EUA veem divisão inédita na Rússia e devem ampliar apoio à Ucrânia

EUA veem divisão inédita na Rússia e devem ampliar apoio à Ucrânia

Avaliação é que situação deve facilitar a aprovação de mais ajuda norte-americana a Kiev

AE

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A breve rebelião do Grupo Wagner na Rússia revelou rachaduras no poder do presidente Vladimir Putin que aumentam as dúvidas sobre a capacidade na guerra da Ucrânia, avaliou neste domingo o secretário de Estado dos Estados Unidos, Antony Blinken. Líderes partidários democratas e republicanos afirmaram que o incidente deixa a Rússia "distraída e dividida" e pode se refletir no campo de batalha. A situação deve facilitar a aprovação de mais ajuda americana a Kiev.

Para Blinken, a marcha do Grupo Wagner na direção de Moscou contrasta com a imagem que a Rússia tinha antes da invasão à Ucrânia, em fevereiro de 2022. "Dezesseis meses atrás, as forças russas estavam às portas de Kiev acreditando que tomariam a capital em questão de dias. Agora, o que vimos é a Rússia tendo que defender Moscou contra mercenários do próprio país", declarou em entrevista à emissora NBC.

Segundo o jornal The Washington Post, as agências de inteligência americanas sabiam há dias dos planos de rebelião armada do chefe do Grupo Wagner, Ievgeni Prigozhin. Entretanto, o tamanho do motim e o momento em que ela foi colocada em curso só foi descoberta horas antes de seu início.

A reação dos EUA à crise foi discreta, mas unida. Em um raro consenso sobre o tema, os líderes políticos disseram que estão mais determinados no apoio à Ucrânia e convictos sobre a estratégia adotada na guerra. "O que vimos neste fim de semana foi quão frágil é a liderança de Putin agora, quão frágil é o exército russo", declarou o deputado republicano Don Bacon, ex-general da Força Aérea Americana. Também em entrevista à NBC, o deputado instou os membros do seu partido a continuar fornecendo equipamento militar à Ucrânia.

O presidente Joe Biden não se pronunciou publicamente sobre o assunto, mas ligou para o colega ucraniano, Volodmir Zelenski, para reiterar o seu apoio na guerra. A Casa Branca convocou autoridades para avaliar o quanto o poder de Putin foi afetado pelo motim.

Muitas perguntas seguem em aberto. Dentre elas, o porquê Putin desistiu de ordenar um ataque militar a Prigozhin e o quanto a crise afeta o desempenho dos exércitos na guerra. Embora analistas tenham levantado a hipótese de um endurecimento russo nos ataques à Ucrânia, os relatos do dia seguinte à rebelião era de uma noite mais calma no país atacado. "É muito cedo para dizer exatamente aonde isso vai dar", concluiu Blinken.

Enquanto as consequências são observadas pelo exterior, a Rússia tentou retomar à normalidade no dia seguinte à crise com Prigozhin. Não houve novos pronunciamentos do governo sobre o assunto, e nenhuma mudança no Ministério de Defesa russo, pedidas pelo chefe dos mercenários quando iniciou o levante, foi anunciada. A agência de notícia estatal, Tass, destacou a desobstrução de estradas que estavam bloqueadas e divulgou uma entrevista de Putin gravada no dia 21, dois dias antes da crise, em que ele reitera a confiança na sua campanha na Ucrânia.

Apesar da aparente normalidade, Moscou manteve o decreto de emergência antiterrorista em vigor e Putin esteve em contato com o ditador de Belarus, Alexsander Lukashenko, que intermediou o acordo com o Grupo Wagner no sábado. O serviço de imprensa da Rússia também informou que Putin trabalhou em "regime especial", sem especificar do que se tratava.

Nos principais programas televisivos do Kremlin, o motim foi tratado como uma traição, repetindo as alegações de Putin durante um discurso no sábado. Os jornais também destacaram que a iniciativa de Prigozhin teve pouco apoio popular e que ele seria um "traidor". Desde que anunciou a saída da Rússia, o mercenário está em silêncio.


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