Governo dos EUA está disposto a retomar mediação entre militares e paramilitares no Sudão

Governo dos EUA está disposto a retomar mediação entre militares e paramilitares no Sudão

Mais de 1,8 mil pessoas morreram desde o começo dos confrontos no país africano

AFP

publicidade

O governo dos Estados Unidos afirmou nesta quinta-feira (1) que está disposto a retomar o papel de mediador no Sudão, mas com a condição de que os dois lados em conflito demonstrem sérias intenções de respeitar uma trégua. Na quarta-feira, depois que o exército suspendeu a participação nas negociações, 18 civis morreram em um mercado da capital do país, Cartum, alvo de intensos bombardeios, informou um comitê de advogados.

O exército acusou os paramilitares de violação dos compromissos acordados e anunciou a saída do diálogo mediado por Estados Unidos e Arábia Saudita. Os países mediadores acusaram os dois lados de violação da trégua, que deveria possibilitar a criação de corredores seguros para a entrega de ajuda a uma população que enfrenta cada vez mais dificuldades.

Apesar da crise, o secretário de Estado americano, Antony Blinken, afirmou nesta quinta-feira em Oslo que o país continua disposto a atuar como mediador entre as partes no Sudão, mas que os dois lados "devem deixar claro com suas ações que levam a sério o cumprimento do cessar-fogo". O conflito no Sudão começou em 15 de abril e envolve o exército, comandado pelo general Abdel Fatah al Burhan, e as paramilitares Forças de Apoio Rápido (FAR), lideradas pelo general Mohamed Hamdan Daglo.

A situação é cada vez mais crítica e a violência não dá trégua no país.

Ataque contra mercado

Na quarta-feira, 18 civis morreram e 106 ficaram feridos em ataques de artilharia e bombardeios aéreos do exército contra um mercado ao sul de Cartum, informou um comitê de advogados de defesa dos direitos humanos. Um "comitê de resistência", que organiza a ajuda à população, confirmou o número de vítimas e denunciou uma "situação catastrófica".

Também de acordo com o comitê de advogados, as FAR abriram fogo contra civis "que pretendiam impedir o roubo do veículo de um deles". "Três civis morreram depois que foram atingidos por tiros e impedidos pelas FAR de seguir para o hospital", afirmou a organização. O exército também atacou na quarta-feira bases paramilitares em bairros residenciais de Cartum, de acordo com moradores.

Crianças em estado de desnutrição aguda

Mais de 1.800 pessoas morreram desde o início dos combates, de acordo com a ONG ACLED, e mais de um milhão de pessoas fugiram de suas residências. Yaqout Abderrahim deixou Cartum e seguiu para Porto Sudão (nordeste), onde espera há 15 dias por uma vaga em um voo de saída. "Queremos deixar o país a qualquer custo porque nossas casas foram destruídas e não temos como criar nossos filhos", declarou Abderrahim à AFP ao lado de outras famílias acampadas.

Quase 25 milhões de pessoas, mais da metade da população do Sudão, precisam de ajuda e proteção, afirmou a ONU. Bairros inteiros de Cartum estão sem água corrente, a energia elétrica está disponível por poucas horas a cada semana e 75% dos hospitais em áreas de combate estão desativados.

De acordo com o Unicef, mais de 13,6 milhões de crianças precisam de ajuda humanitária, incluindo "620 mil que estão em condição de desnutrição aguda, metade delas sob risco de morte caso não recebam atendimento a tempo". Quase 350 mil pessoas fugiram para os países vizinhos: metade para o Egito, o restante para Chade, Sudão do Sul, República Centro-Africana e Etiópia. O Sudão está à beira da fome, segundo a ONU, e a temporada de chuvas se aproxima, com o risco de epidemias.

Darfur isolada

Os combates mais violentos acontecem em Darfur, na fronteira com o Chade, onde algumas áreas estão completamente isoladas, sem energia elétrica ou sistema de telefonia. Nesta região, os apelos para que os civis peguem em armas provocam o temor de uma "guerra civil total", afirma o bloco civil afastado do poder pelo golpe militar de 2021, liderado pelos dois generais atualmente em guerra, mas que na época eram aliados.

Desde o início da guerra, o sindicato de médicos denuncia a ocupação de vários hospitais pelos beligerantes. Os poucos centros médicos ainda abertos nas zonas de combate precisam trabalhar com poucos insumos e geradores que param de funcionar por falta de combustível.


Mais Lidas





Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895