Lugo denuncia "golpe de Estado parlamentar" no Paraguai

Lugo denuncia "golpe de Estado parlamentar" no Paraguai

Presidente deposto reconheceu que será difícil retornar ao poder

AFP

Fernando Lugo foi destituído após massacre que vitimou 17 pessoas

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O presidente paraguaio destituído, Fernando Lugo, afirmou na madrugada deste domingo que o julgamento político contra ele foi "um golpe de Estado parlamentar", depois que seu sucessor, Federico Franco, disse que pediria ajuda a ele para se reconciliar com os países vizinhos que questionam sua legitimidade.

"Houve um golpe de Estado parlamentar no qual os argumentos para um julgamento político não têm nenhum valor e foram rebatidos amplamente pelos advogados de defesa", disse Lugo em coletiva de imprensa improvisada em um canal de televisão local.

O destituído presidente se apresentou de improviso em uma manifestação perante o canal de TV Pública local e após um breve discurso entrou nos estúdios para uma coletiva de imprensa. No entanto, reconheceu que "vai ser muito difícil" retornar ao poder neste período, "embora na política tudo seja possível porque depende da vontade".

Para finalizar, convocou novamente a pacificação com o objetivo de "que a democracia paraguaia se fortaleça". Minutos antes, na cêntrica rua Alberdi, Lugo disse que quem o destituiu na sexta-feira "destituiu a democracia" e que aceitou o "veredicto injusto" pela paz, em uma inesperada aparição pública, constatou a AFP.

"Aqui não destituíram Lugo, destituíram a democracia. Não respeitaram a vontade popular", disse o ex-presidente antes de convocar um "protesto pacífico". Ele acrescentou que aceitou "o veredicto injusto daquele Parlamento pela paz e pela não violência. Tínhamos informação que queriam repetir o março paraguaio (de 1999, quando o presidente Raúl Cubas caiu e o vice-presidente Luis María Argaña foi assassinado). Nunca mais violência, este povo é um povo pacífico e, assim como vencemos pacificamente em 2008, pacificamente o processo democrático continuará com mais força".

O atual presidente Franco disse horas antes em uma entrevista à AFP que pensava em entrar em contato com Lugo para ver que papel o ex-presidente poderia ter para ajudar a reparar a imagem internacional do país. Até o momento, os países latino-americanos não reconheceram o novo governo paraguaio, situação que se agravou na noite de sábado com o anúncio argentino de retirar seu embaixador em Assunção, e com o chamado a consultas de seus embaixadores por parte de Brasil e Uruguai.

Mas os planos de Franco foram por água abaixo depois de Lugo afirmar que a "comunidade internacional vê com objetividade e serenidade o processo paraguaio. Vocês já sabem que os presidentes da Argentina, do Brasil e do Uruguai estão retirando seus embaixadores", afirmou.

Franco havia dito nesse sábado que provavelmente não iria à cúpula do Mercosul (bloco formado por Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai), que irá ocorrer na próxima semana na Argentina. "Vamos esperar, ver o que acontece nos próximos dias, vamos sentir a situação e de acordo com isso vamos decidir, mas acredito que o mais importante é reorganizar o país, tudo é muito recente e não é muito prudente sair do país neste momento", falou.

"Espero que os governos dos países vizinhos, Argentina, Brasil e Uruguai, entendam a situação do Paraguai", explicou Franco. Neste domingo, porém, o novo chanceler paraguaio, José Féliz Fernández Estigarribia, anunciou que irá à cúpula, onde deve ser abordada a destituição de Fernando Lugo da presidência.

"Participaremos da cúpula do Mercosul", disse Estigarribia em uma coletiva de imprensa para meios de comunicação internacionais na sede da chancelaria em Assunção, informando que ele integrará a delegação, mas sem esclarecer se o novo presidente, Federico Franco, também viajará.

O ex-presidente foi destituído pelo Senado do país após um massacre que vitimou 17 pessoas no dia 15 de junho. O vice Federico Franco assumiu o poder na sexta-feira.

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