França registra maior protesto contra reforma da Previdência proposta por Macron

França registra maior protesto contra reforma da Previdência proposta por Macron

Segundo o governo, 1,28 milhão de pessoas (3,5 milhões de acordo com o sindicato CGT) participaram da maior manifestação contra uma reforma social em três décadas

AFP

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A mobilização na França contra a reforma da Previdência promovida pelo presidente liberal Emmanuel Macron entrou nesta terça-feira (7) em uma nova fase, com o maior protesto já ocorrido nas ruas e o início de uma greve em setores-chave.

Segundo o governo, 1,28 milhão de pessoas (3,5 milhões de acordo com o sindicato CGT) participaram da maior manifestação contra uma reforma social em três décadas, um balanço levemente superior ao de 31 de janeiro, quando a polícia registrou 1,27 milhão de manifestantes, e o CGT, 2,8 milhões.

O sexto dia de mobilização contra o endurecimento das condições de acesso à aposentadoria integral reuniu, no entanto, um número menor de grevistas do setor público do que em seu começo, no dia 19 de janeiro.

Ao fim do dia, a frente sindical pediu ao presidente francês uma reunião "urgente", pois seu "silêncio não é mais possível" e convocou uma nova manifestação para o sábado e outra para a próxima semana, coincidindo com os momentos-chave da tramitação legislativa do projeto.

"Não nos renderemos. Temos que impactar o governo, para que ceda", disse Patrick, um aposentado ferroviário de 61 anos, que se manifestou sob a chuva em Calais.

Os sindicatos também apoiaram as manifestações convocadas para amanhã, por ocasião do Dia Internacional da Mulher, e quinta-feira, a pedido dos estudantes, dois dos grupos que consideram estar entre os mais prejudicados pela reforma.

Macron coloca em jogo uma parte de seu crédito político, depois que a pandemia o obrigou a abandonar uma reforma anterior durante seu primeiro mandato, também marcado pelo protesto social dos "coletes amarelos".

Mas de acordo com pesquisas, dois em cada três franceses são contrários ao projeto de elevar a idade de aposentadoria de 62 para 64 anos a partir de 2030 e de antecipar para 2027 a exigência de contribuição por 43 anos (e não 42, como atualmente) para receber a pensão integral.

Os protestos desta terça-feira tiveram confrontos isolados com as forças de segurança em várias cidades, entre elas Paris, onde 43 pessoas foram detidas.

O governo não consegue convencer sobre a necessidade de uma reforma para evitar um déficit no caixa das pensões e busca desacreditar as críticas. A primeira-ministra Élisabeth Borne chamou ontem a nova estratégia sindical de "irresponsável".

Cortes de energia "selvagens"

Após semanas de protestos pacíficos, os sindicatos intensificaram sua luta após o fim das férias escolares de inverno na França, com o objetivo de "paralisar a economia".

O dia amanheceu com estradas bloqueadas de Rennes (oeste) a Perpignan (sul), a suspensão do envio de combustível de todas as refinarias, uma greve dos lixeiros, escolas fechadas e trens e voos cancelados.

Em Annonay (sudeste), cidade do ministro do Trabalho, Olivier Dussopt, mais de 2.000 casas ficaram sem eletricidade, informou a empresa Enedis. Outros possíveis cortes de energia "selvagens" foram registrados em Boulogne-sur-Mer e Neuville-en-Ferrain (norte).

Os grevistas já haviam paralisado ontem três dos quatro terminais de GNL por "sete dias", e, desde sexta-feira, reduzem a produção de energia nas centrais nucleares. As paralisações continuarão até quinta-feira no serviço ferroviário e no transporte público parisiense.

Apesar da forte mobilização, o percentual de grevistas foi menor do que o registrado no começo, principalmente entre ferroviários (39% ao meio-dia, segundo os sindicatos) e professores (um terço, segundo o governo).

A última vez que se conseguiu frear uma reforma da Previdência foi em 1995. Os sindicatos paralisaram os serviços de trens e metrô por três semanas, com o apoio em massa da opinião pública.

Pouco depois do protesto, o Senado retomou seu exame sobre a reforma, com o debate do artigo-chave referente à idade de aposentadoria. "Chegamos ao coração do seu projeto de lei, que nosso povo declarou inaceitável", ressaltou a senadora comunista Cathy Apourceau-Poly.


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