Operação israelense no principal hospital de Gaza provoca temor pelos civis

Operação israelense no principal hospital de Gaza provoca temor pelos civis

Soldados interrogaram várias pessoas no hospital, revistaram mulheres e crianças chorando

AFP

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O Exército israelense entrou nesta quarta-feira (15) no hospital Al Shifa, o maior da Faixa de Gaza, com o objetivo de tomar o centro de comando do Hamas, o qual afirma ter sido instalado sob os edifícios do complexo médico, lugar de abrigo de milhares de palestinos. O imenso centro hospitalar da cidade de Gaza está há alguns dias no epicentro dos combates entre os integrantes do movimento islamista e as tropas de Israel, que prometeu "aniquilar" o Hamas em resposta ao ataque de 7 de outubro.

O subsecretário da ONU para Assuntos Humanitários, Martin Griffiths, pediu o fim da "carnificina" no território palestino, que, segundo, ele "alcança novos níveis de horror todos os dias". O conflito em Gaza é "uma guerra contra a existência dos palestinos", declarou o presidente da Autoridade Palestina, Mahmud Abbas.

Na manhã desta quarta-feira, dezenas de soldados israelenses entraram no hospital Al Shifa e pediram a "todos os homens com mais de 16 anos" que saíssem com "mãos para cima (...) e seguissem em direção ao pátio interno para rendição", segundo um jornalista colaborador da AFP.

Os soldados interrogaram várias pessoas no hospital, revistaram mulheres e crianças chorando e seguiram de quarto em quarto, com tiros para o alto, em busca de combatentes do Hamas. Os tanques israelenses, que cercavam o complexo há vários dias, entraram na área do hospital e foram estacionados diante de várias unidades, incluindo o pronto-socorro. Israel anunciou uma "operação seletiva e de precisão contra o Hamas em um setor específico do hospital Al Shifa".

O Exército afirmou que enviou ao Al Shifa equipes médicas que falam árabe para que "os civis utilizados pelo Hamas como escudos humanos não sofram nenhum dano". O vice-ministro da Saúde do Hamas, Yusef Abu Rish, pediu uma intervenção "imediata" da ONU e da comunidade internacional para acabar com a operação.

O Comitê Internacional da Cruz Vermelha afirmou, em um comunicado, que "está extremamente preocupado" e lembrou que "os civis devem ser protegidos a todo momento". Segundo a ONU, quase 2.300 pessoas estão no hospital Al Shifa, sem acesso ao abastecimento de água e sem energia elétrica, devido à falta de combustível para alimentar os geradores.

"Não há nenhum lugar em Gaza que não possamos alcançar", advertiu o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu. "Vamos alcançar e eliminar o Hamas e trazer de volta os reféns, duas missões sagradas", destacou o chefe de Governo durante uma visita a uma base militar em Israel. "Falaram que não chegaríamos aos arredores da Cidade de Gaza e chegamos. Disseram que não entraríamos em Al-Shifa e entramos", acrescentou.

Em 7 de outubro, o Hamas executou um ataque surpresa no sul de Israel e matou quase 1.200 pessoas, além de ter sequestrado quase 240, segundo as autoridades israelenses. Em resposta, Israel bombardeia a Faixa de Gaza diariamente. Mais de 11.300 palestinos morreram nos ataques, incluindo mais de 4.600 menores de idade, segundo o Ministério da Saúde do Hamas.

"Barbárie autorizada pelo silêncio"

Na terça-feira à noite, o Exército israelense anunciou que informou às "autoridades competentes de Gaza que todas as atividades militares no hospital deveriam acabar em 12 horas, mas que isto não aconteceu, infelizmente". A Casa Branca afirmou que o Hamas e seu aliado Jihad Islâmica, ambos considerados "terroristas" por Estados Unidos, União Europeia e Israel, "operam um núcleo de comando e controle em Al Shifa", mas reiterou que "hospitais e pacientes devem ser protegidos".

O Hamas nega todas as acusações e insistiu em que as afirmações americanas davam "sinal verde" a Israel "para cometer novos massacres". O diretor do hospital Al Shifa, o médico Mohammed Abu Salmiya, anunciou na terça-feira que ao menos "179 corpos" foram enterrados em uma vala comum. Para o governo da Jordânia, a incursão israelense "ilustra a barbárie autorizada pelo silêncio do Conselho de Segurança da ONU".

"Não salvará mais vidas"

A Faixa de Gaza está cercada por Israel desde 9 de outubro, o que deixou a população do território em condições humanitárias desastrosas, sem produtos básicos. A ONU informou que 200 mil palestinos fugiram do norte do território desde 5 de novembro, após a abertura de "corredores" de saída por parte de Israel. A organização afirma que 1,65 milhão dos 2,4 milhões de habitantes da Faixa estão deslocados.

Nesta quarta-feira, Israel permitiu a entrada de quase 23.000 litros de combustível no território palestino, com a condição de que serão utilizados apenas "para o transporte de ajuda", informou a agência da ONU para os refugiados palestinos (UNRWA, na sigla em inglês). "Isso não salvará mais vidas", escreveu o diretor da agência, Philippe Lazzarini, na rede social X.

A empresa palestina de telecomunicações Paltel anunciou a suspensão dos serviços por algumas horas, devido à falta de combustível. No centro da Faixa de Gaza, um novo ataque atingiu um edifício em Deir al Balah. "Encontramos apenas os restos mortais de mulheres e crianças", afirmou um morador da cidade, Awni al Duggi. Em Israel, a pressão para que o governo consiga a libertação dos reféns é cada vez maior. O Fórum das Famílias de Reféns e Desaparecidos exigiu, na terça-feira, um "acordo para trazer os reféns de Gaza de volta".


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