Gabão empossará general como presidente 'de transição' na segunda-feira

Gabão empossará general como presidente 'de transição' na segunda-feira

Militares restabeleceram o acesso à internet e às transmissões de três grandes emissoras que haviam sido suspensas

AFP

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O general Brice Oligui Nguema será empossado presidente de "transição" no Gabão na segunda-feira (4), anunciou o entorno do general nesta quinta-feira (31), após o golpe militar que acabou com os 55 anos de poder da dinastia da família Bongo neste país africano.

O presidente Ali Bongo foi deposto na quarta-feira por integrantes do exército, pouco depois do anúncio por parte das autoridades eleitorais de sua reeleição para um terceiro mandato - ele estava há 14 anos no poder.

O patriarca da família, Omar Bongo, governou o país rico em petróleo da África Central por mais de 41 anos.

Em meio a cenas de comemoração, os militares nomearam como líder da "transição" o general Brice Oligui Nguema, comandante da guarda republicana, uma unidade de elite do exército.

Segundo os militares, o general prestará juramento na segunda-feira ante a Corte Constitucional, que será "restabelecida temporariamente".

Já o general Oligui instou "todos os responsáveis dos serviços de Estado" a garantir "a continuidade e o funcionamento de todos os serviços públicos", em um comunicado transmitido pela televisão.

Também quis "tranquilizar a todos os credores, parceiros em [questões de] desenvolvimento, assegurando-lhes que "todas as medidas serão tomadas para garantir o respeito aos compromissos" do Gabão "tanto no plano exterior como interno".

Os militares restabeleceram o acesso à internet e às transmissões de três grandes emissoras que haviam sido suspensas no sábado pelo governo de Bongo.

Porém, o exército decidiu manter o toque de recolher noturno e o fechamento das fronteiras.

Pedido da oposição

O golpe aconteceu horas depois de que a autoridade eleitoral declarou Bongo como vencedor das eleições de sábado passado, com 64,27% dos votos.

A votação, condenada pela oposição como fraudulenta, foi anulada pelos militares.

Nesta quinta, a oposição rompeu o silêncio e pediu aos golpistas que reconheçam a "vitória" presidencial de seu candidato, Albert Ondo Ossa, que liderou a plataforma Alternance 2023 nas eleições.

O porta-voz desse movimento instou os militares a "supervisionar" o "reinício do processo de centralização dos resultados" das presidenciais para "oficializar" a vitória de Ondo Ossa nas urnas.

Até agora, os golpistas não responderam ao pedido da oposição.

Situação de Bongo

Outro tema pendente é o futuro de Ali Bongo.

O presidente deposto foi eleito pela primeira vez em 2009, após a morte de seu pai, que teria acumulado uma fortuna com a riqueza petrolífera do Gabão.

Ele foi reeleito em 2016, em uma votação muito contestada, antes de sofrer uma parada cardíaca em 2018, o que enfraqueceu o seu poder.

Os golpistas anunciaram que Bongo está sob prisão domiciliar "ao lado da família e de seus médicos".

Um de seus filhos, Noureddin Bongo Valentin, foi detido e acusado de "alta traição".

Também foram detidos outros funcionários de alto escalão do regime, conselheiros da presidência e os dois principais dirigentes do poderoso Partido Democrático Gabonense (PDG), acusados de traição, fraude, corrupção e falsificação da assinatura do presidente.

Exclusão da União Africana

O golpe foi condenado pela União Africana (UA), em um continente onde as Forças Armadas tomaram o poder em outros cinco países desde 2020.

Ainda nesta quinta, o Conselho de Paz e Segurança da organização anunciou na rede social X, antes Twitter, que decidiu "suspender imediatamente a participação do Gabão em todas as atividades da UA, seus órgãos e instituições.

Porém, o chefe da diplomacia da União Europeia, Josep Borrell, expressou cautela ao destacar que os militares atuaram após uma eleição injusta.

"Naturalmente, os golpes militares não são a solução, mas não devemos esquecer que o Gabão teve eleições repletas de irregularidades", declarou Borrell nesta quinta.

Preocupação internacional

Nas ruas da capital e do centro econômico de Port-Gentil, muitos moradores celebraram o golpe na quarta-feira.

Em Libreville, cerca de 100 pessoas gritavam "Bongo fora" e aplaudiram os policiais com trajes antimotins, observou um jornalista da AFP.

A ONU condenou o golpe e pediu aos militares que garantam a segurança de Bongo e sua família.

O Departamento de Estado americano afirmou que está "profundamente preocupado" e que é "veementemente contrário aos golpes militares", mas questionou a "falta de transparência e os relatos de irregularidades nas eleições".

A eleição aconteceu sem a presença de observadores internacionais e a organização Repórteres Sem Fronteiras denunciou que jornalistas estrangeiros enfrentaram restrições para cobrir as eleições.

Desde 2020 aconteceram golpes militares no Mali, Guiné, Sudão, Burkina Faso e Níger.


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