Jovem sueca é apaixonada pelo assassino da Noruega

Jovem sueca é apaixonada pelo assassino da Noruega

Anders Breivik matou 77 pessoas em 22 de julho de 2011

AFP

Anders Breivik matou 77 pessoas em 22 de julho de 2011

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Ela se refere a ele pelo primeiro nome, envia cartas toda semana, promete que irá esperá-lo. Poderia ser uma história de amor comum, mas o coração de Victoria pertence a um assassino em massa: Anders Behring Breivik. Responsável pelo maior massacre em tempos de paz registrado na Noruega desde a Segunda Guerra Mundial, Breivik, como muitos outros assassinos famosos, tem sua cota de admiradores, um fenômeno que pode ser acompanhado por atração sexual e que possui até mesmo um nome: hibristofilia. "Eu realmente não gostaria de viver uma vida sem ele", afirma Victoria, que não quer que seu nome verdadeiro seja revelado. Esta jovem sueca tem cerca de 20 anos e sua voz treme quando ela fala sobre seu "querido Anders".

Proveniente de uma pequena cidade da Suécia, ela está fazendo tudo o que pode para obter uma flexibilização das condições prisionais de Breivik: ele passou os últimos quatro anos em isolamento em uma penitenciária de segurança máxima. O norueguês cumpre atualmente uma pena de 21 anos de prisão, que pode ser prorrogada se ele continuar representando um risco à sociedade.

Breivik matou 77 pessoas em 22 de julho de 2011, quando detonou uma bomba perto de edifícios governamentais em Oslo e depois abriu fogo contra um acampamento da juventude trabalhista na ilha de Utoya. "Eu me preocupo ainda mais com ele agora, quando ele está nesta situação vulnerável", explicou ela.

Desempregada por problemas de saúde, ela escreve a ele para ajudar a impulsionar seu moral - até agora, mais de 150 cartas - ou envia pequenos presentes, incluindo uma gravata azul-escura que ele utilizou durante seu julgamento.
Em troca, ela recebeu duas cartas dele enquanto outras foram bloqueadas por funcionários da prisão responsáveis por analisar sua correspondência.

Relacionamento 

Não é fácil definir seu relacionamento com Breivik, um homem que ela nunca conheceu pessoalmente, já que todos os seus pedidos para visitá-lo foram negados. Ela o descreve tanto como seu "antigo amigo" quanto como uma "figura de irmão", protetor, mas admite que o considera atraente e que "havia interesse romântico, no início, ao menos da minha parte".

Afirma que seu primeiro contato ocorreu em 2007 quando eles se encontraram em um jogo on-line. Ele interrompeu o contato com ela dois anos depois, possivelmente para se concentrar no planejamento de seus ataques. Mas no início de 2012 Victoria se reconectou com o homem que na época havia se tornado a pessoa mais odiada na Noruega.

Ela não está sozinha

A revista Morgenbladet informou no ano passado que Breivik recebe ao menos 800 cartas por ano, em sua maioria de admiradoras. Durante seu julgamento, em 2012, foi divulgado que uma menina de 16 anos havia pedido para que eles se casassem.

Hibristofilia é um termo utilizado por criminologistas - mas não por cientistas - para descrever uma atração sexual por assassinos violentos na prisão, que frequentemente recebem cartas de amor picantes ou roupas íntimas sensuais de suas fãs.

Também conhecida como "síndrome Bonnie e Clyde", ela tem existido ao longo do tempo e através das fronteiras. Josef Fritzl da Áustria, que manteve sua filha refém e a estuprou repetidamente por 25 anos, e o assassino americano Charles Manson também têm seus próprios fã-clubes.

Mulheres abusadas

De acordo com Sheila Isenberg, uma autora americana que entrevistou 30 mulheres para seu livro "Women Who Love Men Who Kill" ("Mulheres que amam homens que matam", em tradução livre), estas admiradoras normalmente têm um histórico de abuso sexual. "É a chance que uma mulher tem de estar no controle (o homem está atrás das grades pelo resto da vida e não tem controle sobre nada) quando anteriormente ela foi abusada por seu pai (ou) por outro homem", explicou. "Além disso, é um romance com R maiúsculo: excitante, emocionante, uma montanha-russa sem fim. Nada monótono ou ordinário sobre estes relacionamentos". 

Não há, no entanto, evidências científicas para apoiar a crença generalizada de que estas mulheres sentem que estão em uma missão para ajudar o assassino a encontrar o caminho certo na vida, afirma Amanda Vicary, professora assistente de psicologia da Universidade Wesleyan nos Estados Unidos.

"Algumas mulheres tendem a ser atraídas por homens famosos - é possível que a razão para que algumas mulheres se sintam atraídas por homens que fizeram coisas terríveis não seja tanto o que eles fizeram, mas a fama que eles receberam por seus atos", explicou. 

Victoria, no entanto, diz que não busca a fama. Seu envolvimento com Breivik já custou a ela seu relacionamento com sua irmã que, ao saber de sua ligação com ele, disse: "Você morreu para mim". E ela se distanciou dos amigos.
Victoria admite compartilhar "mais ou menos" a ideologia islamofóbica de Breivik, mas afirma que é contrária à violência.

Então como ela pode amar um homem que matou a sangue frio dezenas de adolescentes aterrorizados, alguns dos quais pediram para que suas vidas fossem poupadas? "Acho que tive que separar o Anders do Breivik, realmente. Penso em Anders como meu amigo antigo e em Breivik como a pessoa que fez todas essas coisas". Os anos passam e, ainda assim, ela se recusa a desistir dele. "Eu sinto falta dele mais e mais a cada dia. Acho que meus sentimentos ficaram ainda mais fortes", conclui.

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