EUA e o paradoxo de ir à COP24, apesar de Trump tirar país do Acordo de Paris

EUA e o paradoxo de ir à COP24, apesar de Trump tirar país do Acordo de Paris

Países signatários querem chegar a um consenso sobre as regras de aplicação do pacto

AFP

Fato de Donald Trump ter anunciado, em 1º de junho de 2017, a retirada dos Estados Unidos do Acordo de Paris sobre o Clima, assinado em 2015, por seu antecessor, Barack Obama, não alterou a participação americana

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Na semana que vem, em Katowice, na Polônia, uma discreta delegação de diplomatas americanos participará durante duas semanas das negociações internacionais sobre o clima e vão encontrar colegas europeus, chineses e de outros países, que eles conhecem há anos. O fato de Donald Trump ter anunciado, em 1º de junho de 2017, a retirada dos Estados Unidos do Acordo de Paris sobre o Clima, assinado em 2015, por seu antecessor, Barack Obama, não alterou a participação americana. A retirada só será efetiva em 2020. Enquanto isso, os americanos não querem deixar sua cadeira vazia.

Melhor ainda, "entre os países desenvolvidos, os Estados Unidos não estão totalmente isolados", disse à AFP Alden Meyer, veterano de negociações climáticas da Union of Concerned Scientists (União de Cientistas Preocupados), uma organização baseada em Washington. Os americanos formam uma frente comum com os europeus e negociadores de outros países desenvolvidos sobre os temas técnicos, mas indispensáveis à aplicação efetiva do Acordo de Paris.

A 24ª Conferência das Partes sobre a Convenção de Mudanças Climáticas, ou simplesmente "COP24", se segue à COP21, em 2015, em Paris. Desta vez, os 197 países signatários não devem negociar com base em cifras de redução de gases estufa, mas chegar a um consenso sobre as regras de aplicação do pacto.

Os países deverão, por exemplo, determinar uma forma comum de compatibilizar suas emissões, a fim de poder comparar o avanço de cada um. Deve incluir os efeitos do desmatamento e si, de que forma? Quem vai avaliar os resultados dos países e quando? E o que fazer quando um país não respeitar seus compromissos?

Sobre estes temas, os americanos têm objetivos muito precisos. Eles rejeitam que os países desenvolvidos sejam submetidos a regras mais estritas que os países em desenvolvimento - uma posição adotada invariavelmente nas administrações de George W. Bush, Barack Obama e Donald Trump.

Pós-Trump

Por que os outros países coperam com os Estados Unidos? Porque preparam o terreno para uma eventual futura permanência dos americanos no acordo de Paris. Todos sabem que a saída de Washington do pacto será efetiva em 4 de novembro de 2020, no dia seguinte da próxima eleição presidencial americana. Ou então, Trump poderia hipoteticamente decidir permanecer no acordo.

"A maioria dos países com que falei tentam fazer a distinção entre a administração de Trump e os Estados Unidos no longo prazo", explica Alden Meyer. "Existe uma certa simpatia com respeito às posições americanas, porque os outros países não querem complicar a tarefa de um futuro presidente que desejar retornar ao acordo".

Ovais Sarmad, número dois do organismo da ONU que supervisiona as negociações, lembra à AFP que existem outros 183 países, que ratificaram o acordo de Paris. "Há muita esperança e energia, e nós esperamos que a posição americana evolua com o tempo", acrescenta.

A delegação americana será liderada por Trigg Talley, um veterano em negociações internacionais, que participou de reuniões climáticas anteriores.

"A equipe que representa os Estados Unidos é composta de diplomatas de carreira, que negociam estes temas há anos e adquiram uma credibilidade considerável ao lado de seus colegas de outros países", diz Elliot Diringer, diretor do 'think tank' C2ES em Washington, que conversou com diversos negociadores internacionais.

Uma prova do peso dos Estados Unidos é que o país bloqueou, segundo ONGs, discussões em Bangcoc em setembro sobre a questão do financiamento que os países desenvolvidos devem desbloquear para ajudar os países mais pobres para completar sua transição ecológica. Os americanos rejeitam que uma regra os obrigue a determinar quanto vão doar com anos de antecedência e os europeus seguem a mesma linha.

Que se saiba, nenhuma personalidade política americana de peso irá a Katowice. Ao lado da delegação técnica de diplomatas, uma delegação política chegará na segunda semana, segundo um representante da Casa Branca, Wells Griffith.

Logo após sua chegada, o conselheiro de energia de Donald Trump deverá presidir um evento de promoção das energias fósseis e do carvão. Uma provocação para alguns, mas que não deverá na realidade presidir as negociações que vão se seguir em caráter privado.

"Os americanos continuam a negociar de forma construtiva", assegura à AFP uma fonte próxima das negociações. "Obviamente, é preciso suportar o fato de que vêm apoiar o carbono, mas durante este período, podemos trabalhar com tranquilidade."

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