Franceses multiplicam apelos para derrotar a extrema-direita

Franceses multiplicam apelos para derrotar a extrema-direita

De acordo com pesquisas a abstenção se aproximaria de 30% no domingo

AFP

De acordo com pesquisas a abstenção se aproximaria de 30% no domingo

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A preocupação com a abstenção que poderia favorecer a extrema-direita no segundo turno no domingo da eleição presidencial francesa provocou o aumento dos pedidos de voto para o jovem centrista Emmanuel Macron, na véspera de um debate na TV com Marine Le Pen.

Líderes empresariais, personalidades da cultura, pesquisadores e cientistas, associações, grandes veículos de imprensa: as arquibancadas ou petições em favor do candidato do movimento "Em Marcha!" tentam com suas armas limitar a abstenção frente à candidata da extrema-direita. Nesta terça-feira foi a vez do maior jornal católico, La Croix, a assumir seu lado, depois de muitos jornais nacionais, ressaltando que "diante do risco que pode advir com Marine Le Pen, a abstenção não é suficiente".

De acordo com pesquisas, que apontam uma clara vitória a Macron, a abstenção se aproximaria de 30% no domingo, bem acima dos números registados no segundo turno das eleições presidenciais anteriores, com exceção de 1969 (31,1%). Os dois terços dos militantes do movimento da esquerda radical França Insubmissa, liderado por Jean-Luc Mélenchon, optará pelo voto em branco ou na abstenção, segundo dados de uma consulta interna anunciados nesta terça.

Entre os 243.000 eleitores, 36% votará em branco ou nulo e 29% deve se abster, enquanto 35% votará por Macron. Mélenchon, que foi eliminado no primeiro turno com 19,58% dos votos, se pronunciou contra Le Pen, mas se negou a apoiar Macron, um ex-banqueiro. "Abster-se é o equivalente a dar metade de sua voz a Marine Le Pen, na eleição mais emblemática que a França tem visto em décadas", insiste o matemático Cédric Villani, no jornal de esquerda Libération.

Quanto aos grandes empresários, alguns expressaram seu "total apoio" ao ex-ministro da Economia do atual governo socialista (2014-2016), como, no domingo passado, o CEO do grupo aeronáutico europeu Airbus, Tom Enders.
Outros (Veolia, Leclerc, Bouygues, Atos...) explicam todo o mal que representaria para eles uma vitória da candidata da Frente Nacional (FN) para à economia.

Os artistas, excepcionalmente discretos antes do primeiro turno, também elevaram a voz. Os cineastas Mathieu Kassovitz e Luc Besson, o diretor do famoso festival de Avignon, Olivier Py, os dirigentes dos principais teatros nacionais, o Prêmio Nobel de Literatura Jean-Marie Le Clézio, mas também cantores, comediantes e cartunistas pediram que a FN seja barrada.

Um encontro do mundo da cultura "contra a FN" deve acontecer nesta terça-feira à noite em Paris. Entre os raros atletas, Zinédine Zidane, ícone do futebol francês, chamou a "evitar ao máximo" a Frente Nacional. Estas vozes se somam às de líderes políticos, sindicais ou religiosos - com exceção da Igreja Católica, que, um dia após o primeiro turno, já havia apoiado Macron. Sua rival Marine Le Pen, que conta com poucos apoios de peso, tenta convencer os desapontados do primeiro turno.

"Veneno"

Parte dos eleitores do conservador François Fillon (20,01%) não quer ouvir falar do candidato do "Em Marcha", visto como herdeiro do presidente socialista François Hollande. Do outro lado do espectro político, a esquerda radical de Jean-Luc Mélenchon (19,58% dos votos) deve dizer nesta terça-feira qual será seu posicionamento no segundo turno, mas seu líder já se recusou a apoiar explicitamente Macron. Neste contexto, após a eleição surpresa de Donald Trump nos Estados Unidos e a vitória do Brexit na Grã-Bretanha, há preocupações de um possível efeito contra-produtivo dos apelos para Emmanuel Macron.

"Podem se transformar em veneno", aponta o jornal econômico Les Echos, recordando que "quanto mais vozes da cultura e da política defenderam Hillary Clinton mais despertaram nas classes populares o sentimento de desprezo".
Muito ofensiva desde o primeiro turno, Le Pen se apresenta como a candidata do povo contra o "sistema", a "elite" e a "oligarquia".

Pela primeira vez em 2017, a FN recebeu o apoio de um candidato de outro partido político, o soberanista Nicolas Dupont-Aignan (4,70% dos votos) que será seu primeiro-ministro, caso ela seja eleita. Ele dividiu na segunda-feira o palanque durante um comício na periferia de Paris, diante de milhares de pessoas. O discurso de Le Pen, que retomou sem citar e quase palavra por palavra ao menos quatro passagens de um discurso de François Fillon, despertou muitas críticas. "Não foi plágio, mas uma piscadela assumida", afirmou o secretário-geral da FN, Nicolas Bay, na véspera do debate que vai opor os dois candidatos na quarta-feira à noite.

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