O cerco russo diminui dando lugar aos cadáveres no leste de Kharkiv

O cerco russo diminui dando lugar aos cadáveres no leste de Kharkiv

Soldados da Rússia estavam espalhados na periferia da cidade ucraniana nesta quarta-feira (30)

AFP

Kharkiv é uma das cidades mais atingidas pela guerra

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Eles aparecem aqui e ali, pegos pela morte, em seus uniformes ensanguentados, ao acaso de uma vala ou de uma porta crivada de estilhaços. Uma dúzia de cadáveres de soldados russos estavam espalhados nesta quarta-feira (30) na periferia leste de Kharkiv.

O Exército ucraniano recuperou o controle de uma parte da rodovia, afrouxando o cerco russo sobre a segunda cidade da Ucrânia.

"Há uns por toda parte", diz um oficial ucraniano da inteligência, durante uma visita organizada pelo Exército, ao longo desta estrada de quatro pistas e no vilarejo vizinho de Mala Rogan, três quilômetros mais ao norte.

Os combates "duraram quase três dias para libertar" este trecho da estrada que liga Kharkiv a Chuguyv, explicou. A leste de Chuguiv, no entanto, esta mesma estrada está cortada: a ponte sobre o rio Donets foi destruída durante a noite por um bombardeio, observou a AFP.

Perto de Kharkiv, "a estrada estava sob fogo das forças russas que mataram civis. Nós os empurramos para trás cerca de dez quilômetros mais ao norte", diz um comandante da 92ª Brigada, uma das principais unidades que participam da defesa da cidade.

O corpo de um ucraniano, em trajes civis, morto alguns dias antes, ainda está caído no canto da estrada, perto de uma van crivada de balas. Em uma vala, abaixo do acostamento, outro cadáver, o de um soldado russo desta vez, com os dedos apontando para o céu.

Passaportes, vários documentos de identidade, cartões de crédito mostram rostos jovens, com datas de nascimento por volta dos anos 2000.

Na beira de um campo arado a algumas centenas de metros de distância, uma posição russa foi completamente destruída. Dois veículos blindados de transporte de pessoal, vagamente escondidos atrás de uma cerca, com suas armas voltadas para Kharkiv, estão meio carbonizados, em meio a objetos militares abandonados.

Aqui os soldados puderam escapar. Mas no próximo posto de combate, os cadáveres de cinco soldados, capacetes pesados na cabeça, estão deitados aqui e ali, um no fundo de sua trincheira, os outros no chão.

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Roupas civis

Em todos os lugares, nos campos, no mato ou na estrada próxima, buracos de granadas, restos de bombas ou outros foguetes mortais, testemunhas dos intensos bombardeios.

Os soldados russos "estavam exaustos", especialmente "jovens que passavam fome". Eram quase 120 nesta área, dos quais "quarenta" foram feitos prisioneiros, disse o oficial de inteligência.

Quantos morreram?

Nenhum soldado ucraniano se aventura a dar um número preciso. O balanço do lado oposto parece deixá-los indiferentes. Um oficial evoca "dezenas" de russos mortos.

O que é certo é que as forças russas se viram cercadas de surpresa nesta parte leste da frente em torno de Kharkiv e, em particular, presas em Mala Rogan, segundo fontes concordantes.

O vilarejo foi recapturado no fim de semana, mas as operações de limpeza duraram quase três dias, casa por casa, enquanto muitos soldados russos se refugiaram em porões.

Nesta quarta-feira (30), uma ambulância começou a recolher os corpos em sacos plásticos: um perto de um ônibus, outros dois na entrada de um casebre visivelmente utilizado nas últimas semanas por soldados. Um deles vestia roupas civis sobre a calça cáqui. "Eles estavam lá há semanas, se vestiam como as pessoas daqui para se infiltrar melhor em nossas linhas", disse um policial ucraniano.

Poucos civis reapareceram nas ruas. Um casal conserta um telhado, danificado por uma bomba que fez uma cratera de 10 metros de diâmetro na ruela vizinha.

Velhas senhoras, com lenços de flores, recolhem laranjas, biscoitos e outros alimentos distribuídos pelo exército. Elas evocam cerca de trinta pessoas feitas reféns pelos soldados russos no primeiro andar da escola do vilarejo, incluindo meninas que "foram estupradas". Um velho, com gorro na cabeça, também reclama. Três soldados russos invadiram sua casa por dias. "Me dá um fuzil que eu mato um russo!", gritava.


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