França vive distúrbios após morte de jovem em ação policial

França vive distúrbios após morte de jovem em ação policial

Forças francesas são acusadas com frequência de abusos ou uso excessivo da força

AFP

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A morte de um jovem atingido por um tiro da polícia provocou distúrbios em um subúrbio de Paris, na França, na madrugada desta quarta-feira e muitas críticas de políticos e celebridades, como o astro do futebol Kylian Mbappé e o ator Omar Sy.

A tragédia, que provocou a retomada do debate sobre a violência policial na França, aconteceu na manhã de terça-feira em Nanterre, na periferia oeste de Paris, durante uma abordagem policial ao jovem que dirigia um carro amarelo.

Um vídeo que circula nas redes sociais, verificado pela AFP, mostra o momento em que um dos agentes aponta uma arma para o motorista e atira à queima-roupa quando ele acelera com o veículo. Na gravação é possível ouvir a frase "você vai tomar um tiro na cabeça", mas não está claro quem pronuncia as palavras.

A fuga do jovem terminou alguns metros adiante, quando o carro bateu contra um poste. A vítima, Naël M., faleceu pouco depois de ter sido atingido por um tiro no tórax. O caso provocou vários atos de distúrbios em Nanterre na terça-feira à noite e durante a madrugada de quarta-feira, com o balanço de 31 detidos, 24 policiais levemente feridos e 40 carros incendiados, segundo as autoridades.

O ministro do Interior, Gérald Darmanin, anunciou a mobilização de 2 mil policiais e gendarmes durante a quarta-feira nos subúrbios ao oeste da capital francesa para evitar novos distúrbios.

Situação inaceitável

A tragédia mais recente provocou uma onda de indignação. "A pena de morte não existe mais na França. Nenhum policial tem o direito de matar, exceto em caso de legítima defesa", tuitou o político de esquerda Jean-Luc Mélenchon.

Além da oposição de esquerda ao presidente centrista Emmanuel Macron, astros do futebol e celebridades se uniram às críticas e pediram uma "justiça digna", nas palavras do ator Omar Sy. "Estou sofrendo pela minha França. Uma situação inaceitável", tuitou o atacante Kylian Mbappé, do Paris Saint-Germain (PSG), que expressou pêsames à família de Naël, "um anjo que nos deixou muito cedo".

Jules Koundé, jogador do FC Barcelona, também reagiu contra o que chamou de "novo abuso policial" e chamou a situação de "dramática". Darmanin afirmou na terça-feira na Assembleia Nacional (Câmara Baixa) que as imagens da operação são "muito impactantes", mas pediu que todos respeitem o "luto" dos parentes da vítima e a "presunção de inocência" dos policiais.

O agente de 38 anos suspeito de atirar contra o jovem está sob custódia da polícia. A justiça abriu duas investigações: uma por homicídio doloso por parte de um funcionário público e outra pela recusa da vítima a obedecer ordens e tentativa de homicídio doloso contra funcionário.

As forças de segurança na França são acusadas com frequência de abusos ou uso excessivo da força, como durante os protestos recentes contra a reforma da Previdência. Em novembro de 2020, Mbappé reagiu à agressão que o produtor musical negro Michel Zecler sofreu de policiais em Paris. Na ocasião, o atleta denunciou uma violência "inadmissível". A França registrou 13 mortes em 2022 durante incidentes similares ao de Naël em operações da polícia para controlar o trânsito.


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