Irã celebra os 40 anos da Revolução Islâmica com ode a Khomeini e ódio aos Estados Unidos

Irã celebra os 40 anos da Revolução Islâmica com ode a Khomeini e ódio aos Estados Unidos

Falando para multidão nas ruas de Teerã, presidente Hassan Rohani criticou "complô" organizado pela potência ocidental

Correio do Povo e AFP

Iranianos marcham em direção à Praça Azadi durante comemoração da Revolução que destronou o último xá

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Mulheres usando chador, crianças com balões, homens de roupas escuras, basijs uniformizadas e clérigos com turbantes desfilaram pela Praça Azadi ("Liberdade", em português), no centro de Teerã, na manhã desta segunda-feira para celebrar uma data histórica para o Antigo Império Persa. Milhares de iranianos se dirigiram ao local para comemorar o 40º aniversário da Revolução Islâmica que deu origem à República Islâmica do Irã. Às 10h do fuso local, multidões de todas as idades se reuniam, apesar da chuva, em frente aos postos das diferentes instituições estatais e semi-governamentais onde chá era oferecido. O "22 bahman" do calendário persa, um feriado nacional, comemora a derrubada do regime do xá Mohammad Reza Pahlavi há quatro décadas, 10 dias depois do retorno triunfal do exílio do aiatolá Ruhollah Khomeini, fundador do atual Estado xiita.

Duas réplicas de mísseis balísticos, de fabricação local, eram exibidas em uma rua. Não muito longe também era possível ver réplicas de mísseis de cruzeiro. O país celebrou a data com um programa bem estabelecido: como nos anos anteriores, as festividades incluiram balões, flores lançadas de helicópteros, coros, uma aterrissagem de paraquedas, orações, discursos e slogans revolucionários. A televisão estatal transmitiu imagens da multidão reunida na capital e em várias cidades, alertando sobre a desinformação "de alguns meios de comunicação estrangeiros hostis".

Discurso anti-americano

Ovacionado pelo público, o presidente Hassan Rohani, após criticar um "complô" organizado pelos Estados Unidos, "sionistas" e dos Estados "reacionários" do Oriente Médio, assegurou que "o inimigo" não alcançará "nunca os seus objetivos diabólicos". "A presença do povo nas ruas de toda a República Islâmica do Irã mostra isso", afirmou. A multidão agitou muitas bandeiras verdes, vermelhas e brancas, as cores nacionais, que também decoravam a Azadi Tower, marco de Teerã que foi inaugurado em 1971.

O chefe de Estado já havia anunciado no domingo que estava preparando dois satélites em órbita apesar das advertências dos EUA, que consideram que a tecnologia de foguetes usada para esse lançamento está muito próxima de um míssil balístico; Washington acredita que o desenvolvimento de mísseis viola a resolução do Conselho de Segurança da ONU que endossou o acordo nuclear de 2015, uma interpretação rejeitada pelos iranianos. "Nunca pedimos e nunca pediremos permissão para desenvolver diferentes tipos de mísseis. Continuaremos a avançar e desenvolver nosso poder militar", afirmou Rohani.

Ele também prometeu que derrotará sanções reimpostas após Donald Trump se retirar do acordo nuclear do Irã com potências mundiais no ano passado. "O povo iraniano tem e terá algumas dificuldades econômicas (devido às sanções), mas vamos superar os problemas ajudando uns aos outros", disse. Milhares de faixas, cartazes ou retratos do líder supremo, o aiatolá Ali Khamenei, ou o fundador da República Islâmica, o aiatolá Ali Khomeini, se misturavam com mensagens de ódio. "Morte à América", "Abaixo a Inglaterra", "Morte a Israel", "Vamos pisotear os Estados Unidos", "40 anos de desafios, 40 anos de derrotas para os Estados Unidos", "Israel não vai viver mais 25 anos", era possível ler em alguns deles.

Ruhollah Khomeini, o "Espírito de Deus" e pai da nação

Herdeiro do Império Persa, uma monarquia governada por um xá ou imperador, o Irã foi dominado pela dinastia Pahlavi por mais de 50 anos. Em 1941, o xá foi forçado a abdicar em favor de seu filho Mohamad Reza Pahlavi, de apenas 21 anos, e que, mais tarde, se autoproclamaria "rei dos reis". O jovem teria autoridade real apenas depois de um golpe de Estado, orquestrado pela Agência Central de Inteligência americana (CIA), derrubar em 1953 seu popular primeiro-ministro, Mohamed Mossadegh, então envolvido com um projeto de nacionalização do petróleo iraniano. controlado pelos britânicos. Inundado pelos petrodólares, o  Irã do xá se tornou um dos clientes mais importantes da indústria da defesa americana e um anteparo contra a influência soviética.

