Irã denuncia "hipocrisia" de Joe Biden após anúncio de novas sanções

Irã denuncia "hipocrisia" de Joe Biden após anúncio de novas sanções

Onda de manifestações afeta o Irã desde a morte de Mahsa Amini em 16 de setembro,

AFP

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O Irã denunciou nesta terça-feira (4) a "hipocrisia" do presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, que prometeu novas sanções contra Teerã após a repressão dos protestos no país. Uma onda de manifestações afeta o Irã desde a morte, de Mahsa Amini, de 22 anos, em 16 de setembro. A jovem foi detida pela polícia da moral de Teerã por supostamente violar o rígido código de vestimenta que obriga as mulheres a usar o véu.

Dezenas de pessoas, principalmente manifestantes, mas também policiais, morreram nos protestos, que as autoridades iranianas chamam de "distúrbios". E centenas foram detidas.

"Teria sido melhor se Joe Biden pensasse um pouco sobre o histórico de direitos humanos de seu país antes de falar sobre a situação humanitária (no Irã), embora a hipocrisia não exija uma reflexão profunda", afirmou no Instagram o porta-voz do ministério iraniano das Relações Exteriores, Nasser Kanani. "O presidente americano deveria estar preocupado com as (consequências das) inúmeras sanções... contra a nação iraniana, que representam claramente um exemplo de crime contra a humanidade", disse.

Joe Biden anunciou na segunda-feira que Washington vai impor mais sanções ao Irã nesta semana em resposta à violenta repressão a "manifestantes pacíficos" no país.

"Os Estados Unidos estão com as mulheres iranianas e todos os cidadãos iranianos que inspiram o mundo com sua coragem", afirmou. Biden não revelou indícios do tipo de medida que considera impor para punir Teerã.

O Irã já está sob sanções econômicas dos Estados Unidos devido em parte ao seu controverso programa nuclear. Teerã insiste que este programa tem finalidades civis, mas a comunidade internacional suspeita que visa a construção de uma arma atômica.

Estudantes perseguidos

O guia supremo do Irã, o aiatolá Ali Khamenei, acusou Estados Unidos e Israel na segunda-feira de fomentar o movimento de protestos, o maior no país desde o de 2019 contra o aumento dos preços dos combustíveis.

"Digo claramente que esses distúrbios e a insegurança foram organizados pelos Estados Unidos e pelo falso regime sionista de ocupação, bem como seus agentes, com a ajuda de alguns iranianos traidores no exterior", declarou Khamenei, 83 anos, em seu primeiro comentário público sobre os protestos. "Os Estados Unidos não podem tolerar um Irã forte e independente", enfatizou.

As organizações de defesa dos direitos humanos denunciam a repressão violenta, em particular contra os estudantes durante incidentes na madrugada de segunda-feira na Universidade Tecnológica Sharif de Teerã, a de maior prestígio no país.

A ONG Iran Human Rights (IHR), com sede na Noruega, divulgou dois vídeos, incluindo um que mostra policiais em motos perseguindo estudantes em um estacionamento. A outra gravação mostra os agentes levando os detidos com as cabeças cobertas com sacos.

Em outro vídeo, tiros e gritos são ouvidos enquanto um grande número de pessoas corre pela rua à noite, imagens que a AFP não conseguiu verificar com fontes independentes.

A polícia antidistúrbios utilizou armas de paintball e gás lacrimogêneo contra os estudantes, que gritavam frases como "Mulher, vida, liberdade" e "Os estudantes preferem a morte à humilhação".

As manifestações também atingiram as escolas. Vídeos compartilhadas pelo grupo curdo de defesa dos direitos humanos Hengaw que mostram as alunas protestando em duas cidades na província do Curdistão, região natal de Amini.

Nesta terça-feira, as forças de segurança libertaram o cantor Shervin Hajipour, detido depois que a canção "Baraye" ("Para"), composta a partir de tuítes sobre as manifestações, viralizou nas redes sociais.

O Canadá adotou novas sanções contra autoridades iranianas. E o ministério das Relações Exteriores do Reino Unido convocou na segunda-feira o principal diplomata iraniano em Londres.


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