Multidão reivindica nova independência da Argélia

Multidão reivindica nova independência da Argélia

Mobilização toma as ruas pelo segundo dia contra governo

AFP

Movimento rejeita eleições presidenciais marcadas para 12 de dezembro

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Uma onda humana varreu as ruas do centro de Argel nesta sexta-feira, exigindo uma nova "independência" da Argélia, 65 anos após o início da luta armada contra o colonizador francês, segundo um jornalista da AFP. A falta de contagem oficial e a topografia impossibilitam a contagem dos manifestantes, mas nesta 37ª sexta-feira consecutiva de manifestação, a mobilização é semelhante à observada no auge do "Hikak", nome do movimento de protesto sem precedentes que a Argélia está vivenciando desde 22 de fevereiro.

Nos últimos dias, as redes sociais foram dominadas por frases como "Vamos invadir a capital", ou "Hirak 1º de novembro", para convocar os argelinos a seguirem até a cidade de Argel. Em 1º de novembro de 1954, a recém-criada Frente de Libertação Nacional (FLN) iniciou a "Revolução argelina" e a luta armada pela independência, com uma série de atentados simultâneos. Este dia, a "Festa da Revolução", é feriado na Argélia.

Na quinta-feira à noite, os manifestantes começaram a se reunir no centro de Argel, mas foram dispersados pela polícia, que fez várias detenções, de acordo com a imprensa. Durante a madrugada, os acessos à capital registravam engarrafamentos consideráveis, atribuídos ao fluxo de manifestantes de diferentes províncias, mas também às muitas barreiras erguidas pela polícia.

"Muitos manifestantes chegam a Argel. Chegam por estrada, por ferrovias, pelo aeroporto de Argel e até a pé", informa o site Interlignes. Há vários dias, "panfletos digitais" circulam nas redes sociais e pedem uma grande manifestação, comparando a data de hoje ao 1º de novembro de 1954. Desde o início de abril, quando conseguiu a renúncia do presidente Abdelaziz Buteflika, o "Hirak" exige o desmantelamento do "sistema" que está no poder desde 1962.

O movimento rejeita as eleições presidenciais planejadas para 12 de dezembro para escolher um sucessor de Buteflika, alegando que o processo é uma tentativa de regenerar o "sistema". As autoridades negam e tentam minimizar o alcance do protesto. Na quarta-feira, o general Ahmed Gaïd Salah, comandante do Estado-Maior do Exército e que está no comando do país desde a renúncia de Buteflika, disse que a eleição presidencial tem a "adesão total" dos cidadãos.

Uma declaração contestada pelos protestos, uma vez que os manifestantes continuaram a ir em massa para as ruas todas as sextas-feiras. A multidão está decidida a acabar com todo "sistema" - uma referência ao aparato burocrático herdado após 20 anos de Presidência de Buteflika. Os manifestantes exigem a saída do governo de dirigentes próximos a Buteflika, gritando palavras de ordem como "Ou nós ou vocês, não vamos parar", "Estado Civil, não militar" e "A desobediência civil está a caminho".

Também querem a renúncia de Karim Yines, o coordenador da Instância Nacional de Diálogo e Mediação, formada pelo presidente interino para realizar consultas sobre as modalidades das futuras eleições presidenciais. A mobilização rejeita esse organismo, e várias personalidades da política se recusaram a fazer parte dele.


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