Guia Supremo do Irã desconfia de acordo nuclear

Guia Supremo do Irã desconfia de acordo nuclear

Ali Khamenei pediu que presidente Hassan Rohani desconfie de algumas grandes potências

AFP

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O guia supremo do Irã, aiatolá Ali Khamenei, pediu ao presidente Hassan Rohani que desconfie de algumas grandes potências que assinaram o acordo nuclear, defendido com vigor pelo presidente americano, Barack Obama. A advertência coincide com a visita, nesta quinta-feira a Israel, do ministro britânico das Relações Exteriores, Philip Hammond, para falar do acordo com o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu. Para o premiê, trata-se de um "erro histórico".

O acordo praticamente impossibilitará que o Irã fabrique a bomba atômica, mas lhe permitirá desenvolver um programa nuclear civil em troca da suspensão progressiva e reversível das sanções adotadas desde 2006 por ONU, Estados Unidos e União Europeia. As penalidades impostas pela comunidade internacional sobrecarregaram sua economia. O Irã permanecerá sob a ameaça de novas sanções internacionais por 15 anos, segundo uma carta às Nações Unidas enviada pelos seis países ocidentais que chegaram a um acordo com a República Islâmica.

Em uma carta ao presidente iraniano, divulgada nesta quinta-feira, o guia supremo reconhece, no entanto, que a assinatura do acordo representa um grande passo. Ainda assim, ele convoca Rohani a "ter cuidado para que as outras partes não violem o compromisso, você sabe muito bem que não se pode confiar em alguns dos seis Estados que participam das negociações", alerta, sem se referir nominalmente a qualquer um dos membros do P5+1 envolvidos nas negociações.

O grupo é formado pelos cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU (Estados Unidos, França, Grã-Bretanha, China e Rússia) e pela Alemanha. Na última terça-feira, em Viena, todos assinaram esse acordo que colocou fim a cerca de dois anos de árduas discussões. Ali Khamenei, guia religioso e político, a máxima autoridade do Irã cuja autorização foi necessária para as negociações e para a conclusão do acordo, costuma manifestar sua desconfiança com os Estados Unidos.

Diplomacia ou guerra

Na quarta-feira, de volta a Teerã após quase três semanas de negociações frenéticas na capital austríaca, o ministro iraniano das Relações Exteriores, Mohammad Javad Zarif, declarou-se confiante na vontade de cada uma das partes de adotar medidas necessárias para cumprir o acordo. O presidente Obama desafiou os que se opõem ao acordo - em Israel e no Congresso americano - a apresentarem uma solução para impedir o Irã de fabricar uma bomba atômica. "Na realidade, há apenas duas alternativas: a via diplomática ou a força, ou seja, a guerra", declarou ontem.

O primeiro confronto com o Congresso será na próxima quinta-feira. Os secretários do Tesouro e de Energia, assim como o secretário de Estado, John Kerry, participarão de uma audiência no Senado sobre o acordo. Na entrevista coletiva da última quarta-feira, o presidente buscou tranquilizar seus aliados na região - Israel e as monarquias sunitas do Golfo -, preocupados com a influência crescente do "poderoso" vizinho xiita. Segundo Obama, o Irã tem um papel importante a desempenhar, em particular no conflito na Síria.

Convencer Israel

Nesse contexto ainda sensível, Kerry anunciou hoje que apresentará em 3 de agosto aos países do Golfo o acordo sobre o programa nuclear iraniano. "Vou encontrar todos (os países) do Conselho de Cooperação do Golfo e vou lhes mostrar uma informação completa e responder a todas as suas perguntas em 3 de agosto", prometeu o secretário.

Em visita a Washington, o ministro saudita das Relações Exteriores, Adel al-Jubeir, advertiu o Irã para não tentar usar a suspensão das sanções para financiar "aventuras na região".

Nesta quinta, antes da reunião com Netanyahu, em Jerusalém, Philip Hammond, quis tranquilizar Israel: "não chegaríamos a um acordo, se não estivéssemos seguros das bases sólidas para monitorar o programa nuclear do Irã". Extremamente hostil ao acordo, Netanyahu pediu a Hammond que solicite ao Irã o fim de seus "apelos ao genocídio". O ministro britânico disse confiar na capacidade dos israelenses para assumir de forma pragmática a nova realidade em terra.

Em conversa por telefone com o presidente Rohani, o primeiro-ministro britânico, David Cameron, reiterou seu desejo de reabrir, até o fim do ano, a embaixada britânica em Teerã.A missão diplomática está fechada desde 2011, após o vandalismo de manifestantes hostis ao endurecimento das sanções de Londres contra o Irã pelo programa nuclear. 

"Falaram sobre como o acordo abre caminho para relações mais sólidas em outros campos", relatou a porta-voz de Cameron, citando, entre outros, a "luta contra a ameaça" representada pelo Estado Islâmico.

Além da abertura diplomática, o Irã espera ver desfilarem autoridades políticas e empresários interessados nesse promissor mercado, quando o acordo começar a ser cumprido. Isso ainda deve levar alguns meses. Com 78 milhões de habitantes, em sua maioria jovens ávidos por consumo e por novas tecnologias, o Irã conta com as quartas maiores reservas do mundo de petróleo e as primeiras de gás.

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