Suas reformas sociais inspiradas no Ocidente provocaram, porém, a ira dos líderes religiosos, enquanto seus esforços para consolidar seu poder e sua brutal polícia secreta lhe valia a reputação de tirano. A oposição e a corrupção de uma parte da elite de Teerã levam à criação de uma coalizão improvável, mas poderosa. Esse grupo reuniu, ao mesmo tempo, islamistas radicais opostos ao quietismo do clérigo tradicional, estudantes de esquerda inspirados nos movimentos anticolonialistas ao redor do mundo, assim como republicanos, liberais e laicos, herdeiros políticos de Mossadegh. 

É nesse cenário que o aiatolá Khomeini assumiu, em 1963, a liderança da revolta contra as reformas modernistas. Em um sermão incendiário, advertiu o xá Mohamad Reza contra o perigo de um dia ser caçado em júbilo popular.  Preso após distúrbios em Qom em junho naquela ano, foi novamente encarcerado em 1964, após uma nova acusação contra o regime imperial, que acabara de conceder imunidade diplomática ao pessoal militar dos Estados Unidos no Irã. Foi, então, forçado ao exílio. Nascido em 1902 no centro do Irã, Ruhollah ("Espírito de Deus") Khomeini veio de uma família religiosa. Ele tinha apenas alguns meses de idade quando seu pai Foi assassinado por um lorde local por se opor ao regime imperial. Criado por sua mãe e sua tia, fez estudos religiosos, especialmente na cidade sagrada de Qom, ao sul de Teerã. Adquiriu um grande domínio de filosofia, direito e jurisprudência islâmica, e então formou seus primeiros discípulos. Passou a ser respeitado por sua erudição e por seu rigor moral, a base de sua reputação.

Em 1929, casou-se com uma jovem de 16 anos que lhe deu três meninas e dois meninos, um dos quais morreu em 1977. Khomeini envolveu-se na política apenas em 1962 - quando tinha 60 anos - para denunciar a "Revolução branca" empreendida pelo xá para modernizar o campo. A morte, em 1961, do grande aiatolá Hossein Borujerdi, a primeira autoridade espiritual no Irã e defensor de uma estrita não-intervenção do clero xiita na vida política, o deixou livre para apresentar suas ideias. Em 1964, foi obrigado a deixar o país. Da Turquia foi para o Iraque em 1965. Instalado na grande cidade sagrada xiita de Najaf, radicalizou seu discurso e desenvolveu a teoria da "Velayat-e Faqih" ("governo do jurista muçulmano"), sobre o poder de um ulema escolhido por sua piedade e julgamento para dirigir tanto o Estado quanto a comunidade dos crentes. 

Este princípio fundou posteriormente a República Islâmica. Expulso de Najaf pelo governo iraquiano, desembarcou na França em 1978, onde se estabeleceu em Neauphle-le-Château, nos subúrbios de Paris. Lá, conduziu a fase final de sua luta. Agitava seus partidários com ferozes diatribes contra o xá, gravadas em cassetes de áudio que chegam ao Irã, onde a repressão sangrenta das manifestações levam cada vez mais iranianos para as ruas. A revolução estava em andamento: o xá deixou Teerã em 16 de janeiro de 1979. Fugiu com sua mulher para o Egito, o passo inicial de uma caminhada que também os levaria para Estados Unidos e México - o homem, que sonhava em transformar seu país na quinta potência mundial em 2000, faleceu no Cairo, apátrida, falido e sozinho, em 27 de julho de 1980. Morreu por um câncer, depois de 18 meses de fuga.

Os dez dias do amanhecer

Do retorno triunfal de Ruhollah Khomeini a Teerã ao fim do último governo do xá, os "dez dias do amanhecer" ("Daheh-ye Fajr"), na terminologia oficial, são celebrados todos os anos como a vitória da Revolução Islâmica. Em 1º de fevereiro de 1979, o aiatolá fez um retorno triunfal a Teerã, após mais de 14 anos de exílio no Iraque e no subúrbio parisiense. Um. Um multidão de milhares de pessoas em festa aclama Khomeini no aeroporto e no trajeto que o leva ao cemitério de Behecht-e Zahra, ao sul da capital, onde faz seu primeiro grande comício. Ele questionou a legitimidade do governo de Chapur Bakhtiar, figura da oposição nacionalista, escolhido pelo xá na véspera de sua fuga para o exílio, na tentativa de barrar o caminho para os religiosos.

