França busca entender brutal assassinato da adolescente Lola

França busca entender brutal assassinato da adolescente Lola

Imagens de videovigilância mostram menina de 12 anos entrando no edifício junto com a suspeita

AFP

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"Por que Lola?". A França ainda tentava, nesta quarta-feira (19), compreender o que levou uma jovem em situação irregular a, em tese, violentar e matar Lola, uma menina de 12 anos, na sexta-feira (14), em Paris - um crime que chocou o país.

"Uma comoção nacional", a "onda expansiva"... Os jornais traziam em sua primeira página a trágica morte de Lola, em um bairro residencial no nordeste de Paris, um evento que provocou, na véspera, uma dura troca de acusações entre o governo e a oposição de direita e extrema direita. "Não é o momento de realizar um julgamento político (...) É o desejo dos pais", disse o porta-voz do governo, Olivier Véran, nesta quarta, pedindo que se confie na Justiça para obter "todas as respostas".

Um editorial do jornal Le Figaro resumiu as questões que pairam na cabeça dos franceses desde a noite de sexta-feira, quando um morador de rua de 42 anos encontrou o corpo da menina dentro de um baú deixado do lado de fora de sua casa.

"Por que Lola? Por que ela cruzou com a morte numa sexta-feira à tarde na entrada de seu prédio? Por que tanta crueldade? (...) A investigação começa. A tragédia não revelou todos os seus segredos", escreveu o jornal conservador.

A perplexidade é ainda maior no local do homicídio, um bairro familiar e tranquilo do nordeste de Paris, onde se costuma ver crianças indo e voltando sozinhas, de casa para uma das várias escolas da região.

"Podia ter sido com nossos filhos (...) Estamos chocados", disse à AFP Farida Ferhat, uma mãe de 51 anos, do lado de fora do centro educacional onde a vítima estudava, lamentando a falta de "segurança" no bairro.

Parte das respostas talvez possa ser dada por Dahbia B., uma mulher de origem argelina e em situação irregular na França. Presa na manhã de sábado (15), ela está em prisão preventiva acusada de "homicídio" e de "estupro agravado".

"Entre reconhecimento e negação"

Os investigadores estão tentando determinar o que aconteceu exatamente e o que motivou o homicídio. Na terça-feira (18), a promotora pública de Paris, Laure Beccuau, revelou os primeiros elementos da investigação confiada a três juízes de instrução.

Na tarde de sexta-feira, a mãe de Lola denunciou seu desaparecimento à polícia, depois que sua filha não voltou da escola de ensino médio Georges Brassens. O colégio fica a cerca de 300 metros de sua residência, onde o pai da menina trabalha como porteiro.

As imagens de videovigilância mostram Lola entrando no edifício junto com a suspeita. Esta, por sua vez, sai às 17h (horário local), cerca de duas horas depois, com a bagagem. A necropsia revelou que Lola morreu asfixiada.

De acordo com o jornal Le Parisien, a suspeita obrigou-a a tomar banho no apartamento de sua irmã no condomínio, antes de infligir atos considerados como estupro. O corpo apresentava marcas de ataques cometidos com arma branca no pescoço, no rosto e nas costas.

Uma vez na rua, a suposta assassina teria pedido ajuda para transportar o baú com o corpo para um município ao noroeste da capital, ainda segundo o jornal. No final, ela recorreu a um amigo motorista que a ajudou, mas esta voltou com sua macabra bagagem, à noite, com outro motorista.

Sob custódia policial, as declarações da suspeita "oscilavam entre o reconhecimento e a negação dos fatos", segundo o comunicado da promotora. Um documento consultado pela AFP indica que "não demonstrou empatia" com a vítima.

Troca de acusações

A polícia conhecia a suspeita, que apresentaria problemas psicológicos e uma história de vida caótica marcada pela marginalização. Em 2018, foi vítima de violência doméstica. Um primeiro exame determinou, contudo, que ela poderia ser interrogada.

A trágica morte de Lola colocou o governo em uma situação difícil, acusado de demorar a manifestar sua compaixão pela família. O presidente francês, Emmanuel Macron, recebeu os pais da menina na terça-feira.

Nesse dia, seu Executivo teve de se defender no Parlamento contra acusações, por parte da direita e da extrema direita, de "frouxidão" na política de imigração. O ministro da Justiça, Éric Dupond-Moretti, acusou-os de instrumentalizar o "caixão de menina".

Os pais de Lola, "principalmente, não querem um uso político" de sua morte, disse ao Le Parisien, o prefeito da cidade de Fouquereuil, Gérard Ogiez, de onde a família da vítima é oriunda e onde estão de luto.

A extrema direita planeja se concentrar no bairro da vítima na noite de quinta-feira.


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