Japão revisará radicalmente política de defesa para enfrentar aumento de ameaças

Japão revisará radicalmente política de defesa para enfrentar aumento de ameaças

Mudança responde ao crescente poder militar da China, aos testes da Coreia do Norte e a invasão russa na Ucrânia

AFP

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O Japão deve anunciar esta semana a maior revisão de sua política de defesa em décadas, com aumento de gastos, a reorganização do comando militar e a compra de novos mísseis para enfrentar as crescentes ameaças.

A nova política será detalhada em três documentos de defesa e segurança na sexta-feira (16). Ela reformulará a estratégia de um país cuja Constituição posterior à Segunda Guerra Mundial nem sequer reconhece oficialmente as Forças Armadas.

"Fundamentalmente, fortalecer nossas capacidades defensivas é o desafio mais urgente neste ambiente de segurança severo", afirmou o primeiro-ministro Fumio Kishida no fim de semana. "Vamos aumentar com urgência nossas capacidades de defesa nos próximos cinco anos", acrescentou.

A mudança responde aos temores do governo japonês ante o crescente poder militar da China e sua influência na região, mas também ao frenesi de testes de mísseis da Coreia do Norte e à invasão da Ucrânia pela Rússia.

Um aspecto crucial da nova política é o compromisso de aumentar o gasto militar a 2% do PIB até 2027 para deixar o Japão no mesmo nível dos países membros da Otan, com a qual Tóquio tem uma relação próxima, apesar de não integrar a organização.

O valor adicional financiará projetos como a aquisição do que o Japão chama de "capacidades contraofensivas", ou seja, a possibilidade de atacar plataformas de lançamento consideradas ameaçadoras, inclusive de modo preventivo.

Até agora, o Japão evitava adquirir este tipo de arsenal diante da discussão sobre uma possível violação da cláusula constitucional que limita o poderio militar do país à autodefesa.

Os documentos da nova estratégia insistirão, segundo a imprensa, que o Japão permanece comprometido com sua "política de segurança orientada à autodefesa" e "não se transformará em uma potência militar".

Parte das novas capacidades procederão dos 500 mísseis de cruzeiro Tomahawk que o Japão planeja adquirir dos Estados Unidos como recurso de segurança, ao mesmo tempo que desenvolve seus próprios mísseis de longo alcance.

"Maior desafio estratégico"

O Japão também anunciou planos para desenvolver caças de nova geração em parceria com Itália e Reino Unido. O país também estuda a possibilidade de construir novos depósitos de munições e lançar satélites para ajudar a direcionar eventuais contra-ataques.

As mudanças afetarão a organização militar: o jornal Nikkei afirma que os três setores das Forças de Autodefesa serão unificados em apenas um comando nos próximos cinco anos.

A presença destas forças nas ilhas mais meridionais do Japão vai aumentar e o governo pretende triplicar as unidades com capacidade de interceptação de mísseis balísticos, segundo a imprensa.

Os documentos, incluindo um sobre Estratégia de Segurança Nacional, citarão a China para justificar a mudança de política.

O Partido Liberal Democrata, que governa o Japão, desejava classificar a China como uma "ameaça", mas sob pressão de seu aliado minoritário na coalizão, o Komeito, se conformará em citar o país vizinho como uma "grave preocupação" e o "maior desafio estratégico" de Tóquio.

De qualquer maneira, isto representa uma grande mudança em relação à última atualização do documento em 2013, no qual o Japão defendia a busca de uma "aliança estratégica mutuamente benéfica".

Manobras chinesas

A preocupação com a China aumentou depois das grandes manobras militares de Pequim ao redor de Taiwan em agosto, quando alguns mísseis caíram na zona econômica exclusiva do Japão.

A nova política nipônica também deve cortar a defesa de uma cooperação e avanço das relações com a Rússia, passando a definir o país como um desafio.

O Japão seguiu os aliados ocidentais e adotou sanções contra a Rússia devido à guerra na Ucrânia.

Esta guinada na política de defesa japonesa provavelmente irritará Pequim, que habitualmente cita a beligerância japonesa durante a primeira metade do século passado para criticar Tóquio.

Também pode provocar turbulências domésticas - embora as pesquisas apontem um aumento do apoio ao reforço das capacidades de defesa.

"Para aqueles que formulam as políticas de defesa do Japão, estes acontecimentos não representam um ressurgimento militarista, mas sim o passo mais recente em uma lenta e gradual normalização de sua posição de defesa e segurança nacional", disse James Brady, vice-presidente da consultoria Teneo.


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