Em 2 de fevereiro, todos os grandes contratos (usinas, nuclear, armamentos e outros) firmados com fornecedores estrangeiros foram questionados. No dia seguinte, em sua primeira entrevista coletiva, Khomeini anunciou a criação de um "Conselho Nacional Islâmico". Em apoio ao aiatolá, na tarde posterior, greves de fome foram feitas na Força Aérea, e 20% dos militares não se apresentam nos quartéis. No dia 6, Mehdi Bazargan, um engenheiro nacionalista e islamista, opositor de longa data do regime do xá, tornou-se primeiro-ministro do governo provisório resultante da Revolução. Dois governos funcionavam: o de Bazargan, revolucionário; e o último governo imperial, o de Bakhtiar. Para apoiar o governo provisório, o clérigo organizou todos os dias manifestações com milhões de pessoas.

Em Ispahan, segunda mairo cidade do país, os mulás instalam um poder paralelo encarregado de administrar os negócios municipais. No dia 8, em Teerã, pela primeira vez, mais de mil militares participam de uma grande marcha em favor de Bazargan. Em 10 de fevereiro, soldados amotinados da Força Aérea, atacados na véspera por elementos da Guarda imperial, assumiram o controle do bairro leste da capital, com a ajuda de civis, também armados. Os insurgentes conseguiram invadir as prisões e libertam os presos políticos.

O jornalista da AFP Pierre-André Jouve descreve uma capital "entregue à desordem": "multidões armadas com pedaços de pau, (...) homens aos milhares se instituindo 'policiais da Revolução' em quase todos os grandes cruzamentos da cidade, paramédicos improvisados". Khomeini ordenou o desrespeito ao toque de recolher, mas declarou que a "Jihad" (guerra santa) não estava na ordem do dia. No dia 11, um quartel do Exército, no nordeste de Teerã, tomado de assalto por milhares de civis, caiu nas mãos dos partidários de Khomeini. No fim da manhã, o centro da capital passou para o controle de civis armados e de desertores. Combates muito violentos aconteceram no bairro sul entre militares de diversas facções e civis. Também controlada pelos grevistas, assim como a televisão, a rádio anunciou a dissolução do Parlamento.

Khomeini pediu aos chefes militares para "não se oporem ao movimento de reunião de soldados e de oficiais". "Teerã está praticamente nas mãos dos partidários do aiatolá Khomeini", escreveu o então enviado especial da AFP, Patrick Meney. "No cair da noite, o centro de Teerã já tinha ares de uma revolução acabada: é quase a hora dos desfiles da vitória", acrescenta o jornalista. "Militares amotinados são aclamados pela multidão. Soldados do Exército se unem aos estudantes em revolta no campus. Os inimigos de ontem se abraçam. As mulheres de xador estão aos prantos", relata. À noite, um comunicado afirmou que "com a vitória da Revolução", o Estado-Maior, a Guarda imperial e as diferentes forças do Exército "aderiram ao movimento popular". Em dois dias, a batalha deixou mais de 200 mortos e mil feridos. Depois do fim do governo Chapur Bakhtiar, Mehdi Bazargan se instalou oficialmente na Presidência do Conselho. 

Se os discurssos de Khomeini eram dirigidos aos deserdados, ele engajou a República em um novo caminho: a expulsão do "Grande Satã" americano. Em novembro, estudantes ocuparam a embaixada dos Estados Unidos, fazendo 52 diplomatas reféns por 444 dias. No final de 1979, Khomeini foi investido com os poderes de Guia ("Rahbar") da República Islâmica pela nova Constituição. Nos primeiros anos após a Revolução, a sociedade iraniana experimentou uma rápida re-islamização. Em 1980, o ditador iraquiano Saddam Hussein desencadeou hostilidades contra Teerã para impedir qualquer propagação da Revolução Islâmica no Iraque, onde os xiitas são maioria.

