França vive novo dia de protestos contra a reforma da Previdência

França vive novo dia de protestos contra a reforma da Previdência

Cerca de 250 manifestações, em todo o país, foram convocadas e número de participantes pode ultrapassar 1 milhão

AFP

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Escolas fechadas, trens cancelados e queda na produção de eletricidade marcam, nesta terça-feira (31), um novo dia de protestos contra a reforma da Previdência do presidente liberal Emmanuel Macron, que, após perder a batalha da opinião pública, espera conquistar o apoio do Parlamento. "Há muita raiva contra esta reforma", disse à AFP um segurança de Marselha (sul), que pediu anonimato. "Trabalhar até os 64 anos ou mais é muito difícil, principalmente em nossos ofícios", acrescentou.

Quase duas semanas depois de levar às ruas 1,12 milhão de pessoas, segundo as autoridades - o dobro, para os sindicatos -, os opositores esperam muito mais manifestantes na França, onde a rejeição à atual reforma avança na opinião pública. "Se a primeira-ministra [Élisabeth Borne] não entendeu a mensagem, hoje diremos a ela mais alto, mais forte e com mais gente", disse o líder sindical da CGT, Philippe Martinez, às mídias BFMTV e RMC.

As duas medidas que cristalizam a rejeição da reforma são o adiamento progressivo até 2030 da idade de aposentadoria de 62 para 64 anos e a antecipação para 2027 da exigência de contribuir 43 anos - e não 42 como agora - para receber uma pensão completa. Embora o governo tenha pedido à oposição que "enriqueça" o seu projeto durante o processo parlamentar iniciado na segunda-feira, Borne disse que a idade de 64 anos "não é mais negociável", irritando a oposição de esquerda que pediu uma "moção popular de censura"

"Estamos vivendo um dia histórico. O senhor Macron com certeza perderá", disse o líder esquerdista Jean-Luc Mélenchon, no início da manifestação em Marselha, onde pediu que a reforma fosse submetida a um "referendo" do cidadãos.

Queda na produção de energia elétrica

Cerca de 250 manifestações - em Paris a partir das 14h (10h no horário de Brasília) - estão convocadas. O governo mobilizou 11.000 policiais e gendarmes. Os serviços de inteligência esperam um total de 1,2 milhão de manifestantes no máximo. O dia começou com uma greve nos transportes, principalmente no metrô de Paris, nos trens suburbanos da região e nas ferrovias provinciais, onde a frequência era muito baixa.

No ensino obrigatório, a paralisação foi menor do que há 12 dias: 25% dos professores segundo o governo, o dobro para os sindicatos. A greve no setor de energia provocou uma queda na produção das centrais nucleares de "quase 3.000 MWh", segundo a empresa EDF. Entre 75% e 100% dos funcionários das refinarias e depósitos da TotalEnergies aderiram à greve, segundo a CGT.

O novo dia de protestos pode aumentar a tensão na Assembleia Nacional (câmara baixa), que iniciou na véspera a comissão de revisão da reforma e tem menos de uma semana para debater as 7.000 emendas apresentadas antes de chegar ao plenário na segunda-feira. Com a rejeição da frente de esquerda do Nupes e da extrema direita já anunciada, o governo espera o apoio do partido de direita Os Republicanos (LR), favorável à reforma, mas dividido sobre suas características.

 FMI ao resgate do governo 

Desde sua chegada ao governo em 2017, Macron, de 45 anos, defende o desejo de "sacudir" o sistema com suas reformas liberais, que por vezes impulsionaram sua imagem de "presidente dos ricos", como durante o protesto social dos coletes amarelos. A reforma da Previdência é fundamental para sua estratégia. Depois de a pandemia o obrigar a desistir numa primeira tentativa, o Governo optou por um controverso procedimento parlamentar que lhe permite aplicar o atual plano se o Parlamento não se pronunciar até ao final de março.

A rejeição à reforma está atualmente em torno de 70%, segundo pesquisas. Além disso, de acordo com uma pesquisa da Odoxa, dois em cada três franceses consideram Macron um presidente ruim e Borne uma péssima primeira-ministra. O Fundo Monetário Internacional (FMI) expressou apoio ao presidente francês na segunda-feira, manifestando-se a favor de uma reforma que, juntamente com a aprovada sobre o seguro-desemprego, permitiria à França reduzir a sua dívida pública, que supera 110% do PIB.

 


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