Mandela se ergueu de tragédias pessoais para virar líder mundial

Mandela se ergueu de tragédias pessoais para virar líder mundial

Trajetória de luta contra o apartheid se interpôs com as relações familiares do sul-africano

AFP

Trajetória de luta contra o apartheid se interpôs com as relações familiares do sul-africano

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Uma trajetória de superação e de coragem para unir um país foi talhada por tragédias. Nelson Mandela, que deverá ter um velório de vários dias na sua cidade natal, em Mvezo, permaneceu separado de seus parentes e amigos e sofreu com inúmeras doenças por causa das quase três décadas em que esteve preso e, além disso, teve uma vida marcada por uma série de perdas marcantes.

O conjunto sombrio da vida de Mandela soma a perda de três filhos, de uma bisneta e a experiência de dois divórcios. O primeiro grande golpe familiar vivido por ele aconteceu nos anos em que era casado com Evelyn Ntoko Mase, quando sua filha Makaziwe perdeu a vida com nove meses, em 1947. Posteriormente, o filho mais velho do casal, Madiba Thembekile, morreu num acidente de trânsito em 1969, quando Mandela estava na prisão de Robben Island.

Lá, Mandela cumpria uma condenação à prisão perpétua por seu papel na criação do braço armado do Congresso Nacional Africano, uma pena ditada contra ele quando tinha 44 anos. As autoridades penitenciárias negaram que fosse ao enterro. O Prêmio Nobel da paz 1993 também não pôde se despedir de sua mãe, falecida um ano antes de morte de seu filho.

Em sua autobiografia, Mandela escreveu sobre a dor que sentiu ao não poder ir a esses enterros, e manifestou sentir-se culpado por antepor a luta política contra o regime racista do apartheid a sua família. "Tomei uma boa decisão pondo o bem-estar do povo antes do de minha família?", questionou-se então.

Outro filho de Mandela com Mase, Makgatho Lewanika Mandela, morreu vítima de uma doença vinculada a sua infecção pelo vírus da Aids em 2005. Sobre esse caso, o ex-presidente falou com clareza, convertendo-se na primeira personalidade sul-africana a quebrar o tabu e falar da doença, em um país onde a pandemia registra os índices mais elevados do mundo. "Falemos publicamente da Aids e não nos escondamos, porque a única maneira de fazer parecer uma doença normal é dizer que alguém morreu de Aids", relatou.

Sua franqueza contrastou com a atitude do também ex-presidente Thabo Mbeki, que durante um tempo negou a relação entre o vírus e a doença e chegou a frear a distribuição de medicamento antirretrovirais. O casamento de Mandela com Mase acabou em divórcio em 1958, mas, em junho do mesmo ano, ele se casou com Winnie Madikizela-Mandela, uma união que também chegou a seu fim tristemente.

Depois dos 27 anos de Mandela na prisão, o casal se separou passados apenas dois anos de sua libertação, em 1990, apesar do divórcio se tornar oficial em 1996, em pleno mandato presidencial. A estravagante militante se envolveu num escândalo ao se cercar dos seguranças do Mandela United Football Club, que mataram Stompie Sepei, um adolescente suspeito de ser um agente do regime dos brancos.

Mandela só se separou quando ela foi condenada pelo sequestro de Sepei, em 1992. Em 1998, Mandela voltou a se casar, dessa vez com Graça Machel, que também está ligada a uma trágica morte, a de seu marido anterior, o presidente moçambicano Samora Machel, assassinado em um misterioso acidente aéreo no norte da África do Sul em 1986. Por fim, a morte de sua bisneta, Zenani Mandela, de 13 anos, em um acidente de carro em 11 de junho de 2010, obrigou o ícone da luta contra o apartheid a permanecer de luto ao invés de participar na cerimônia de abertura do Mundial de futebol da África do Sul.

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