George W. Bush ficou constrangido com torturas da CIA, revela relatório

George W. Bush ficou constrangido com torturas da CIA, revela relatório

Obama aboliu oficialmente o programa secreto de interrogatórios em 2009

AFP

overno de George W. Bush sabia da guerra do terror da CIA

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Após extensa investigação, o senado dos Estados Unidos publicou na última terça-feira um relatório de 525 páginas e com 2.725 notas sobre o programa secreto da CIA para capturar e interrogar, fora do âmbito legal, suspeitos de estar vinculados à Al-Qaeda. 

Entre as revelações feitas, está a que o governo republicano de George W. Bush estava a par dos procedimentos ilegais implementados pela chamada "guerra ao terror". O então presidente foi informado em abril de 2006, ou seja, após quatro anos dos incidentes, que os detidos eram torturados em prisões secretas da CIA, revelou o documento.

O ex-presidente republicano expressou seu desconforto quando descobriu "a imagem de um detido algemado no teto, com uma fralda e obrigado a fazer suas necessidades ali", é possível ler na página 40

A comissão de Inteligência do senado dos EUA acusa a agência de inteligência de ter submetido 39 detidos a técnicas de interrogatório especialmente duras, aprovadas pelo governo da época, e que muitos equiparam a torturas.

O relatório descreve como os detidos permaneciam amarrados durante dias na escuridão, eram submetidos a banhos gelados, privados de sono durante uma semana, espancados e ameaçados psicologicamente.

Um detento foi ameaçado com uma furadeira. Ao menos cinco sofreram o que o relatório descreve com o eufemismo de "reidratações retais".

Khaled Cheikh Mohammed, suposto cérebro dos atentados de 11 de setembro de 2001, foi submetido tantas vezes ao chamado submarino (imersão forçada até o limite do afogamento) que esteve prestes a morrer durante os interrogatórios.

Em reação ao relatório do senado, o advogado do agora detido na base de Guantánamo estimou que seu cliente não deveria ser condenado à morte durante seu processo perante um tribunal militar especial.

"Nenhuma nação é perfeita", declarou Barack Obama, que no passado utilizou o termo tortura para se referir aos interrogatórios reforçados. "Mas uma das forças dos Estados Unidos é nossa vontade de enfrentar abertamente nosso passado, enfrentar nossas imperfeições e mudar para melhorarmos".

Demandas e condenações A reabertura deste capítulo negro da "guerra contra o terrorismo" provocou uma onda de condenações no mundo e nos Estados Unidos.

O relator da ONU sobre direitos humanos, Ben Emmerson, pediu que sejam apresentadas demandas judiciais contra os responsáveis.

"Dos níveis mais altos da administração Bush foi orquestrada uma política que permitiu (que fossem cometidos) crimes sistemáticos e violações flagrantes dos direitos humanos" em escala internacional, declarou.

"Os responsáveis por esta conspiração criminosa devem ser levados à justiça", afirmou.

No entanto, o departamento de Justiça americano indicou que o caso seguirá arquivado por falta de provas suficientes.

A organização britânica de defesa dos direitos humanos Cage também exigiu demandas judiciais. Afirmou que "há (no relatório) provas evidentes que justificam as ações judiciais".

O ex-presidente polonês Aleksander Kwasniewski, cujo país abrigou prisões secretas da CIA, declarou que os interrogatórios violentos por parte da CIA em território polonês cessaram após as pressões de Varsóvia
em 2003, e que "a princípio a Polônia ignorava que ocorriam torturas".

Nos Estados Unidos o diretor-geral da poderosa União de Defesa das Liberdades Civis (ACLU), Anthony Romero, condenou os "crimes atrozes". "É um relatório escandaloso e é impossível lê-lo sem se indignar pelo
fato de nosso governo ter realizado estes crimes atrozes", afirmou.

No Congresso, os republicanos lamentaram a publicação do documento, temendo que a transparência provoque represálias contra os Estados Unidos. As bases militares americanas de todo o mundo estão em estado de alerta máximo, disse um funcionário de alto escalão na terça-feira.

Barack Obama aboliu oficialmente o programa secreto de interrogatórios da CIA ao chegar ao poder, em 2009.

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