Após oito anos de conflito, o guia iraniano aceitou com relutância o fim dos combates que deixaram o país em sangue. Mas a guerra fortaleceu a República Islâmica, que, ao mesmo tempo, reprimiu os "inimigos internos", como os marxistas ou os nacionalistas laicos que haviam participado da revolução de 1979. Em 1989, enfraquecido por um câncer na próstata, Khomeini afirmou sua vontade de "não permitir aos liberais de tomar o poder". Ele se afastou do aiatolá Montazeri, seu então sucessor. Pouco antes de sua morte, em 3 de junho de 1989, lançou uma fatwa pedindo a morte do escritor britânico de origem indiana Salman Rushdie por seu livro "Versos Satânicos", que ele julgava blasfematório. Seu mausoléu em Teerã se tornou um local de peregrinagem e atrai milhões de iranianos todos os anos.

Memórias da Revolução

Ao longo dos meses que antecederam a fuga do último xá e o colapso de 25 séculos de monarquia, o vendedor Ahmad Cheikh-Mehdi foi testemunha do fervor popular que levaria o xá a deixar o Irã após meses de manifestações contra seu regime. "Todo o mundo foi transformado pela Revolução. Nós voltamos a sentir esperança", lembrou Cheikh-Mehdi, que trabalhava na época como ajudante de um comerciante no Grande Bazar de Teerã, um dos redutos de apoio à insurreição, um bastião tradicionalista próximo dos religiosos contrários ao que descreviam como a secularização e ocidentalização promovidas pelo xá.

Cheikh-Mehdi guarda uma viva lembrança dessa época. Ele se recorda, em particular, dos cantos repetitivos de um daroês - adepto de uma veia mística do Islã - que atravessava os corredores do bazar nos meses que antecederam a saída do xá, que fugiu com sua mulher para o Egito. Sua queda começou a se desenhar um ano antes de sua queda, em janeiro de 1978, com a publicação no jornal "Etelat" de um artigo de tom ofensivo por parte do aiatolá Khomeini. Estudantes de Teologia desceram às ruas para protestar, mas esses atos foram reprimidos a sangue. Os enterros dessas vítimas deflagram um novo ciclo de manifestações e de repressões. Os problemas se acentuaram ao longo de 1978.

O Grande Bazar fechava, com frequência, em sinal de apoio aos manifestantes. "Um jovem vinha correndo, assobiava e gritava 'Eles estão aqui', e nós fechávamos todas as lojas para nos unirmos às manifestações", recorda Ebrahim Almassi, de 77, que tem até hoje uma loja de fantasias no bazar. Ele sente falta desse espírito revolucionário em erupção, inspirado no carisma de Khomeiny. "As pessoas estavam apaixonadas naquela época!", afirmou.

Para Cheikh-Mehdi, já é tempo de voltar às raízes religiosas da Revolução. Ele disse se inspirar no imã Ali, genro do profeta Maomé e símbolo da justiça para os muçulmanos xiitas, majoritários no Irã: "todos nós temos precisamos lembrar que a vida é curta e que nós todos seremos julgados".  Ele se lembra que ovos eram comprados para os trabalhadores em greve, um dos exemplos de solidariedade então em voga. 

O último xá do Irã

Venerado e depois condenado por seus súditos, instrumentalizado e depois abandonado pelos americanos, Mohamed Reza Pahlavi, obrigado a se exilar em 1979 depois de 37 anos de reinado, não sobreviveu à sua obsessão de se tornar o Dario dos tempos modernos. Menos de dois anos antes de sua morte, o multimilionário ainda era um dos últimos autocratas por direito divino, que se autoproclamava herdeiro dos imperadores persas.

Reza Pahlavi recebia os dirigentes do mundo inteiro com um olhar autoritário e uniforme napoleônico, mandava construir bases navais ultrassofisticadas, abria centrais nucleares no deserto, investia petrodólares no exterior, enquanto os camponeses beijavam seus sapatos, e as cortesãs, sua mão. Durante seu acesso ao trono, em 1941, porém, o jovem era apenas um "pequeno rei" de 21 anos, alavancado para liderar um país dividido pelas grandes potências que impuseram a abdicação e o exílio a seu pai.

Nascido em 26 de outubro de 1919, educado em Genebra e nomeado coronel no Exército imperial aos 12 anos, o tímido Reza Pahlavi estava atormentado pelo temor de ser inferior a seu pai, o xá Reza Khan Pahlavi, um soldado transformado em um rei reformador e autocrata. Foram necessários 12 anos, três grandes crises, três atentados e três casamentos para que este amante dos carros e das mulheres se tornasse o monarca absoluto do segundo maior país exportador de petróleo.

