EUA e México fecham acordo sobre imigração e evitam tarifas

EUA e México fecham acordo sobre imigração e evitam tarifas

Líder americano havia anunciado tarifa de 5% sobre importação de todos os produtos procedentes do país vizinho

AFP e Agência Brasil

Contenção do fluxo migratório ficou na responsabilidade do México

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Estados Unidos e México chegaram a um acordo sobre imigração na sexta-feira e conseguiram evitar a imposição de tarifas contra os produtos mexicanos exportados para os EUA. Neste sábado, o presidente americano, Donald Trump, disse que o acordo funcionará se o país vizinho cumprir sua parte para conter o fluxo migratório. "O México se esforçará muito e, se fizer isso, este será um acordo muito bem-sucedido tanto para os Estados Unidos quanto para o México!", tuitou Trump hoje cedo.

Ele também anunciou que o país vizinho "aceitou começar de imediato a comprar grandes quantidades de produtos agrícolas dos grandes agricultores patriotas (americanos)".

Também neste sábado, o secretário do Tesouro americano, Steven Mnuchin, comemorou o acordo, o qual considerou "muito, muito importante". "Não poderíamos estar mais satisfeitos com o acordo alcançado. É muito, muito importante e valorizamos o compromisso do México de nos ajudar em importantes temas migratórios", declarou Mnuchin em Fukuoka, onde está para a reunião do G20 financeiro. "Em consequência, o presidente decidiu que não aplicaremos as tarifas aduaneiras", completou o secretário, manifestando sua satisfação com este "resultado crucial". 

México cede na migração

"Tenho o prazer de lhes informar que os Estados Unidos obtiveram um acordo com o México. As tarifas programadas para serem implementadas na segunda-feira contra o México estão suspensas indefinidamente", tuitou Trump ontem. "O México, por sua vez, concordou em adotar medidas enérgicas para deter a maré de emigração" através do território mexicano "em direção à nossa fronteira sul", acrescentou o presidente americano. "Isto está se fazendo para reduzir, ou eliminar, em grande medida a imigração ilegal que vem do México para os Estados Unidos", completou Trump.

Segundo uma declaração conjunta, o México adotará "medidas sem precedentes" para deter o fluxo de emigrantes centro-americanos por seu território em direção aos Estados Unidos, inclusive mediante a mobilização de tropas de sua Guarda Nacional. O México também se comprometeu a desmantelar os grupos de tráfico de pessoas.

Além disso, os emigrantes que cruzarem a fronteira para os EUA para solicitar asilo serão devolvidos sem demora para o território mexicano, onde poderão aguardar o resultado de seu pedido. "Os Estados Unidos se comprometem a acelerar a resolução dos pedidos de asilo e a proceder com os trâmites de remoção o mais rápido possível", informa a declaração conjunta. O México destacou que dará oportunidades de trabalho e acesso à saúde e à educação aos emigrantes e às suas famílias, enquanto permanecerem em seu território.

Os dois países reafirmaram seu compromisso de 18 de dezembro sobre fomentar o desenvolvimento econômico e os investimentos no sul do México e na América Central "para se criar uma zona de prosperidade", uma proposta do presidente mexicano, López Obrador. O anúncio do acordo saiu ao final de três dias de negociações em Washington entre funcionários da administração Trump e do governo mexicano.

López Obrador celebrou o acordo no Twitter: "graças ao apoio de todos os mexicanos foi possível evitar a imposição de tarifas aos produtos mexicanos exportados para os Estados Unidos".

O chanceler mexicano, Marcelo Ebrard, que liderou a delegação em Washington, avaliou que "se obteve um equilíbrio justo" nas negociações. "Chegamos a um ponto intermediário e aceitaram apoiar o programa que o México propõe para a América Central", afirmou.

O governo de López Obrador aposta em promover o desenvolvimento na Guatemala, em Honduras e em El Salvador, origem da maioria dos emigrantes, para deter seu fluxo em direção aos Estados Unidos. Os emigrantes centro-americanos abandonam seus países, fugindo da falta de perspectiva econômica e da violência provocada por quadrilhas de criminosos.

Decidido a forçar o México a deter o crescente fluxo migratório em direção aos EUA, Trump havia anunciado na semana passada a adoção de tarifas sobre todos os produtos mexicanos. A partir de 10 de junho, os produtos seriam sobretaxados em 5%, com um aumento gradual mensal até chegar a 25%. A medida era potencialmente desastrosa para o México, que destina 80% de suas exportações aos EUA.

