Japão se despede ex-premiê assassinado Shinzo Abe com funeral polêmico

Japão se despede ex-premiê assassinado Shinzo Abe com funeral polêmico

Milhares de pessoas formaram longas filas para deixar flores

AFP

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Milhares de japoneses e autoridades estrangeiras prestaram homenagem nesta terça-feira (27) ao ex-primeiro-ministro Shinzo Abe, assassinado em julho, em um funeral de Estado que gerou protestos, mas também longas filas de pessoas que desejavam oferecer flores e preces.

As cinzas de Abe, transportadas por sua esposa Akie em um cortejo fúnebre a partir de sua residência na capital japonesa, chegaram ao ginásio Budokan de Tóquio ao som de uma salva de 19 disparos em homenagem ao falecido líder

Em sua elegia, o atual primeiro-ministro Fumio Kishida descreveu Abe como "uma pessoa de coragem" e citou suas conquistas políticas, incluindo os esforços para fortalecer os laços diplomáticos do Japão. "Sinto uma dor dilacerante", afirmou Kishida diante de uma enorme fotografia de Abe pendurada, que estava sobre uma grande estrutura de flores.

Abe foi o chefe de Governo do Japão que permaneceu mais tempo no cargo e uma das figuras mais famosas do país, recordado por cultivar alianças internacionais e por sua estratégia econômica, que recebeu o nome "Abenomics". Ele renunciou em 2020 por um problema de saúde recorrente, mas continuou como uma importante figura pública e fazia campanha pelo partido do governo quando um homem armado o matou a tiros em 8 de julho.

O assassinato estremeceu o país, que tem baixos níveis de crimes violentos, e motivou condenações internacionais. Mas a decisão de organizar um funeral de Estado, o segundo para um ex-primeiro-ministro no pós-guerra, gerou uma crescente oposição, com cerca de 60% dos japoneses contrários ao evento, segundo pesquisas recentes.

Oferendas de flores

A cerimônia no Budokan reuniu importantes líderes mundiais como a vice-presidente americana Kamala Harris e os primeiros-ministros da Índia, Narendra Modi, e Austrália, Anthony Albanese.

Do lado de fora do complexo, milhares de pessoas formaram longas filas para deixar flores, geralmente brancas, diante de uma fotografia de Abe e fazer uma oração em duas tendas que abriram uma hora antes do funeral.

Toru Sato, de 71 anos, esperava com o apoio de sua bengala. "Eu só conhecia Abe-san da televisão. Ele trabalhou muito. Sua morte foi tão trágica. Sinto muito por ele", disse à AFP.

Koji Takamori viajou de Hokkaido (norte) com o filho de nove anos. "Eu queria agradecer, ele fez muito pelo Japão", disse o homem de 46 anos.  "Honestamente, eu também queria vir porque existe muita oposição. É como se estivesse aqui para opor-me aos que se opõem ao funeral", acrescentou.

Embora em menor número, os críticos também foram observados na área e pretendiam organizar um protesto diante do Parlamento.

Descontentamento com o funeral

O homem preso por matar Abe o acusou de ter vínculos com a Igreja da Unificação, com a qual estava irritado devido às grandes doações feitas por sua mãe à chamada "seita Moon".

O assassinato provocou um novo escrutínio desse grupo religioso e seus métodos de arrecadação de fundos, e perguntas desconfortáveis para a classe política japonesa. O partido do governo admitiu que metade de seus legisladores tem ligações com a igreja.

O primeiro-ministro Kishida prometeu que seu Partido Liberal Democrático (PLD) romperá relações com a igreja, mas o escândalo agravou o incômodo com o funeral de Estado. Milhares protestaram pela cerimônia e um homem ateou fogo a si mesmo perto do gabinete do primeiro-ministro, deixando um bilhete para expressar a objeção ao evento.

Alguns legisladores da oposição boicotaram o funeral.

A polêmica tem várias razões, incluindo a acusação de que Kishida aprovou a cerimônia unilateralmente, sem consultar o Parlamento. Outros reprovam o custo de quase 12 milhões de dólares do funeral de Estado. Também pesa o legado polarizante da gestão de Abe, marcada por denúncias de nepotismo, e a rejeição a seu nacionalismo e planos de reformar a Constituição pacifista

O governo de Kishida esperava que a solenidade do evento, com quase 4.300 participantes, incluindo 700 convidados estrangeiros, acabasse com a controvérsia. O imperador e a imperatriz do Japão, Naruhito e Masako, não compareceram porque são figuras nacionais neutras, mas o príncipe herdeiro Akishino e sua esposa deixaram flores flores no final do serviço de 90 minutos.


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