Guerra no Sudão ameaça a exportação de goma-arábica

Guerra no Sudão ameaça a exportação de goma-arábica

O país é responsável por 70% das exportações brutas mundiais do produto

AFP

Preço passou de 320 mil libras sudanesas a 119 mil

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Os preços da goma-arábica despencaram no Sudão por conta da evacuação dos estrangeiros que compravam o produto no país, após o início da guerra, em meados de abril. O Sudão é responsável por 70% das exportações brutas mundiais de goma-arábica, ingrediente fundamental de refrigerantes e chicletes.

"Como já não há compradores, a tonelada passou de 320 mil libras sudanesas a 119 mil (o equivalente a R$ 2.642,00 e R$ 983,00, na cotação atual)", disse à AFP Ahmed Mohamed Hussein, que não consegue vender seu produto por falta de caminhões.

"É uma verdadeira catástrofe para os produtores", lamenta Adam Issa Mohamed, um comerciante de El-Obeid, um dos principais mercados de goma-arábica, ao sul de Cartum.

E não apenas para os produtores: cinco milhões dos 45 milhões de sudaneses obtinham alguma renda direta ou indireta da produção de seiva cristalizada de acácia.

Nenhum caminhão

Em Cartum, os habitantes afirmam que muitos caminhões foram destruídos no fogo cruzado e que alguns motoristas morreram.

Os caminhoneiros que continuam trabalhando têm outro obstáculo: nos postos de gasolinas onde ainda há combustível, o preço do litro se multiplicou por 20.

Ante a preocupação do mercado mundial, a Federação Internacional pelo Fomento da Goma (AIPG), que reúne produtores, importadores e fabricantes, assegura que suas "empresas têm suficientes reservas importadas do Sudão e outros países em seus armazéns para amenizar possíveis interrupções de fornecimento".

Em 2022, o país exportou 60 mil toneladas de goma, segundo Mustafa al Sayyed Khalil, diretor do Conselho de Goma-Arábica do Sudão.

Produção paralela

Com a guerra, é difícil saber quanto o país exporta atualmente e calcular a produção real de goma, acrescentou o diretor.

"Grande parte é produzida em regiões que escapam ao controle do Estado", zonas rurais ou desérticas, controladas por grupos armados.

No Sudão, a acácia utilizada para produzir a goma cresce naturalmente em um "cinturão" de cerca de 500.000 km2, superfície similar à da Espanha, e que atravessa o país da região de Gadarif até Darfur.

No entanto, mesmo antes da guerra, os preços locais de goma-arábica estavam tão baixos que muitos agricultores preferiam transformar suas acácias em carvão ou trabalhar nas minas de ouro da região.

A guerra pode significar um golpe mortal para este mercado. Khalil adverte que "se o cinturão de acácias desaparecer, todo o mundo afundará com ele".


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