Em 1946, expulsou os russos do Azerbaijão. Em 1953, com a ajuda de britânicos e americanos, derrubou seu primeiro-ministro Mossadegh, que havia nacionalizado a indústria petroleira. Em 1963, desterrou Khomeini. Ao mesmo tempo, dirigiu sua "revolução branca" e, à imagem e semelhança de Ataturk, começou a conduzir seu povo para o progresso social e para o desenvolvimento econômico. O Irã era um mercado colossal, onde se misturavam rosas e petróleo, miséria e luxo. O autocrata reinou de maneira absoluta sobre desertos cheios de petróleo e de gás. Dominou a região, e seu Exército, o mais forte do Oriente Médio, foi o "gendarme".

Megalomania

Viajou muito com a rainha Soraya, sua segunda mulher, da qual se divorciou pela impossibilidade de conceber um herdeiro. Aliado importante dos americanos, aproximou-se progressivamente da URSS e da China. Quando firmou uma associação econômica com a Europa, em particular con a França, os Estados Unidos pensaram em derrubá-lo. Seu comportamento começou a criar preocupação. Desenvolveu uma megalomania alimentada em segredo pelo sonho de imitar a dinastia Aquemênida, os conquistadores persas do século V a.C.

Como Napoleão, Reza Palhevi coroou a si mesmo em 1967 e colocou sobre a cabeça de sua terceira mulher, a rainha Farah Diba, uma coroa cravejada com esmeraldas do tamanho de um ovo. Em Persépolis, cercado de luxo, celebrou os 2,5 mil anos da monarquia persa. Criou um partido único e sufocou a resistência, graças à "Savak", sua temida polícia. Os intelectuais foram silenciados, e os mulás xiitas se organizaram em uma oposição alimentada do Iraque pelo aiatolá Khomeini.

Os jogos da corte e as luxuosas recepções continuaram como se nada estivesse acontecendo até que, em 1978, as províncias e depois Teerã se rebelaram. Nos últimos meses, ficou sem energia diante de uma oposição que havia reprimido no passado. Algo que poderia ser consequência de seu câncer, ou porque os americanos já o considerassem excessivamente desacreditado, preferindo os islamistas para conter os russos. Mais tarde, seu séquito considerou que, rígido, imbuído de sua "divindade", profundamente introvertido e incapaz de qualquer autocrítica, ele não conseguiu se adaptar. Vencido, o último xá do Irã fugiu de Teerã em 16 de janeiro de 1979.

Guia supremo

A Constituição concede a maior parte do poder ao guia supremo, que atualmente é o aiatolá Ali Khamenei, que sucedeu a Khomeini. A Assembleia de Especialitas é o órgão encarregado de nomear, supervisionar e, se necessário, destituir o guia supremo. Eleito por sufrágio universal, o presidente nomeia o governo. Hassan Rohani foi eleito em 2013 e reeleito em 2017. Os poderes do Parlamento são limitados em relação a outras instituições, como o Conselho dos Guardiães da Constituição, composto em parte por religiosos designados pelo líder supremo. A Guarda Revolucionária constitui o exército de elite do país.

Irã é o grande rival regional da Arábia Saudita, peso-pesado da Liga Árabe. Os dois poderes apoiam lados diferentes em vários conflitos regionais. Desde o início da guerra na Síria em 2011, Teerã, auxiliado pelo movimento xiita libanês Hezbollah, é o principal apoio regional militar e financeiro do regime de Bashar al-Assad, que pertence à minoria alauíta, um ramo do xiismo. A Arábia Saudita, um país sunita, apoia os rebeldes. Riad acusa o Irã de apoiar militarmente os rebeldes huthis, no Iêmen, algo que Teerã nega.

Um país de mais de 80 milhões de habitantes, 90% dos quais são xiitas, o Irã tem uma Constituição que prevê que os sunitas (cerca de 10% da população) "são livres para cumprir seus ritos religiosos de acordo com sua jurisprudência religiosa". O país conta com muitos lugares registrados na lista do patrimônio cultural mundial da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco). Entre eles estão as antigas capitais Isfahan (centro), Shiraz (sul) e a imponente capital do Império Aquemênida fundado em 550 a.C., Persépolis.


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