Na quinta-feira, o México informou os Estados Unidos sobre o envio de seis mil homens da Guarda Nacional para a fronteira com a Guatemala. Mais de 144.000 migrantes, em sua maioria da América Central, foram detidos em maio na fronteira com o México. Foram 32% a mais do que em abril. O ritmo de chegada de imigrantes sem documentos, 677.000 desde outubro, é o mais alto desde 2006, segundo cifras oficiais americanas divulgadas antes do início das negociações.

Acordo entre os países

Diante da ameaça, o ministro das Relações Exteriores do México, Marcelo Ebrard, e outras autoridades do país viajaram a Washington, onde conseguiram costurar um acordo após três dias de intensas negociações no Departamento de Estado americano.

Sob o pacto, o México concordou em acolher migrantes que cruzarem a fronteira entre os dois países de forma irregular - a maioria centro-americanos de nações como Guatemala, Honduras e El Salvador - enquanto os Estados Unidos processam pedidos de refúgio. "Aqueles que cruzarem a fronteira sul dos Estados Unidos para pedir asilo serão rapidamente devolvidos ao México, onde poderão esperar a resolução de seus pedidos", afirmaram os governos mexicano e americano em comunicado.

"O México autorizará a entrada de todas essas pessoas por razões humanitárias, em cumprimento de suas obrigações internacionais, enquanto aguarda a resolução de pedidos de refúgio. O México também lhes oferecerá emprego, saúde e educação de acordo com seus princípios" afirmou o governo.

Por outro lado, o governo mexicano conseguiu evitar uma proposta que vinha rejeitando continuamente: a de processar solicitações de refúgio em seu próprio território antes que os migrantes tentem chegar aos Estados Unidos. O país se comprometeu, contudo, a "tomar medidas sem precedentes para impedir a imigração irregular" e "para desmantelar as organizações de tráfico de pessoas e suas redes ilícitas de financiamento e transporte".

Tempo de espera

Os governos dos dois países também concordaram em adotar "medidas adicionais" caso as estipuladas agora "não apresentem os resultados esperados" nos próximos 90 dias.
O presidente mexicano, Andrés Manuel López Obrador, que havia anunciado uma viagem à cidade de Tijuana, na fronteira com os Estados Unidos, para "defender a dignidade do México" antes das tarifas americanas, disse que sua visita será agora para "celebrar".

"Graças ao apoio de todos os mexicanos fomos capazes de evitar tarifas sobre os produtos mexicanos exportados para os Estados Unidos", escreveu no Twitter o presidente esquerdista, que, desde sua eleição no ano passado, vem tentando cautelosamente não contrariar Trump.

Na quinta-feira, o México já havia anunciado a mobilização de seis mil membros da Guarda Nacional para a fronteira com a Guatemala a fim de conter o fluxo de migrantes centro-americanos.

O secretário de Estado americano, Mike Pompeo, agradeceu ao México e ao ministro das Relações Exteriores do país pelo "trabalho duro" durante os três dias de negociações do acordo. "Os Estados Unidos esperam trabalhar em conjunto com o México para cumprir esses compromissos, para que possamos conter a onda de migração ilegal na nossa fronteira sul e para tornar a nossa fronteira forte e segura", disse Pompeo.

Fluxo de migrantes

Segundo o governo mexicano, 300 mil migrantes já chegaram ao país a partir da Guatemala desde o início do ano, e 51 mil deles foram detidos, o que representa um aumento de 17% em relação ao mesmo período de 2018. Já na fronteira entre o México e os Estados Unidos, as autoridades americanas detiveram mais de 132 mil migrantes somente em maio, um crescimento de 30% em relação a abril e o maior número registrado em um único mês desde 2006.

Trump acusa o México de tomar pouca ou nenhuma atitude para travar esses migrantes, que têm se movido em grandes grupos pelo país rumo aos Estados Unidos. Por isso, ameaçou retaliar com tarifas sobre produtos importados.

O México exporta 350 bilhões de dólares em mercadorias todos os anos para os Estados Unidos. Analistas previam que as taxas de Trump poderiam colapsar a economia mexicana, que entraria em risco de recessão. Mas a imposição de tarifas também encontrou forte oposição nos Estados Unidos, por parte de políticos do próprio Partido Republicano de Trump, em especial parlamentares de estados onde a agricultura é relevante. Eles temiam perder seu segundo maior mercado internacional.


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