Nova estratégia de comunicação do Boko Haram segue os passos do Estado Islâmico

Nova estratégia de comunicação do Boko Haram segue os passos do Estado Islâmico

Grupo divulgou vídeos com símbolos visuais e um estilo similar ao usado pelo EI

AFP

Líder do Boko Haram, Abubakar Shekau, começa a mudar estratégia de comunicação

publicidade

Os vídeos sem som dos islamitas nigerianos Boko Haram fazem parte do passado. Agora, parece que querem competir em qualidade com os do grupo jihadista Estado Islâmico (EI). O Boko Haram multiplica ataques sangrentos no nordeste da Nigéria há seis anos, e inclusive, no Chade, no Níger e no Camarões, o que levou estes países a lançar uma ofensiva militar contra o grupo islamita. Esta semana, publicou dois vídeos que contrastam completamente com os anteriores, lançando mão de símbolos visuais e de um estilo similar ao usado pelo EI para recrutar candidatos à jihad em suas fileiras na Síria e no Iraque.

Segundo Aaron Zelin, do Washington Institute for Near East Policy (Winep), o grupo pode ter desenvolvido sua capacidade técnica. "O mais chamativo", segundo este especialista, "é a grande diferença entre os vídeos das quatro ou cinco últimas semanas e o que faziam antes". A mudança de forma e conteúdo da propaganda do Boko Haram leva alguns especialistas a especular sobre possíveis vínculos com jihadistas do Oriente Médio ou uma aliança entre diversos grupos.

Mas outros especialistas reforçam que, por enquanto, não há nenhuma prova concreta de vínculos diretos, embora seja muito provável que existam contatos entre os jihadistas que intervêm no Sahel e os membros do EI. "Os dirigentes de Boko Haram e do EI não mantêm realmente contato, mas muitos dos grupos afiliados a eles sim, para fazer negócios", explica Yan St-Pierre, do grupo Mosecon (Modern Security Consulting Group), especializado em contraterrorismo.

Do CD-Rom ao YouTube e ao Twitter

Os primeiros vídeos do Boko Haram, de qualidade medíocre, eram feitos de forma quase artesanal e distribuíam-se através de intermediários em CD-Rom e em chaves de memória USB, entregues a jornalistas no norte da Nigéria. Na maioria das vezes, mostravam seu líder, Abubakar Shekau, gesticulando em intermináveis monólogos. A partir de dezembro de 2013, estes vídeos passaram a incluir planos variados e, sobretudo, imagens de execuções.

Depois, o grupo começou a postar vídeos no YouTube e em 17 de fevereiro, pela primeira vez, no Twitter, através de uma conta em árabe. Neles, Shekau dá uma imagem de pessoa mais sossegada. YouTube e Twitter permitem "controlar" melhor suas mensagens, explicam especialistas.

Boko Haram também divulgou na quinta-feira um vídeo sobre combatentes no terreno, com um grafismo que lembra a propaganda do EI. O grupo também publicou fotos de um suposto ataque à cidade de Gombe (nordeste da Nigéria) e vários comunicados. Yan St-Pierre o interpreta como uma "demanda aberta" de aliança mais formal com o EI e a Al Qaeda, mas Max Abrahms, especialista em grupos terroristas da universidade americana Northeastern (Boston) o consideram uma simples adaptação "à época atual". Abrahms estima, no entanto, que as críticas recorrentes contra os Estados Unidos e Israel têm como objetivo de reunir apoio e recrutar combatentes.

Mais Lidas





Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895