Golpistas do Níger acusam França de querer 'intervir militarmente'

Golpistas do Níger acusam França de querer 'intervir militarmente'

Pressão contra os militares, que tomaram o poder em 26 de julho, é cada vez maior

AFP

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Os golpistas do Níger que derrubaram o presidente eleito, Mohamed Bazoum, acusaram nesta segunda-feira (31) a França, ex-potência colonial, de querer "intervir militarmente", um dia após o ultimato de líderes dos países da África Ocidental, que não descartaram usar a "força" caso não seja restabelecida a ordem constitucional.

A pressão contra os militares, que tomaram o poder em 26 de julho, é cada vez maior, tanto dos aliados ocidentais como dos sócios africanos do Níger, um país crucial na luta contra os grupos extremistas que atuam na região do Sahel.

Bazoum está detido desde quarta-feira no palácio presidencial. Na sexta-feira, o general Abdourahamane Tiani, líder da Guarda Presidencial, se autoproclamou o novo líder do país.

Tiani justificou o golpe pela "deterioração da situação de segurança" no país, devastado pela violência de grupos jihadistas como o Estado Islâmico e a Al-Qaeda.

França e Estados Unidos mantêm, respectivamente, 1.500 e 1.100 soldados mobilizados para participar no dispositivo de combate aos extremistas.

Os militares que tomaram o poder concentraram as críticas na França, que expressou apoio ao presidente Bazoum.

"Na sua linha de conduta, em sua busca de formas e meios para intervir militarmente no Níger, a França, com a cumplicidade de alguns nigerinos, realizou uma reunião com o Estado-Maior da Guarda Nacional do Níger para obter as autorizações políticas e militares necessárias" para restabelecer Mohamed Bazoum em seu cargo, afirma um comunicado divulgado pela junta.

Em outra mensagem, os golpistas acusaram os "serviços de segurança" de uma "chancelaria ocidental" - sem identificar o país - de utilizarem gás lacrimogêneo no domingo em Niamey, a capital do país, contra pessoas que apoiavam a junta, uma ação que deixou seis feridos.

Uma nova manifestação de apoio à junta militar ocorreu nesta segunda-feira em Zinder, 850 quilômetros ao leste da capital.

"Detenções abusivas"

Os dirigentes e representantes da Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) deram um ultimato de uma semana à junta militar no domingo, para que restabeleça a "ordem constitucional" e não descartaram "o uso da força" caso isso não aconteça.

Essa organização regional, da qual o Níger é membro, decidiu também "suspender todas as transações comerciais e financeiras" entre os seus Estados-membros e Niamey, e congelar os bens dos militares envolvidos no golpe.

O primeiro-ministro nigerino, Ouhoumoudou Mahamadou, disse à rede France24 que as sanções "serão uma catástrofe" tanto na esfera econômica quanto na social.

O Partido para a Democracia e Socialismo do Níger (PNDS, no poder) denunciou as "detenções abusivas" de quatro ministros - Interior, Petróleos, Minas e Transportes -, de um ex-ministro e líder do partido, em comunicado enviado à AFP nesta segunda-feira. Fontes próximas à Presidência também anunciaram a prisão do ministro do Ensino Superior.

A União Europeia (UE) alertou nesta segunda-feira que responsabilizaria os golpistas por "qualquer ataque contra civis, pessoal ou instalações diplomáticas". A UE vai "apoiar rápida e firmemente" as decisões da CEDEAO, disse o chefe da diplomacia europeia, Josep Borrell.

Enquanto isso, países como Espanha e Alemanha anunciaram a suspensão da ajuda de cooperação ao país.

A Rússia pediu o "restabelecimento da legalidade no país o mais rápido possível" e "moderação" às partes para evitar perdas humanas, nas palavras do porta-voz da presidência, Dmitri Peskov.

Depois do Mali e de Burkina Faso, Níger é o terceiro país da região a sofrer um golpe de Estado desde 2020. Com 20 milhões de habitantes, é uma das nações mais pobres do mundo, apesar de seus recursos em urânio.


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