Ilha deserta da Dinamarca recebe migrantes “indesejáveis”

Ilha deserta da Dinamarca recebe migrantes “indesejáveis”

País dificulta chegada de imigrantes desde 2015

AFP

Ilha deserta da Dinamarca deverá ser destino de migrantes "indesejáveis"

publicidade

A Dinamarca considera que não pode receber mais imigrantes sem pôr em perigo seu modelo social, de modo que multiplica as medidas para impedir sua chegada. A mais recente delas é deter os “indesejáveis” em uma ilha deserta.

Desde a onda migratória de 2015 que levou o país a restabelecer o controle de suas fronteiras terrestres, a Dinamarca – governada por uma coalizão de centro-direita apoiada pela direita populista antimigração do Partido Popular Dinamarquês (DF) – se orgulha de ter adotado cerca de 100 emendas que restringem os direitos dos estrangeiros.

“Os dinamarqueses são acolhedores, mas o sistema é outra coisa: o governo diz claramente que não nos quer”, afirma Dejene, um solicitante de refúgio etíope de 30 anos, que se encontra em uma associação de ajuda aos recém-chegados. Faz quatro anos que chegou a este pequeno país de 5,8 milhões de habitantes, dos quais 8,5% são de origem “não ocidental”, segundo o instituto de estatísticas nacional.

Para 2019, ano eleitoral, o objetivo da maioria é claro: que os refugiados compreendam que só podem ficar provisoriamente. Por isso, acabou de propor ao Parlamento uma limitação da reunificação familiar e uma redução dos benefícios sociais. Essas somas, teoricamente generosas, não costumam ser suficientes neste país, um dos mais caros da Europa. “Devem voltar e ajudar a reconstruir seu país o mais rápido possível”, justifica Martin Henriksen, porta-voz de temas migratórios de DF.

“Dureza e intolerância”


Entre 2015 e 2017, devido a restrições cada vez maiores, o número de pedidos de refúgio caiu 75%. Para o pesquisador Demetri Papademetriou, fundador do Instituto Europeu de Migrações, a política migratória dinamarquesa “é um caso único de dureza e intolerância” na Europa, em um contexto já pouco favorável aos migrantes.

Nos últimos três anos, a Dinamarca não poupou meios para dissuadir os solicitantes de refúgio: anúncios na imprensa libanesa para advertir sobre o endurecimento das condições para se instalar em seu território, ou o confisco de bens de valor dos migrantes quando cruzam a fronteira.

Essas restrições são principalmente obra do DF, afirma Papademetriou. “Na Europa, nenhum outro partido teve tanto êxito em moldar de forma tão profunda e duradoura a política nacional relativa a migrações”, estima.

A última de suas conquistas é agrupar em uma ilha desabitada migrantes que tiveram o pedido de asilo recusado e que tem têm antecedentes criminais, à espera de sua expulsão, assim como os que não podem ser mandados de volta a seus países.

Este lugar de detenção, situado em um antigo centro de pesquisa sobre doenças animais contagiosas na ilha de Lindholm, abrigará 125 pessoas a partir de 2021. Algumas destas deverão deixar rapidamente o país, mas outras poderiam permanecer na ilha por tempo indeterminado.

Protestos contra o tratamento aos migrantes


O projeto, proposto por DF, foi aceito sem reservas pelo governo. “Se alguém é indesejável na sociedade dinamarquesa, não deve incomodar o dinamarquês comum”, disse no Facebook Inger Støjberg, o popular e controverso ministro da Imigração.

Milhares de dinamarqueses ocuparam as ruas para protestar contra este projeto e as medidas sobre a imigração. “Os dinamarqueses não se manifestam com frequência de forma maciça, mas sentem que a classe política está indo longe demais”, avalia a secretária-geral da Anistia Internacional na Dinamarca, Trine Christensen.

Mas não todos. Segundo as últimas pesquisas, a poucos meses das legislativas, o DF continuará sendo o segundo partido do país, com 18% dos votos, muito perto do Partido Liberal, que dirige o atual governo.

Mais Lidas





Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895