EUA deixam o Tratado dos Céus Abertos, um dos principais mecanismos da segurança coletiva na Europa

EUA deixam o Tratado dos Céus Abertos, um dos principais mecanismos da segurança coletiva na Europa

Anúncio foi feito pelo Departamento de Estado, seis meses depois da decisão do governo de Donald Trump de abandonar o acordo, em vigor desde 2002

AE

Na visão da atual Casa Branca, a permanência dos EUA era insustentável

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O governo dos Estados Unidos formalizou, no domingo, sua saída do tratado de defesa conhecido como "Céus Abertos", visto como um dos principais mecanismos da segurança coletiva na Europa. O anúncio foi feito pelo Departamento de Estado, seis meses depois da decisão do governo de Donald Trump de abandonar o acordo, em vigor desde 2002. Inicialmente com 35 países, o tratado permitia que seus signatários realizassem voos de observação sobre os territórios de outras nações, como forma de monitorar iniciativas e arsenais militares.

Contudo, na visão da atual Casa Branca, a permanência dos EUA era insustentável, citando alegações de que a Rússia, também signatária, estava descumprindo suas obrigações. Entre elas, o veto a voos sobre a região de Kaliningrado, que fica entre a Polônia e a Lituânia, e sobre uma área de fronteira entre a Rússia e a Geórgia.

"A Rússia não aderiu ao tratado, então enquanto eles não aderirem nós estamos fora", declarou Donald Trump, em maio, ao anunciar a saída americana. Moscou rejeita as alegações e, por sua vez, acusa Washington de descumprir os termos do texto.

Na mesma época, 11 países europeus, incluindo a Alemanha e a França, emitiram um comunicado lamentando a decisão americana, mas reconhecendo que há problemas envolvendo a participação russa. Contudo, ao invés de medidas drásticas, defendiam o diálogo com Moscou para aparar as arestas.

Integrantes das Forças Armadas americanas estão dispostos a compartilhar informações de segurança com os parceiros europeus, mas não se sabe em que nível. O Tratado dos Céus Abertos foi um dos grandes acordos de Defesa abandonados por Donald Trump durante seu mandato. Um deles foi o Tratado das Forças Nucleares de Alcance Intermediário, deixado de lado em 2019 - ele vetava o uso e desenvolvimento de mísseis com alcance entre 500 km e 5.500 km e estava em vigor desde 1987.

Ainda na esfera das armas nucleares, Washington e Moscou pareciam, em outubro, perto de um acerto para estender por mais um ano o Novo Start, que trata sobre o número de ogivas nucleares mantidas pelas duas nações, mas as eleições nos EUA paralisaram as tratativas.

O texto, o último mecanismo de controle sobre esse tipo de arsenal, vence em fevereiro. O maior ponto de discórdia é a insistência americana de incluir a China em um novo acordo, algo que Pequim não está disposta a fazer. O republicano, que deixa a Casa Branca no dia 20 de janeiro, também retirou os EUA do acordo sobre o programa nuclear do Irã, firmado em 2015 ainda no governo de Barack Obama.

O texto, assinado ainda por Rússia, China, Reino Unido, França, além do próprio Irã e da União Europeia, previa limites às atividades atômicas do Irã, com o objetivo de impedir uma militarização, e oferecia o fim das sanções e um acesso considerado normal dos iranianos ao comércio internacional. Para Trump, era o "pior acordo da história", e foi abandonado por ele em 2018. O presidente eleito Joe Biden já prometeu recolocar os EUA no tratado, mas o caminho não deve ser tão simples. 


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