em algum momento, a população iria pagar a conta pelas decisões de Bush. Leffler, por sua vez, observa que o orçamento americano foi de um superávit de R$ 208 bilhões (128 bilhões de dólares), em 2001, para um déficit de R$ 746 bilhões (458 bilhões de dólares) em 2008. O número ainda não considera sequer os efeitos da quebra do banco Lehman Brothers, o marco do início da crise mundial de 2008. Renato Colistete, professor de história econômica da FEA-USP,defende que a economia americana passa, hoje, por uma crise de confiança parecida com a vista no começo dos anos 1970. "Na Guerra do Vietnã houve uma crise fiscal parecida, que elevou a dívida pública a níveis altíssimos. Houve então a queda do padrão dólar, em 1971, e, depois, a crise do petróleo, em 1973. As duas causaram no mundo uma enorme desconfiança na economia americana", afirma.

A desaceleração dos EUA foi o que moldou o mundo após o 11/9, do ponto de vista econômico. Hobsbawm escreve que a guerra abriu espaço ainda maior para a dominação do comércio mundial pela China, que hoje é a segunda maior economia do mundo. Em 2001, antes do ataque, o país não havia superado as riquezas de Alemanha e Japão.




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