Moqtada Sadr, o poderoso e versátil líder xiita

Moqtada Sadr, o poderoso e versátil líder xiita

Sadr anunciou sua "aposentadoria definitiva" da política e o fechamento de todas as instituições vinculadas ao seu movimento

AFP

publicidade

Quando Moqtada Sadr levanta o dedo indicador e franze a testa, o Iraque prende a respiração. A aura do impetuoso líder religioso xiita tem muito peso na arena política - e nas ruas - apesar de suas visões muitas vezes inconstantes.

Com uma enorme base popular, o ex-líder das milícias paramilitares, vestido com um turbante preto que o identifica como descendente do profeta do Islã, Maomé, mais uma vez mostrou sua influência, desta vez com um simples tuíte. Nesta segunda-feira, anunciou com um breve texto sua "aposentadoria definitiva" da política e o fechamento de todas as instituições vinculadas ao seu movimento.

Pouco depois, dezenas de simpatizantes invadiram o Palácio Republicano em Bagdá e o exército anunciou um toque de recolher em toda a capital a partir das 15h30 (9h30 de Brasília). Com seu anúncio, o turbulento líder xiita busca tirar o Iraque de uma profunda crise política que iniciou com as eleições legislativas em outubro de 2021.

O país, rico em petróleo mas afetado por uma grave crise econômica e social, está paralisado à espera de um acordo para nomear um novo primeiro-ministro e presidente. Sadr exige que novas eleições sejam realizadas. Seus rivais xiitas no Marco de Coordenação, que são pró-iranianos, querem primeiro a formação de um governo e depois a realização de eleições legislativas, sob condições.

"Ocupar as ruas"

Moqtada Sadr sabe que pode contar com uma ampla faixa da comunidade xiita, a maior do Iraque. "É capaz de ocupar as ruas e ninguém pode ofuscá-lo nisso", explica o analista Hamdi Malik, do centro de análise Washington Institute. "Tudo gira em torno dele" em seu movimento.

Apesar das contradições de ser oportunista de alianças. Durante o grande movimento de protesto popular em outubro de 2019, Sadr enviou seus simpatizantes para apoiar as reivindicações de regeneração política dos manifestantes. Em seguida, pediu para que se retirassem.

"Ele tenta se colocar no centro do sistema político, mantendo distância dele", diz Benedict Robin-D'Cruz, especialista em movimentos xiitas da Universidade Dinamarquesa de Aarhus. "Sua posição como líder religioso lhe permite projetar uma imagem de estar além da política".

Nascido em 1974 em Kufa, perto da cidade sagrada xiita de Najaf (sul), esse homem de rosto redondo e barba grisalha é descrito por alguns de seus colaboradores como colérico.

Ele vem de "uma linhagem de religiosos xiitas, "sayyids" (descendentes do profeta Maomé), explica Malik, e seu pai, assassinado por Saddam Hussein em 1999, é considerado um "shahid" (mártir), atributo de grande importância entre os militantes xiitas.

A sua campanha nas eleições legislativas foi construída em torno do combate à corrupção e da reconstrução do país, bem como no incentivo à fibra nacionalista. Temas vagos, mas que se federam em um dos países mais corruptos do mundo, segundo a classificação da Transparência Internacional.


Mais Lidas





Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895