Imprensa italiana faz greve contra "Lei da mordaça"

Imprensa italiana faz greve contra "Lei da mordaça"

Norma prevê multa de US$ 588 mil e prisão de até dois meses para jornalistas que divulgarem escutas telefônicas

AFP

Imprensa italiana faz greve contra Lei da mordaça

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A Itália realizou nesta sexta-feira uma "Jornada de Silêncio", sem a circulação de jornais, nem o noticiário de rádio e televisão, devido a uma greve de jornalistas contra um projeto de lei do governo de Silvio Berlusconi. A chamada "lei da mordaça" limita as escutas telefônicas e sua publicação.

Para a Federação Nacional da Imprensa (FNSI, sindicato nacional de jornalistas), que lançou a inciativa, trata-se de "gesto simbólico para mostrar o silêncio que imporá a lei à informação". A quase totalidade dos jornais não apareceu nas bancas, com exceção de Il Giornale, que pertence à família Berlusconi.

Desde as 7h da manhã e por período de até 24 horas, os serviços das agências de informação deixaram de divulgar notícias. Nem os sites foram atualizados.

Apesar do mundial de futebol na África do Sul, os diários desportivos também observaram a paralisação, assim como as agências nacionais de notícias e os informativos da televisão tanto na rede pública quanto na privada - entre eles os do grupo Mediaset, também de propriedade de Berlusconi.

O canal de informação contínua "Sky Tg24", do magnata Rupert Murdoch, limitou-se à leitura de boletins informativos a cada hora e decidiu programar documentários, entre eles um sobre os efeitos sociais do tráfico da cocaína na Colômbia e no México.

Transporte público

Além da greve da imprensa, houve paralisação dos transporte público em várias cidades, entre elas Roma, que viveu um dia muito complicado. A greve da imprensa tem o apoio dos editores e de boa parte da opinião pública, que temem um ataque à liberdade de imprensa e, sobretudo, impedir a divulgação de informações incômodas para Berlusconi, conhecido por sua agitada vida sentimental.

A Federação Europeia de Jornalistas demonstrou apoio aos colegas italianos contra a medida que termina, segundo o comunicado, "por proibir a publicação de notícias sobre processos judiciais". O projeto de lei foi aprovado no Senado no dia 10 de junho e ainda deve passar pela Câmara de Deputados.

A norma prevê até dois meses de prisão e multa que pode chegar a 464.700 euros (US$ 588 mil) para os editores de jornais e meios audiovisuais que divulguem escutas telefônicas ou gravações durante uma investigação judicial. Já os jornalistas seriam punidos com até 60 dias de prisão.

Berlusconi defende o texto em nome do respeito à vida privada e dos direitos de defesa, mas a oposição de esquerda e grande parte dos meios veem nisso uma forma de calar a imprensa. A norma foi duramente criticada pela magistratura, considerando que afeta gravemente a luta contra a máfia, baseada em sofisticados sistemas de escuta.

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