Homem que recebeu coração transplantado de porco pode ter contraído vírus suíno

Homem que recebeu coração transplantado de porco pode ter contraído vírus suíno

O paciente David Bennett, de 57 anos, morreu dois meses após o procedimento inédito ter sido realizado nos Estados Unidos

R7 / AFP

Transplante inédito foi realizado este ano nos Estados Unidos

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A morte de David Bennett, de 57 anos, primeiro paciente a receber um coração transplantado de um porco, pode ter sido causada por um vírus suíno, de acordo com informações divulgadas na quarta-feira pela revista científica MIT Technology Review.

Segundo o cirurgião de transplante Bartley Griffith, o coração foi afetado pelo citomegalovírus, um vírus de porco, que causou uma infecção que, apesar de evitável, está relacionada a efeitos devastadores em transplantes. O transplante histórico foi realizado na Escola de Medicina da Universidade de Maryland, nos Estados Unidos, em janeiro deste ano. No entanto, após dois meses do procedimento, o paciente acabou morrendo porque “sua condição começou a se deteriorar”, de acordo com a nota divulgada pela universidade.

Para Griffith, o vírus pode ter sido decisivo para a morte de Bennett, que havia passado por uma cirurgia de sucesso com uma perspectiva de otimismo tanto para sua recuperação, como para o futuro dos transplantes entre seres humanos e animais. “Estamos começando a entender por que ele faleceu”, disse o cirurgião em uma webinar realizada no dia 20 de abril pela American Society of Transplantation. 

Técnica inovadora

O porco doador pertencia a um rebanho que passou por um procedimento de modificação genética, realizada pela empresa de biotecnologia Revivicor, que também forneceu o porco usado em um transplante de rim inovador em um paciente com morte cerebral, em Nova York, em outubro.

O órgão doado permaneceu em uma máquina para preservá-lo antes da cirurgia, e a equipe também usou um novo medicamento junto com outras substâncias convencionais para suprimir o sistema imunológico e impedir a rejeição do órgão. Trata-se de um composto experimental fabricado pela Kiniksa Pharmaceuticals.

Cerca de 110.000 americanos estão atualmente à espera de um transplante de órgão, e mais de 6.000 pacientes morrem a cada ano antes de recebê-lo, de acordo com dados oficiais. Para atender à demanda, os médicos há muito se interessam pelo chamado xenotransplante, ou doação de órgãos entre espécies, com experimentos que remontam ao século 17.


Foto: JOHN SAEKI, MARIA-CECILIA REZENDE, LAURENCE CHU / AFP / CP

As primeiras pesquisas se concentraram na extração de órgãos de primatas. Por exemplo, um coração de babuíno foi transplantado em um recém-nascido conhecido como Baby Fae em 1984, mas este sobreviveu apenas 20 dias. Hoje, as válvulas cardíacas de porco são amplamente utilizadas em humanos, e a pele desse animal é enxertada em pessoas que sofreram queimaduras. Os porcos são doadores ideais devido ao seu tamanho, crescimento rápido, ninhadas grandes e ao fato de estarem prontamente disponíveis, sendo criados para alimentação.


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